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Há 30 anos, última Seleção que deu espetáculo fazia o Brasil chorar

Por Da Redação
4 jul 2012, 08h03

Um espetáculo com um final trágico. A trama desta história poderia facilmente se encaixar em qualquer peça teatral. O tema em questão gira em torno da Seleção Brasileira de 1982, apontada como uma das equipes mais emblemáticas de toda a história. Há 30 anos, o time que encantou até mesmo os seus adversários era derrotado por 3 a 2 pela Itália, no estádio do Sarriá, em Barcelona, e deixava milhões de brasileiros órfãos de um time que representasse o seu País à altura.

Os três gols marcados por Paolo Rossi na partida disputada no dia 5 de julho de 1982 marcariam o início de uma nova era no futebol. A Seleção Brasileira vinha de atuações memoráveis na Copa do Mundo da Espanha e arrastava multidões por onde passava. Antes desta fatídica segunda-feira, a equipe havia vencido todos os seus jogos – com destaque para a exibição de gala no triunfo por 3 a 1 sobre a Argentina -, e anotado 13 gols, sendo vários dotados de uma beleza plástica incontestável. Com este retrospecto, o time esbanjava confiança e vinha para o duelo como o grande favorito ao título.

Entretanto, o sonho do tetracampeonato sucumbiu perante o forte esquema defensivo do técnico italiano Enzo Bearzot. O pragmatismo e o jogo pelo resultado prevaleceram diante do futebol-arte e sentenciaram o fim das exibições vistosas que Telê Santana imprimia ao seu time. ‘Nós olhávamos perplexos para o campo e os espanhois ao meu lado não acreditavam naquilo. Eles comentavam entre si: ‘Se acabo el futbol”, relata Valdir de Moraes, braço direito de Telê na comissão técnica da Seleção de 8

Às vésperas de mais um aniversário deste cruel episódio, a Gazeta Esportiva.Net relembra o enredo do espetáculo brasileiro na Espanha e narra com o auxílio de algumas de suas personagens os momentos que fizeram o Brasil sorrir, cantar e chorar com as atuações de jogadores que ficaram para sempre eternizados na memória do torcedor.

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Prólogo – O início da magia

O ano era 1979. No dia 31 de outubro, a Seleção Brasileira empatava com o Paraguai por 2 a 2, no Maracanã, e perdia o título da Copa América. O fracasso no torneio custou o cargo do treinador Cláudio Coutinho e iniciou uma nova fase no futebol nacional. Treinador do Palmeiras, Telê Santana despertou o desejo da CBF e foi chamado para assumir a equipe que já contava com jogadores como Paulo Roberto Falcão, Zico e Sócrates.

Acompanhado de sua comissão técnica, Telê Santana passou a juntar as peças deixadas por Coutinho e dar liga àquele time que surpreenderia a sua torcida com o modo como se comportava dentro de campo. O primeiro teste de fogo foi no dia 8 de junho de 1980, com uma vitória por 2 a 0 sobre o México, no Maracanã. Apesar de ter sido derrotado pela União Soviética no jogo seguinte, o Brasil ainda acumularia seis vitórias e um empate naquele ano. O início do ano seguinte, entretanto, viria com o amargo fracasso na final do Mundialito de Seleções, vencido pelo Uruguai, em janeiro de 1981.

Mesmo com o revés, a equipe seguiu implacável nas eliminatórias para a Copa do Mundo da Espanha e adquiriu todo o seu favoritismo para a competição com a turnê europeia que realizou em maio de 1981. A Seleção seria a primeira equipe sul-americana a vencer a Inglaterra em Wembley, com Zico marcando o único gol deste triunfo, e ainda derrotaria a França por 3 a 1, em Paris, e a Alemanha Ocidental por 2 a 1, em Stuttgart. Diante dos alemães, Waldir Peres consolidaria a sua titularidade depois de defender dois pênaltis cobrados pelo ídolo Paul Breitner.’O Telê não gostava de treinar contra times fracos. Ele gostava de jogar com times fortes para ver como os jogadores reagiriam diante desse tipo de adversário’, conta Valdir de Moraes, preparador de goleiros daquela Seleção. ‘O nosso maior treinamento era em amistosos como esses. Os próprios jogadores se sentiam muito bem com vitórias como aquelas. Era um sinal de que o trabalho estava dando resultado’, acrescenta Toninho Cerezo.

