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Do direito de andar de bicicleta

Houve um tempo absurdo em que estar no guidão era coisa de homem

Por Manoela Miklos
Atualizado em 19 abr 2019, 07h00 - Publicado em 19 abr 2019, 07h00

Em 1895, um artigo científico publicado na renomada revista Scientific American propôs a questão singela: devemos permitir que mulheres andem de bicicleta? Não seria melhor, para preservá-las e zelar por sua saúde, mantê-­las afastadas do guidão? Ao final, o autor do estudo sugeria que era, sim, melhor proibir mulheres de dirigir bicicletas. O exercício físico necessário seria, de acordo com os especialistas, muito distinto daqueles com os quais as mulheres têm familiaridade — como o esforço muscular para operar, por exemplo, uma máquina de costura.

Para o cirurgião francês que assinava o artigo, o sexo feminino não estaria apto, por natureza, para conduzir bicicletas. Uma mulher não poderia realizar o que o autor chamava de “movimentos musculares violentos”. Esse é apenas um exemplo da narrativa fundacional da nossa sociedade, que sistematicamente nega à mulher possibilidades e oportunidades. “A mulher é diferente” é a versão menos agressiva dessa história. “A mulher é inferior” é a versão menos polida. Ambas as frases eram empregadas para cercear nossa liberdade de andar de bicicleta na virada do século XIX. Hoje, ambas persistem e continuam sendo parte do repertório dos que não nos querem no poder, na liderança, tomando decisões.

É fato: avançamos. Não há nenhuma empresa séria hoje que não esteja em alguma medida pensando em como incorporar noções como diversidade e inclusão em seu dia a dia. É resultado do fantástico desempenho das poucas mulheres que conseguem chegar aos postos superiores em ambientes corporativos e da força e exuberância do incansável movimento de mulheres por direitos.

Toda porta que escancaramos deve ser comemorada, mas ainda há muito que fazer rumo à igualdade. No que tange ao ambiente de trabalho, temos de seguir combativas, entendendo que os espaços de tomada de decisão estão em disputa. Uma das tarefas mais prementes é ter certeza de que departamentos de RH, direção e conselhos sejam fiéis às suas palavras e promovam de verdade diversidade e inclusão.

Diversidade no ambiente de trabalho significa aceitar, compreender e valorizar todas as experiências e trajetórias. Indivíduos de todas as cores, etnias, gêneros, idades, religiões, habilidades especiais, orientações sexuais e formações devem ter assento nas salas de reunião. E jamais devem ser diminuídos ao ocupá-lo. Inclusão, por sua vez, significa garantir que o ambiente de trabalho seja acolhedor, participativo, estimule a colaboração e o respeito.

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Pensadas em conjunto, diversidade e inclusão devem ser parte da missão, das estratégias e das práticas de toda corporação. Estudos em todo o mundo pipocam e comprovam que corporações que aderem a tais noções têm melhor desempenho em virtualmente todos os aspectos imagináveis.

Conseguimos conquistar o direito de andar de bicicleta. E não foi fácil. Hoje queremos dirigir a fábrica que a produz e ganhar o mesmo que nossos pares homens que realizam função semelhante. Nada nos deteve antes. Nada nos deterá agora.

Publicado em VEJA de 24 de abril de 2019, edição nº 2631

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