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Os brutos também choram

Marcados pelo rigor e disciplina, judocas da Ásia Central não escondem a frustração com a derrota

Por Daniel Hessel Teich
Atualizado em 8 ago 2016, 13h40 - Publicado em 7 ago 2016, 20h12

Nascido na cidade de Lankaran, a 12ª do Azerbaijão, uma das repúblicas da antiga União Soviética, o judoca Orkhan Safarov, 24 anos, já teve uma grande conquista de sua carreira vinculada ao Rio de Janeiro. Foi aqui que, em 2013, ele conquistou o terceiro lugar no Campeonato Mundial de Judô, peso ligeiro, de até 60 quilos. Era natural que a expectativa do atual campeão do Grand Slam, principal competição antes da Olimpíada, fosse alta quanto ao desempenho nos Jogos do Rio. Seus amigos brincavam em mensagens publicados em seu perfil no Facebook que o Brasil lhe dá sorte. E Safarov começou bem na disputa pelo pódio, no último sábado. Venceu o peruano Juan Postigos, o quirguiz Otar Bestaev e passou pelo brasileiro Felipe Kitadai, derrotado com um ippon aos 2m54s. Chegou ao cazaque Yeldos Smetov. Aos 4m39s, o rival marcou um wazari, que definiu a luta. A Safarov restava apenas a chance do bronze. Quando cruzou com o japonês Naohice Takato, subiu ao tatame sem a mesma confiança dos primeiros embates. Foi uma luta de igual para igual, em que uma única penalidade cometida por Safarov fez a diferença. Ele simplesmente desabou e chorou como criança antes mesmo do encerramento formal do embate. Não tinha condições sequer de cumprimentar o oponente. À saída do tatame, era a  encarnação da desolação, sentado à beira do tablado com as mãos escondendo o rosto, enquanto soluçava compulsivamente. Classificado em quinto lugar, não houve pódio dessa vez.

Para chegar à condição de atletas de alto desempenho, jovens como Safarov enfrentam uma vida de rigores e privações, principalmente em se tratando de países que foram parte do ex-império soviético. Acomodados na arquibancada, compatriotas vindos dos confins da Ásia gritavam em línguas incompreensíveis para 99,9% da audiência e pulavam, desfraldando bandeiras exóticas em cores chamativas. Tal contexto transformou a disputa pela medalha em um caldeirão de alta pressão, onde a decepção com a derrota assume contornos insuportáveis. Felipe Kitadai não escondeu os olhos marejados quando ajoelhou-se na lateral do tatame e viu a chance de repetir o feito de Londres, em 2012, quando conquistou o bronze,  escapar-lhe das mãos. Mas nada que chegasse perto dos oponentes da Ásia Central. Vindo de um país que se transformou em potência esportiva nos anos do comunismo, onde clãs nômades se divertem com jogos a cavalo e caçam com falcões, Smetov, o judoca do Cazaquistão, de apenas 23 anos, já enfrentou adversidades como machucar o joelho aos 17, o que o deixou fora dos tatames por longos meses, e enfrentou uma cirurgia em 2013. Talvez por isso mesmo,  ver o ouro escapar-lhe das mãos por obra do russo Beslan Mudranov, caiu em um choro desbragado. Soluçando descontroladamente, acabou recorrendo ao ombro do oponente, que, sete anos mais velho, o consolou passando a mão em sua cabeça.

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