A marcha pelo impeachment de Trump
Tudo indica que ele vai se safar — o impedimento exige dois terços dos votos, e dificilmente 17 republicanos vão desafiar a ira dos eleitores trumpistas
Em procissão solene, como manda o figurino, deputados democratas encarregados da acusação cruzaram o Salão das Estátuas e a Rotunda do Capitólio para abrir, no plenário do Senado, os trabalhos do segundo pedido de impeachment do ex-presidente Donald Trump, desta vez por “incitação à insurreição”. A primeira ordem do dia foi votar se o processo era permitido pela Constituição, visto que Trump já não está mais no cargo. A decisão foi “sim”, por 56 a 44 votos — o que significa que, entre os 100 senadores divididos meio a meio na casa, seis republicanos foram favoráveis ao prosseguimento dos trabalhos. Segundo fontes não identificadas, o ex-presidente teria ficado lívido de fúria com a atuação pouco convincente de seus advogados. Agora começam as argumentações de parte a parte. Os democratas querem provar que um discurso de Trump pouco antes da invasão, aliado a outros chamados à violência em comícios e no Twitter, incitou a turba ao tumulto de 6 de janeiro. A defesa argumenta que o ex-presidente não pode ser responsabilizado porque nunca deu ordem de ataque. Tudo indica que Trump vai se safar — o impeachment exige dois terços dos votos, e dificilmente dezessete republicanos vão se atrever a desafiar a ira dos eleitores trumpistas. De férias forçadas na Flórida, Trump, de qualquer forma, amarga dois feitos inéditos: é o primeiro presidente americano a ser alvo de processo de impeachment duas vezes e o primeiro julgado depois de deixar a Casa Branca.
Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725