“Sempre tive amor pela Amazônia”
Indicada ao Prêmio Veja-se na categoria Inovação cria ferramentas que possibilitam aos povos indígenas ajudar no monitoramento de mudanças climáticas
Ane Alencar, natural de Belém do Pará, dedicou toda a vida profissional a estudar o comportamento do fogo na Amazônia. Ela é diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), ONG de desenvolvimento sustentável com sede em Brasília. Começou na organização como estagiária e hoje é referência internacional em sua área.
Tão logo concluiu a graduação em geografia na Universidade Federal do Pará (UFPA), aos 23 anos, Ane coordenou um estudo pioneiro do uso do fogo na Amazônia, entrevistando fazendeiros e mapeando focos. Chegou à conclusão de que a floresta pega fogo naturalmente, mas que em pelo menos 50% dos casos o incêndio poderia ser evitado se não existissem interferências humanas, como a exploração madeireira. O trabalho rendeu-lhe o feito raro de figurar, na mesma semana, na capa de duas das mais prestigiadas publicações científicas do mundo, a Science e a Nature.
Ela demonstrou que territórios indígenas e unidades de conservação têm um papel importante na manutenção do conforto climático da região. “Em grande parte dessas áreas protegidas há pessoas vivendo em harmonia com a floresta e com os recursos naturais. Então, por que não dar voz a elas?” Com essa ideia em mente, após concluir o doutorado, na Universidade da Flórida, Ane dedicou-se à missão de desenvolver ferramentas para que as lideranças indígenas ajudassem a monitorar as mudanças climáticas em suas terras. Surgiu daí o Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena (Somai), plataforma criada há três anos que apresenta, de forma facilitada, por meio de mapas, dados científicos sobre alterações no regime de chuvas e incêndios, entre outros.
Um dos braços do Somai é o aplicativo Alerta Clima Indígena, que cruza informações oficiais e atualizadas sobre as duas principais ameaças aos territórios indígenas: fogo e desmatamento. O aplicativo compara as incidências de queimada em diferentes períodos, analisa o regime de chuvas e permite que os índios informem a ocorrência de incêndios e desmatamentos em suas terras.
Cerca de 150 indígenas tiveram o aplicativo instalado em seu celular ou tablet e receberam treinamento para usá-lo, inclusive off-line. “Quase todos os jovens indígenas hoje têm Facebook, celular. Essa adesão à tecnologia nos permite engajá-los no processo de gestão territorial”, diz Ane. Em 2017, o Ipam começou a buscar maneiras de expandir a plataforma e fazer com que os alertas dos índios cheguem diretamente aos órgãos responsáveis, como a Funai e o Ibama. “Sempre fui ávida por conhecimento e sempre tive amor pelo meu país e pela Amazônia. Tudo o que fiz até hoje visou a melhorar a qualidade de vida dos meus conterrâneos amazônidas. As possibilidades de pesquisa no Brasil, hoje, são limitadas, principalmente para as mulheres. Mas nunca deixei de me sentir motivada a fazer aquilo de que gosto.”
https://www.youtube.com/watch?v=pmRde8-r6e4
Conheça os três candidatos nesta categoria. A votação está encerrada.