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Presos constroem futuro junto aos estádios do Mundial Brasil-2014

Por Por Anella Reta
20 dez 2011, 14h51

“A minha vida volta a começar agora”, afirma com a cabeça erguida Thiago Elias Ferreira, um dos presos que trabalha nas obras de reconstrução do estádio de Belo Horizonte, uma das sedes do Mundial de Futebol de 2014.

Com o rosto rachado pelo sol e os olhos vidrados, Thiago, de 26 anos e integrante de um programa para reinserção de detidos, se arrepende de seus dias de narcotraficante e vê em seu trabalho como responsável pelas ferramentas “uma grande oportunidade que pretendo jamais descartar”, conta à AFP.

Thiago é um dos 16 detidos de uma prisão de Belo Horizonte, a capital do estado de Minas Gerais e sexta maior cidade do Brasil, que acordam diariamente às 04H00 para se unir aos outros 1.500 trabalhadores no estádio “Mineirão”, que deve ser inaugurado no fim de 2012 para receber a Copa das Confederações em 2013 e o Mundial em 2014.

Em troca de cada três dias trabalhados, cada prisioneiro se beneficia com o desconto de um dia de pena.

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“Para nós que estamos no (regime) semi-aberto é uma grande oportunidade. E esse é o momento final que temos que abraçar e prolongar durante a nossa vida. Porque se continuarmos no crime existem dois caminhos: a cadeira de rodas ou sete palmos abaixo do chão”, afirma.

Após dois anos e cinco meses de prisão, o jovem está ansioso para sair em liberdade em fevereiro e continuar trabalhando no “Mineirão”, onde recebe cerca de 600 reais por mês com os quais ajuda a manter sua mãe, a esposa e o filho de um mês.

“Espero mostrar para ele (meu filho) tudo o que eu passei para ele não se envolver com coisas erradas assim como eu me envolvi, e dar a ele tudo o que eu não tive na minha vida”, explica, ao mostrar com orgulho as fotos de seu bebê guardadas em seu telefone celular. “Se Deus quiser vou ser uma pessoa bem-sucedida na vida”, espera.

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São cerca de 11H00 em Belo Horizonte e os operários que realizam um trabalho de formiga em meio à lama e aos escombros do “Mineirão” começam a deixar as ferramentas no depósito organizado por Thiago para ir ao refeitório.

Ali são aguardados diariamente por Francisco das Chagas Queiroz, mais conhecido entre os trabalhadores por “Chiquinho”, um veterano empregado responsável pela organização dos serviços.

Francisco, de 52 anos e preso há mais de 17 por roubar um banco, é um dos funcionários do mês por sua eficácia e dedicação ao trabalho.

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O reconhecimento de seus supervisores “é uma honra muito grande”, afirma com voz suave e tranquila enquanto preenche um formulário.

“Claro que vim para cá para fazer a diferença. E, graças a Deus, consegui fazer a diferença e (fazer com que) as pessoas gostem do que eu faço. Fui promovido após 12 dias (de trabalho) para ajudar a coordenar as coisas”, explica.

Trabalhar “na obra para mim é uma honra. Ter um destaque em uma empresa grande. Está sendo uma coisa gostosa”, afirma, ressaltando que espera continuar trabalhando no local quando sair da prisão, em janeiro.

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O popular funcionário não se arrepende de seu crime e afirma que “hoje sou o que sou pelas dificuldades que passei”.

Este ex-comerciante tem uma jornada cansativa, que começa às 05H00 no estádio, continua às 18H00 na Faculdade de Enfermagem, onde cursa o terceiro semestre, e termina às 23H30 com seu retorno à penitenciária.

“Quando você estuda fora (da prisão), a ressocialização é melhor”, opina.

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Olhando para o seu passado, Francisco relata que começou a roubar na década de 1980 quando era guerrilheiro, durante a ditadura militar (1964-1985). Conta que em 1977 ou 1978 conheceu a também ex-guerrilheira e hoje presidente Dilma Rousseff.

Dilma “era terrível, no bom sentido”, diz. “Arriscava sua vida pelas pessoas, pela causa de outros”, explica com admiração.

Sereno, “Chiquinho” destaca que sua libertação em janeiro será sua “grande vitória”: “Uma pessoa está sempre esperando que chegue a hora”, disse.

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