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Com este retrospecto, o Brasil seguiria forte e conquistaria bons resultados antes do Mundial da Espanha. Classificado sem encontrar qualquer dificuldade, o time ficou dois meses treinando junto na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, e terminou sua preparação com um breve trabalho realizado em Portugal. Paulo Roberto Falcão, da Roma, e Dirceu, do Atlético de Madri, se uniram ao time neste período e partiram com a equipe para Sevilha, onde a Seleção se abrigou antes do início da Copa.

1Ato – A Espanha se rende ao talento brasileiro

‘Quando cheguei ao primeiro treino do Brasil, vi centenas de meninos espanhois ávidos por um autógrafo. Eles aplaudiam os jogadores e gritavam: ‘Campeón! Campeón!’. Não entendi muito bem. Afinal, a Espanha está na Copa?’. Foi assim que Paulo Roberto Falcão relatou a chegada do Brasil ao país que sediava o Mundial, em entrevista concedida para A Gazeta Esportiva de 9 de junho de 198

Choque de estrelas?

Uma crise de relacionamento entre os jogadores que participaram da Copa de 1982 nunca foi admitida pelos atletas, mas alguns episódios dão conta de que o clima entre algumas peças do plantel brasileiro não era dos melhores. A possível rixa no elenco foi reascendia 30 anos depois pelo ex-zagueiro Luisinho, que disparou contra o seu companheiro de posição Edinho.

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‘O ambiente era muito tranquilo. A única coisa ruim era o fato do Edinho querer tomar o meu lugar no grito. Ele achava que tinha que jogar e dava entrevistas para a televisão e o rádio na tentativa de me tirar do time. A esposa dele também fez a mesma coisa e isso não é normal. É antiético ter uma atitude desse tipo’, destacou o antigo defensor da Seleção.

Surpreso com as críticas, Edinho procurou se defender e negou a existência de qualquer problema interno no grupo. ‘Eu fico surpreso com isso. Depois de 30 anos ele vir com esse fato agora. Isso não é verdadeiro. A minha esposa nem estava lá na Espanha e nunca deu entrevistas. É estranho, porque a convivência era muito boa.’

Desfalcado de Careca, que havia sofrido uma distensão muscular em um dos treinos, o time recebeu Roberto Dinamite para o banco de reservas e sofreu uma alteração de última hora. Dirceu entrou no lugar de Paulo Isidoro e passou a formar dupla de ataque com Éder para a estreia contra a União Soviética, no dia 14 de junho.

‘Eu fiquei decepcionado. O Telê me cobrava muito para que eu chegasse ao ponto que ele queria e exigiu muito de mim durante a preparação da equipe. O próprio Zico elogiava o meu trabalho dentro de campo. Eu estava em uma condição bem superior à do Dirceu e ele colocou um canhoto para jogar no lado direito’, relata o incrédulo Paulo Isidoro.

Com esta mudança, a equipe entrou em campo para medir forças com os soviéticos e saiu atrás no placar depois de Andrey Bal chutar de fora da área e Waldir Peres engolir um frango histórico. ‘Falha acontece com todo mundo, mas é imperdoável no gol. Ele sofreu o gol num jogo que ganhamos e paga o pecado até hoje’, diz Valdir de Moraes. No entanto, a equipe foi impecável no segundo tempo e conseguiu a virada com dois golaços marcados por Sócrates e Éder.

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No dia 18, o Brasil voltou a campo para enfrentar a Escócia e mais uma vez sofreu um gol antes de marcar. David Narey concluiu após envolvente troca de passes de sua equipe no meio-campo e deu um lampejo de esperança ao seu time. Contudo, o estilo de jogo ofensivo dos comandados de Telê Santana garantiu a elástica vitória por 4 a 1 com os gols anotados por Zico, no primeiro tempo, e Oscar, Éder e Falcão, durante a etapa complementar.

Classificada de forma incontestável, a Seleção cumpriu tabela contra a Nova Zelândia, o ‘saco de pancadas’ do Grupo F. No dia 23 de junho, uma nova goleada por 4 a 0, com gols marcados por Zico, duas vezes, Falcão e Serginho Chulapa, levou a equipe favorita ao título para a disputa de uma vaga nas semifinais, em uma chave que contaria com a presença de Argentina e Itáli

‘Aquele time ficou conhecido, porque jogava sempre para a torcida. Essa forma de entrar em campo fez com que nós recebêssemos muito carinho lá na Espanha. Eu ainda digo que o pessoal sempre guarda a Seleção de 82 na memória, porque os jogadores atuavam todos no Brasil. Em 94 e em 2002, as equipes foram campeãs, mas não tinham contato com a torcida. Ninguém conhecia boa parte daqueles atletas’, analisa o zagueiro Oscar.2Ato – O ápice

