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Início de Tite e Jesus é excepcional – mas história pede cautela

Treinador e atacante alcançaram marcas incríveis, mas empolgação exagerada pode atrapalhar. Hexa na Rússia é possível, mas segue distante

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 out 2016, 11h55 - Publicado em 12 out 2016, 11h45

Nas redes sociais, o “cheirinho de hexa” já começa a se espalhar. A empolgação com o início do trabalho do técnico Tite na seleção brasileira já dá ao torcedor mais apaixonado (e volúvel) o direito de sonhar com o título mundial na Rússia, em 2018. No entanto, a história e, sobretudo, o bom senso pedem um pouco mais de pés no chão, como o próprio treinador insiste em suas entrevistas. As vitórias contra Equador, Colômbia, Bolívia e Venezuela fizeram o Brasil subir da sexta para a primeira colocação das Eliminatórias, mas não são testes à altura de uma redenção pós-7 a 1. O bom início de trabalho também fez surgir um candidato a ídolo: Gabriel Jesus, 19 anos, quatro gols em quatro partidas e já dono da camisa 9. Exemplos recentes, porém, como Alexandre Pato ou Leandro Damião, mostram que não se pode alçar um jovem promissor ao posto de craque de uma hora para outra. O hexa é possível, mas ainda está bem distante.

Gabriel Jesus e Tite alcançaram marcas impressionantes. O atacante do Palmeiras se tornou o jogador mais jovem da história a marcar quatro gols nas Eliminatórias (o primeiro antes dos 20 anos), ultrapassando o peruano Jefferson Farfán e o argentino Sergio Aguero. Já o treinador gaúcho igualou marca de Zezé Moreira, João Saldanha e Telê Santana, os únicos a vencer suas primeiras quatro partidas em Eliminatórias – os dados são de Mister Chip, apelido do jornalista espanhol Alexis Martín Tamayo, especialista em estatísticas do esporte, que faz sucesso no Twitter. Vale lembrar que tanto os antecessores de Jesus quanto os de Tite jamais conquistaram uma Copa do Mundo (Zezé e Saldanha iniciaram os ciclos, mas foram demitidos antes das Copas de 1958 e 1970, respectivamente).

O principal feito de Tite e Jesus, no entanto, não é uma estatística, mas uma percepção subjetiva: a dupla “roubou” o protagonismo que antes era exclusivo de Neymar. O técnico conseguiu a proeza de dar uma entrevista coletiva sem que uma pergunta sequer fosse relacionada ao atacante do Barcelona. O time, inclusive, passou no primeiro teste contra a “Neymardependência”: com o astro, mais uma vez, suspenso por acúmulo de cartões, o Brasil venceu a Venezuela fora de casa. O time não foi brilhante e o adversário é o lanterna da competição, mas é o mesmo que causou problemas ao time de Dunga na Copa América de 2015 (vitória apertada por 2 a 1).

O legado (ou a falta dele) de Dunga, inclusive, joga bastante a favor de Tite. Sua segunda passagem como treinador da seleção – uma escolha absolutamente injustificável – funcionou como “o bode na sala” para a CBF. Tal teoria diz que quando se há um problema (uma sala pequena), é interessante arranjar outro maior (colocar um bode nesta sala), para depois se livrar do problema maior e assim ter a impressão de que questão anterior também foi solucionada.

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Tite trabalha com um grupo bem semelhante ao de Dunga – dos titulares, apenas Paulinho (justamente o mais criticado) e Gabriel Jesus (o mais exaltado) não foram chamados pelo antecessor. O ex-treinador do Corinthians deu padrão à equipe e, com sua personalidade afável, conseguiu trazer os atletas, e também a opinião pública, para seu lado (algo que evidentemente não ocorria com Dunga). No entanto, isso era o que se esperava de qualquer treinador acima da média.

Apesar da liderança e do horizonte positivo, o time de Tite ainda precisa de acertos, especialmente no setor visto como sagrado para o técnico. Casemiro deve ser o principal entre os meio-campistas do esquema 4-1-4-1, mas se lesiona com frequência. Fernandinho, em grande fase no Manchester City, pode ser um bom substituto, mas seu passado (foi um desastre no 7 a 1) não é animador. Paulinho, homem de confiança do técnico, não foi bem em nenhuma das três partidas que fez e atua na fraca liga chinesa. Outro “chinês” da equipe, Renato Augusto iniciou muito bem, mas caiu de rendimento nas últimas partidas, assim como Philippe Coutinho – que conquistou, com justiça, a vaga de titular, mas foi infeliz diante da Venezuela.

A defesa é o setor que menos preocupa (levou apenas um gol) e o ataque com Neymar e Gabriel Jesus vem encantando. No entanto, o futuro do atacante de 19 anos ainda é incerto. Em janeiro, ele se juntará ao Manchester City, onde enfrentará forte concorrência pela titularidade. Por outro lado, poderá se desenvolver ainda mais sob o comando de Pep Guardiola. Os exemplos de Alexandre Pato e Leandro Damião, que deslumbraram no início e depois foram um fiasco na seleção, sugerem cautela. Gabriel Jesus pode se tornar um craque, mas ainda não é.

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