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O futuro do esporte brasileiro nas mãos de jovens atletas

Delegação brasileira embarca nesta segunda-feira para Cingapura e sonha com a chance de defender o Brasil no Rio, em 2016, nas categorias principais

Por Flávia Ribeiro
1 ago 2010, 18h01

“Nunca mais toquei em bebida e em droga desde o dia em que comecei a treinar. Meu pai e minha mãe tinham um filho perdido no mundo. Este ano, eles têm um filho que vai conhecer o mundo”, define Joseílton Cunha, do atletismo

Aos 16 anos, Joseilton Cunha já havia abandonado a escola e tentado, sem sucesso, ser jogador de futebol e pedreiro. Acabou trabalhando como vaqueiro e motorista de trator em fazendas do Mato Grosso. Nas horas vagas, bebia e se drogava. Foi quando, numa fazenda em que seu alojamento sequer tinha água corrente, sentiu que precisava mudar de vida. Voltou à escola para terminar o ensino fundamental em sua cidade, Barra do Garças. Logo nos primeiros dias, o professor de educação física o convidou para participar de uma corrida. O garoto, que nunca havia praticado atletismo, impressionou um treinador local, Severino Souza dos Santos, que o chamou para treinar com seu grupo. Três meses e meio depois, Joseilton já era campeão do Brasileiro Juvenil Interclubes, nos 800m. Logo depois, ficou em terceiro no Brasileiro Juvenil. E, no início deste ano, ficou em primeiro lugar na seletiva sul-americana dos 1000m para a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Juventude, que acontecem em Cingapura, no Sudeste Asiático, entre os dias 14 e 26 deste mês.

Joseilton, agora com 17 anos, viaja com a maior parte da delegação brasileira na madrugada desta segunda. Vai primeiro para Dubai, nos Emirados Árabes, onde 37 atletas de dez modalidades farão treinos de aclimatação até dia 10, quando seguem para Cingapura. O restante da delegação fará a preparação final em diferentes locais. “Tudo isso aconteceu em um ano. Para mim foi muito bom, porque nunca mais toquei em bebida e em droga, desde o dia em que comecei a treinar com o Severino. Meu pai e minha mãe estão muito felizes. No ano passado, eles tinham um filho perdido no mundo. Este ano, eles têm um filho que vai conhecer o mundo”, define Joseílton, Em dezembro, ele passará a morar e treinar no centro de treinamento que a Confederação Brasileira de Atletismo mantém em Uberlândia (MG).

O ídolo de Joseílton é o campeão dos 800m das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, Joaquim Cruz. O rapaz, assim como os 80 outros jovens brasileiros que estarão em Cingapura, é uma das promessas do esporte nacional, já de olho nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, daqui a seis anos – e, em alguns casos, pensando já em Londres, em 2012. Participarão da competição cerca de 3.600 atletas de 205 países. Para esses meninos e meninas, os Jogos Olímpicos da Juventude servem como um aperitivo para voos mais altos. “Espero que seja uma prévia de uma Olimpíada de verdade. Vai ser uma das competições mais importantes da minha vida. Vou conhecer gente de todos os esportes, do mundo todo, para um dia chegar numa Olimpíada mais madura. E vai ter muito olheiro lá, pode ajudar até em patrocínio”, acredita a nadadora Alessandra Marchioro, de 17 anos, que disputará as provas de 50m e 100m livre, 50m peito e dos revezamentos normal e misto.

Essa é uma das inovações dos Jogos da Juventude. Alguns esportes, como natação e atletismo, terão revezamentos com a participação de meninos e meninas. Outros formarão equipes com atletas de diferentes países. Além disso, não haverá quadro final de medalhas. O objetivo é a celebração do esporte de alto nível, sem a pressão de uma olimpíada normal, embora os participantes já estejam acostumados à pressão. A maioria disputa provas internacionais há anos.

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Promessas do esporte – Há até nomes já conhecidos, como o do tenista Tiago Fernandes, 17 anos, primeiro brasileiro a vencer um torneio do grand slam juvenil em simples – o Austrália Open deste ano – e a chegar a primeiro do ranking mundial em sua categoria. Esses feitos lhe garantem a posição de cabeça de chave número 1 em Cingapura e de maior promessa do nosso tênis, desde Gustavo Kuerten.

