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A independência da Catalunha na visão de 6 catalães

Políticos separatistas chegaram a declarar a existência de uma nova república, mas a reação de Madri foi rápida, aprovando uma intervenção direta na região

Por Johanna Nublat Atualizado em 11 nov 2017, 18h24 - Publicado em 11 nov 2017, 18h24

A Catalunha foi sacudida, nos últimos meses, com o alcance do movimento independentista da região. O parlamento catalão declarou unilateralmente a independência da Espanha no final do mês passado, o que levou o governo espanhol a decidir pela intervenção direta na região. Eleições legislativas locais estão marcadas para 21 de dezembro, o que dará uma medida mais concreta da vontade da população.

VEJA esteve em Barcelona durante nove dias para investigar as raízes da identidade catalã e seu impacto no apoio à independência. Seguem alguns depoimentos obtidos pela reportagem.

1. Diego Montoro, 44 anos, empresário

A empresa de Diego Montoro fica no segundo andar de um prédio em Las Ramblas, em frente ao local onde foi deixada a furgoneta usada no ataque terrorista de agosto (Jonne Roriz/VEJA)

Os embates pela independência da Catalunha já afetaram o fluxo de turistas e, em particular, o movimento da casa de massagens que Diego tem em Las Ramblas. “Os separatistas não ouvem argumentos contrários, como o de que empresas podem deixar a região ou que teremos que sair da União Europeia. A posição deles é visceral, de orgulho.” Diego diz ter tido uma educa��ão mais ligada à Espanha e que se sente tanto catalão como espanhol. Em agosto, da janela de seu negócio, o empresário viu corpos espalhados imediatamente após o terrorista Younes Abouyaaqoub atropelar dezenas de transeuntes em Las Ramblas com um furgão. “Ficamos fechados aqui mais de seis horas, com os mortos na frente da nossa janela.” Diego afirma que o ataque não modificou em nada o andamento do processo que culminou na declaração unilateral da independência da região.

2. Adrià Alsina Leal, 35 anos, ativista da Assembleia Nacional Catalã e professor de jornalismo da Universidade Central da Catalunha

Adrià Leal rejeita a tese de que as escolas catalãs doutrinam as crianças para ampliar o apoio à causa separatista (Jonne Roriz/VEJA)

Virou independentista em 2008, quando trabalhava para o Estado espanhol. Diz que essa é uma prova de que, diferentemente do que apontam os críticos do movimento catalão, as escolas não exercem influência sobre a opinião dos jovens. “Eu fiz toda a escola catalã. Se tivesse sido doutrinado, teria saído dela independentista muito antes. A influência está no âmbito social.” Adrià afirma que a curva de crescimento do apoio à proposta da independência é uniforme em todas as faixas etárias e argumenta que, se houvesse a doutrinação nas escolas de que falam os unionistas, os mais jovens teriam manifestado apoio maior ao separatismo. O que difere espanhóis de catalães é o projeto de futuro, completa: “O nacionalismo espanhol defende uma Espanha monolíngue, monocultural, que se mostre para o mundo como uma nação central. Essa não é nossa realidade”.

3. Josep Lluís Bonet, 75 anos, presidente da produtora catalã de vinhos Freixenet

Empresários como Josep Lluís Bonet alertam para os riscos econômicos de uma eventual independência (Jonne Roriz/VEJA)

Supervisionando um negócio que vende 180 milhões de garrafas por ano, Josep avalia que a independência da Catalunha seria inconveniente da perspectiva econômica, com a provável saída da União Europeia, e consequentes insegurança jurídica e perda de mercados e competitividade. A separação seria negativa não apenas por isso, diz. “Somos catalães, mas, sendo catalães, somos espanhóis e europeus. Essa é nossa identidade. É evidente que há valores propriamente catalães, mas também queremos ter valores espanhóis e europeus, e estar mais presentes no mundo.” Bonet cogitou transferir a sede social da empresa para fora da Catalunha, acompanhando um movimento semelhante ao de outras 2.000 empresas, mas desistiu após Madri decidir pela interferência na região e brecar o movimento de independência.

4. Leonor Carvajal, 58 anos, diretora de escola pública

Na escola onde Leonor Carvajal é diretora, o catalão é a base da comunicação entre professores e alunos (Jonne Roriz/VEJA)

Foi com raiva e dor que Leonor respondeu às críticas dos unionistas de que as escolas da Catalunha doutrinam seus alunos para apoiar a independência. “As escolas que conheço não doutrinam, o que fazemos é ajudar no crescimento de pessoas livres, críticas e responsáveis. Ensinamos uma língua? Sim, com a intenção de que falem tão bem quanto o espanhol.” Ao falar sobre o movimento de separatismo, ela diz que seu objetivo original não era a independência, mas a conquista de mais liberdade e democracia para a região. “Mas esse estado respeitoso das identidades nacionais (catalã, andaluz ou basca) não é o espanhol.”

5. Josep Maria Ganyet, 52 anos, engenheiro e criador da campanha “keep calm and speak catalan”

Uma provocação feita no Twitter por Josep Maria Ganyet virou uma campanha em favor da língua catalã (Jonne Roriz/VEJA)

No final de 2012, Madri deixou a Catalunha em polvorosa com a proposta de ampliar o ensino de espanhol nas escolas, que usam o catalão como base. Em meio à polêmica, Josep adaptou a famosa frase inglesa e tuitou “keep calm and speak catalan” (fique calmo e fale catalão). A provocação viralizou, sendo impressa em posters e camisetas. “As pessoas são orgulhosas do modelo escolar que temos. Custou muito termos uma escola em catalão, e qualquer mudança soa como ameaça.” Ele é dos que acreditam que o que separa os catalães do resto da Espanha é o desejo por um modelo distinto de país. “Temos outros valores, que não são nem melhores nem piores.”

6. Josep Fontana, 85 anos, historiador e autor do livro “A Formação de uma Identidade: uma História da Catalunha”

É impossível pensar em uma independência pacífica da Catalunha, como foi proposto pelos independentistas, diz o historiador Josep Fontana (Jonne Roriz/VEJA)

A atual crise institucional da Catalunha é apenas mais um capítulo da histórica tensão entre catalães e a Espanha, explica o historiador. Ele evita se posicionar sobre o mérito da independência, e diz que é impossível acreditar numa separação pacífica da região. “Não se pode esperar, o que seria o passo necessário para a independência, que bastaria pedir ao governo central ‘faça o favor de retirar o Exército da Catalunha e resigne-se a perder o controle de uma parte do território que produz um percentual nada desprezível do PIB do estado’. É uma loucura”.

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