Real Madrid e Barcelona disputam muito mais que um jogo
Rivalidade de madrilenhos e catalães tem origens históricas e causas políticas
O choque de posições políticas alcançou seu ponto mais crítico durante a ditadura de Francisco Franco, entre 1938 e 1975
Se o lema do Barcelona é “mais que um clube” – ou, em catalão, més que un club -, o superclássico com o Real Madrid é muito mais que um jogo. Além da rivalidade no plano esportivo, cultivada em quase um século de duelos (o primeiro foi disputado em 13 de maio de 1902, com vitória catalã por 3 a 1), as agremiações travam um combate que extrapola os limites do gramado. Real e Barça representam não só as duas maiores cidades da Espanha como também filosofias políticas conflitantes. Ainda que esse confronto ideológico não seja travado abertamente pelos próprios clubes, a identificação de suas cores com essas posições históricas opostas é inevitável para os espanhóis.
Principal equipe da capital, o Real é fortemente identificado com o nacionalismo espanhol. Para boa parte dos moradores do país – e para os catalães em especial -, o time de Madri representa o poder estabelecido. O outro lado da moeda é o nacionalismo catalão, representado pelo azul e grená do Barça. E esse choque de ideias alcançou seu ponto mais crítico durante a ditadura de Francisco Franco (1939-1975), justamente quando o time catalão adotou o slogan do “mais que um clube”. Como a cidade de Barcelona se opunha ao regime fascista – que combatia os idiomas e identidades regionais, como a dos catalães -, as vitórias do clube sobre o inimigo de Madri sempre tinham gosto especial.
A história do Barça sob o regime franquista guarda uma página sangrenta: o assassinato de Josep Sunyol, presidente do clube, pelas tropas do ditador. A presidência da equipe catalã chegou a ser ocupada por um cartola indicado por Franco – período em que, inclusive, o clube abriu mão de contar com o craque Alfredo di Stéfano, nos anos 1950. O caso, aliás, é um dos episódios mais famosos dessa rivalidade. Os dois times foram à Fifa dizendo ter contratos assinados pelo atacante. Como não se sabia quem tinha razão, a Fifa mandou Di Stéfano jogar uma temporada em cada clube. O presidente-biônico do Barça aceitou ceder o argentino – que virou o maior ídolo da história do Real.
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