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Brasileiros compram vinícolas em Portugal e produzem rótulos elogiados

Em busca de qualidade e boas oportunidades de negócios, empresários passaram a investir pequenas fortunas nas quintas portuguesas

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 out 2021, 08h00

Os vinhos portugueses construíram nos últimos anos uma sólida reputação. Além da enorme quantidade de castas — são cerca de 300, entre nativas e estrangeiras —, eles se tornaram conhecidos pela qualidade recorrente das safras e pelos terroirs classificados pelo mercado como de “alto pedigree”. Não à toa, Portugal possui duas regiões protegidas pela Unesco como patrimônios mundiais da humanidade: a região do Alto Douro, onde é produzido o famoso vinho do Porto, e a Ilha do Pico, no Arquipélago dos Açores, onde nascem os também admiráveis vinhos do Pico. Com 192 000 hectares de área dedicada ao cultivo de uvas para produção vinícola, Portugal é hoje um dos principais mercados vitivinicultores da Europa. No ano passado, o país produziu 6,3 milhões de hectolitros, dos quais 47% foram exportados, o que resultou na movimentação de 846 milhões de euros — o mercado interno é maior, da ordem de 1,2 bilhão de euros.

Números como esses, associados à excelência lusitana no ramo, chamaram a atenção de diversos empresários brasileiros, que passaram a investir pequenas fortunas nas quintas portuguesas, como são chamadas as fazendas produtoras. O movimento ganhou ímpeto na mesma medida que os vinhos portugueses ganharam relevância no cenário internacional. “Os empresários buscam produzir vinhos de alta qualidade, e não apenas fazer bons negócios”, diz Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, entidade que tem a missão de difundir os rótulos do país. “Eles também acabam virando embaixadores dos vinhos portugueses, o que cria uma onda positiva entre os outros produtores locais.” É um ganha-ganha para todos os lados da história.

ALBERTO WEISSER E GABRIELA MASCIOLI - O ex-CEO global da Bunge e sua mulher são donos da Herdade de Coelheiros, propriedade no Alentejo que tem como foco produzir rótulos exclusivos. Eles agora possuem seis marcas próprias -
ALBERTO WEISSER E GABRIELA MASCIOLI – O ex-CEO global da Bunge e sua mulher são donos da Herdade de Coelheiros, propriedade no Alentejo que tem como foco produzir rótulos exclusivos. Eles agora possuem seis marcas próprias – (Jose Carlos Carvalho/.)

O empresário mineiro Rubens Menin, dono da construtora MRV e da CNN Brasil, e o executivo Cristiano Gomes, integrante do conselho de administração do Banco Inter, se associaram para comprar duas vinhas na região do Douro, a Quinta da Costa de Cima e a Quinta do Sol. “Não queríamos diletantismo ou aventura”, diz Gomes, que se mudou para Lisboa a fim de conduzir os negócios da Menin Wine Company. “Tinha de ser um negócio viável.” Após investimentos de cerca de 30 milhões de euros, as quintas foram modernizadas e profissionalizadas, e outras propriedades, como a tradicional Horta Osório Wines, também no Douro, acabaram sendo compradas. Entre os vinhos lançados pela Menin Douro Estates está o Douro’s New Legacy, vendido no mercado brasileiro por cerca de 2 000 reais.

A ideia de produzir rótulos exclusivos é o que motivou o alemão-brasileiro Alberto Weisser, ex-CEO mundial do grupo Bunge, a adquirir a Herdade de Coelheiros, uma propriedade com 800 hectares no Alentejo e cuja história remonta ao século XV. Ele e a mulher, Gabriela Mascioli, queriam levar o negócio a outro patamar. Para isso, reestruturaram a quinta e contrataram enólogos profissionais, além de reduzir a produção anual de 400 000 garrafas para 60 000 e eliminar catorze marcas para ficar com apenas seis. Um dos indicativos do sucesso obtido pelo casal foi o aumento da pontuação dos vinhos na escala do renomado crítico Robert Parker, que vai de zero a 100: o tinto Tapada de Coelheiros Garrafeira, por exemplo, atingiu 93 pontos e pode ser encontrado a 1 140 reais.

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RUBENS MENIN - O dono da construtora MRV se uniu a Cristiano Gomes, conselheiro do Banco Inter, para comprar duas quintas no Douro que deram origem à Menin Wine Company. Um de seus tintos mais conhecidos, o Douro’s New Legacy, é vendido por 2 000 reais -
RUBENS MENIN – O dono da construtora MRV se uniu a Cristiano Gomes, conselheiro do Banco Inter, para comprar duas quintas no Douro que deram origem à Menin Wine Company. Um de seus tintos mais conhecidos, o Douro’s New Legacy, é vendido por 2 000 reais – (@menindouroestates/Facebook)

Um dos pioneiros em terras portuguesas, o empresário André Esteves, sócio do BTG Pactual, está no ramo há quase uma década. Em 2012, após comprar a vinícola Argiano, em Montalcino, na região italiana da Toscana, ele entrou como sócio de um grupo de investidores na Quinta da Romaneira, que tem 412 hectares de área e mais de 3 quilômetros à beira do belíssimo Rio Douro. Apaixonado por vinhos, Esteves comprou 80% da propriedade por um valor estimado em 20 milhões de euros. Dirigida pelo britânico Christian Seely, ela possui um portfólio que inclui vinhos tintos, brancos, rosé, do Porto e até azeites. A maior parte das bebidas tem pontuação maior ou igual a 90 na escala de referência do americano Robert Parker — e a operação é lucrativa. Os vinhos continuam sendo portugueses, mas eles agora ao menos contam com um retrogosto brasileiro.

Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760

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