O regulamento único que colocou Brasil, Itália e Argentina em uma mesma chave previa que apenas o líder do grupo se classificaria para as semifinais. No dia 29 de junho, os italianos de Enzo Bearzot derrotaram o time liderado pelo jovem Maradona por 2 a 1, com gols de Tardelli e Cabrini. A equipe sul-americana descontou com Passarella e passou a apostar todas as suas fichas no clássico contra o seu histórico rival canarinho.O tão esperado duelo foi agendado para o dia 2 de julho, no estádio do Sarriá, em Barcelona, e, definitivamente, não poderia ter sido melhor para o Brasil. A equipe que havia brilhado na Espanha atingiu o seu ápice no torneio e dominou o confronto do início ao fim. Embora os argentinos tenham chegado primeiro ao ataque com a cabeçada de Barbas, o cartão de visitas do que viria pela frente foi dado pela Seleção aos 11 minutos do primeiro tempo.

Serginho Chulapa recebeu de Éder no meio-campo e puxou contra ataque em velocidade. Passarella chegou firme e impediu o avanço do jogador com uma falta na intermediária. Na cobrança, Éder acertou uma bomba no travessão do goleiro Fillol. O chute forte fez com que a bola sobrasse na frente do gol, permitindo que Zico ganhasse de Júnior na corrida e concluísse sem dificuldades para o fundo das redes adversárias.

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‘O Brasil jogou todas as suas partidas muito bem naquele Mundial. Nunca deixamos de criar oportunidades e chegar ao gol do adversário. O time não fugia da sua mentalidade e por isso conseguia atacar com facilidade’, analisa Cerezo.

A vantagem no placar e a inspiração de Falcão naquela sexta-feira fizeram com que o Brasil anulasse a Argentina no restante do primeiro tempo. Em uma de suas principais jogadas no duelo, o ‘Rei de Roma’ acertou um lindo chute por cima da meta de Fillol após Sócrates ter ajeitado com o peito na entrada da área. Em seguida, Waldir Peres mostraria o porquê era o camisa 1 da Seleção ao dar uma ponte para espalmar a cabeçada argentina no último lance de perigo da etapa inicial.Na volta do intervalo, as duas equipes passaram a apostar nos chutes de fora da área e assustaram com Toninho Cerezo e Ramon Diaz. Entretanto, o lance que ampliaria a vantagem brasileira saiu de uma jogada toda construída no excelente entrosamento adquirido pela equipe de Telê Santan

Serginho Chulapa tomou a bola de Passarella no círculo central e tocou para Sócrates. O Doutor viu Éder passando na esquerda e rolou para o atacante, que encontrou Zico chegando para auxiliar. O camisa 10 recebeu e tocou na direita, onde Falcão corria livre de marcação. O meia invadiu a área e cruzou de forma precisa na cabeça de Serginho. Sem pestanejar, o atacante testou no canto de Fillol e anotou o segundo gol da Seleção na partida.

O Brasil balançaria as redes minutos depois, mas a decisão do árbitro em marcar falta sobre Zico antes do chute de Éder acabou invalidando o gol. O lance, no entanto, não faria falta ao time. Aos 30, Junior fez uma linda tabela com Zico e chutou rasteiro para ampliar o marcador. Na comemoração, a alegria daquela equipe passou a ser simbolizada pela clássica sambada do flamenguista perto da linha de fundo.

Soberana em campo, a Seleção passou a desfilar no Estádio do Sarriá e trocar passes com muita facilidade. O destempero emocional dos argentinos levou Passarella a entrar de forma criminosa em Zico, saindo impune após o violento carrinho. A falta de um cartão neste lance deixou o jogo tenso e culminou na expulsão de Maradona aos 40 minutos do segundo tempo. O Pibe se irritou com uma entrada de Batista em seu companheiro e acertou um chute em seu estômago.

‘O Maradona foi um gênio, nunca é fácil marcar um jogador como ele. Foi um alívio quando ele foi expulso. Era como se o Zico, o Falcão ou o Cerezo tivessem sido colocados para fora. Esses jogadores são realmente diferenciados e muito duros de marcar’, lembra o defensor Luisinho.