Tiago se reunirá à delegação depois de participar de um torneio na China. Assim como ele, outros brasileiros sairão de campeonatos internacionais direto para Cingapura. Como os judocas Flávia Gomes, de 16 anos, campeã mundial em 2009, e Henrique Silva, de 17, vice-campeão mundial, que estão na República Tcheca; ou a ciclista Mayara Perez, de 17 anos, bicampeã mundial (2002/2006) em sua categoria, que irá para os Jogos direto da África do Sul.

Alessandra Marthioro e Carolina Bergamachi
Alessandra Marthioro e Carolina Bergamachi (VEJA)

A velejadora Cláudia Mazzaferro, de apenas 14 anos, campeã mundial sub 15 de Laser no ano passado, chegou da Itália, onde disputou o Campeonato Europeu de Byte, direto para o hotel onde a maior parte da delegação se reuniu em São Paulo, antes de viajar para Dubai. A menina veleja desde os sete anos, quando foi obrigada pelo pai, o empresário italiano radicado em São Paulo Maurício Mazzaferro, a praticar o esporte. “Eu odiava. Passei três anos chorando, implorando para não ir para o barco. Com dez anos, então, me apaixonei. Nem sei explicar. Meu pai hoje me olha e diz: ‘Viu? Você tem que me agradecer!'”, conta ela, lembrando que o irmão mais velho, Stéfano, de 18 anos, não vai a Cingapura, mas também mira os Jogos Olímpicos no futuro: “Ele foi quarto colocado no Mundial de Laser este ano, na Escócia. Meu outro irmão, Carlos, de 16 anos, é bicampeão brasileiro de Optimist, mas parou de velejar. Não sei se volta”.

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Os atletas da delegação brasileira dos Jogos Olímpicos da Juventude sabem bem o que é fazer sacrifícios em nome do esporte. A nadadora Carolina Bergamaschi, de 16 anos, teve que sair da casa dos pais, em Santa Catarina, aos 13. Foi quando ela se mudou para Curitiba, para treinar no Curitibano. Passou dois anos e meio morando na casa de Alessandra Marchioro, hoje sua melhor amiga, quase irmã, como as duas dizem. Há dois meses, mudou-se para uma república com mais cinco nadadoras. “No começo foi duro. Não via meus pais toda semana, não podia sair à noite com os amigos… Mas vi que tudo vale a pena. Minha mãe, Cristina, foi jogadora de basquete, também saiu de casa cedo para morar em república. Ela me ajudou a me acostumar com isso”, lembra Carolina, que em Cingapura vai nadar os 50m livres, os 50m peito e os revezamentos.

Harumy Freitas
Harumy Freitas (VEJA)

A ginasta Harumy Freitas, de 15 anos, não precisou sair de casa, já que mora e treina em Curitiba. Uma das dez meninas que fazem parte da seleção permanente de ginástica artística, Harumy, no entanto, sente as pressões de um esporte no qual aos 20 anos já se é considerada velha. “No ano que vem, quando fizer 16 anos, deixo de ser juvenil. Treino desde os sete anos. E, na seleção, a rotina de treinos é dupla: de segunda a sexta, 8h às 12h, depois estudo da 13h15 às 16h30, com professores particulares, e mais treino de 16h30 às 18h30. Aos sábados, é só de manhã. E geralmente tem competição aos domingos”, conta ela, que não esconde a expectativa pelos Jogos Olímpicos da Juventude: “Acho muito legal a convivência com outros esportes, entender como é a rotina do outro, trocar experiências”, comenta Harumy, que conquistou a única vaga feminina para a ginástica brasileira na competição – entre os meninos, o classificado foi Arthur Mariano, de 17 anos.

Essa é outra característica dos Jogos. Em muitos esportes, há apenas uma vaga no feminino e outra no masculino, por país. Além disso, cada país participante teve que optar pelo esporte coletivo que tentaria classificar. O Brasil optou pelo handebol, que comparecerá com as equipes feminina e masculina.

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