Após receber o cartão vermelho, Maradona foi para os vestiários e não viu Ramon Diaz descontar com um chute de fora da área aos 44 minutos. Mesmo com o gol sofrido, o Brasil havia provado a sua superioridade na Copa do Mundo e chegava ao decisivo confronto diante da Itália com a plena confiança de que passaria para as semifinais do torneio.3Ato – As lágrimas do Canário na tragédia do Sarriá

Antes do início da Copa do Mundo da Espanha, o País entoava em coro a música ‘Povo Feliz’, cantada pelo lateral Júnior em uma de suas empreitadas no cenário musical. O refrão ‘Voa Canarinho, voa; mostra para a Espanha o que eu já sei’ de fato ilustrava a expectativa da torcida brasileira. A Seleção tinha a certeza de que o título viria para o Brasil, assim como os próprios jogadores e torcedores adversários. No entanto, o futebol pregou mais uma de suas peças e deixou a tristeza estampada na face de milhões naquele fatídico 5 de julho de 19

Com a vitória sobre a Argentina e um saldo de gols maior que o da Itália, o Brasil tinha a vantagem de jogar pelo empate para seguir adiante na competição. O time que fosse para as semifinais enfrentaria a irregular Polônia e praticamente estaria garantido na disputa da grande final do Mundial.’O Brasil queria ganhar da Itália de qualquer jeito. O empate para a gente era uma vergonha. O próximo jogo era contra a Polônia e eles estavam mortos. Todo mundo estava machucado, não tinha nem gente para colocar em campo’, relata Oscar. ‘Era um jogo que seria um marco para todos. Mesmo do banco de reservas, eu tinha plena confiança na nossa vitória’, acrescenta Paulo Isidoro.

O otimismo e a confiança exacerbada duraram apenas cinco minutos. Em sua primeira jogada, o desacreditado Paolo Rossi aproveitou o cruzamento da esquerda de Cabrini e testou firme para o gol de Waldir Peres. Convocado após dois anos de suspensão por envolvimento em um esquema de manipulação de resultados na Itália, o atacante nem saiu do chão para acertar a cabeçada que deixou o Estádio do Sarriá perplexo.

O nervosismo ficou evidente no chute para fora de Serginho Chulapa de dentro da área. O atacante ganhou da marcação e errou o alvo ao ficar cara a cara com Dino Zoff. A falha clamou pela participação dos principais jogadores da equipe e levou o time ao empate depois de uma boa trama entre Zico e Sócrates. Aos 12 minutos, o camisa 10 se livrou de Gentile e tocou para o Doutor, que invadiu a área e acertou o canto de Zoff com um forte tiro.A igualdade no marcador deveria ter trazido calma à Seleção, mas não embalou o time nos minutos seguintes. Aos 25, Toninho Cerezo tentou o passe perto da área e tocou mal. Paolo Rossi mostrou oportunismo e aproveitou a indecisão da zaga brasileira para tomar a bola e avançar sem problemas em direção ao gol que recolocaria a ‘Azzurra ‘à frente.

‘O torcedor reconhece que aquela foi uma grande seleção, mas alguém precisa pagar por alguma coisa. Se fosse só com o meu erro, o jogo terminava em 2 a 2 e nós nos classificávamos. Nesses 30 anos você procura sempre uma desculpa, só que nunca vai achar. Quando a bola rola, tudo pode acontecer’, se defende Cerezo, duramente criticado após este lance.As chances criadas pelo Brasil no restante do primeiro tempo não surtiram efeito e levaram a equipe para os vestiários com a desvantagem no marcador. Após o intervalo, o empate só foi ser restabelecido aos 25 minutos, com Paulo Roberto Falcão. O meia recebeu de Júnior na entrada da área e prendeu a bola para estudar a jogada. Toninho Cerezo passou por trás e levou a marcação consigo, dando espaço para que o jogador chutasse de pé esquerdo, sem chances de defesa para o veterano Zoff.

Classificado com o resultado, o Brasil não soube aproveitar a vantagem e levou o terceiro gol apenas cinco minutos depois de ter igualado o marcador. Toninho Cerezo cabeceou mal a bola em um lance despretensioso e cedeu o escanteio. Com todo o time recuado, a Seleção não conseguiu afastar a sobra e viu Paolo Rossi completar para a meta defendida por Waldir Peres.

O atacante Antognoni conseguiria estufar as redes brasileiras pela quarta vez antes do término da partida, mas o assistente viu impedimento no lance e anulou o gol. O Brasil, por sua vez, pressionou a equipe retrancada de Enzo Bearzot e chegou perto de empatar novamente com Oscar. Aos 43 minutos, o zagueiro cabeceou para o gol e viu Dino Zoff praticar um milagre ao segurar sem dar rebote.

Adeus, Sarriá!

O Estádio do Sarriá ficou definitivamente na memória do torcedor. O palco da tragédia brasileira em 1982 deixou de existir em 1997, quando o Espanyol vendeu o local para quitar dívidas que comprometiam o orçamento do clube.

Após ser demolido, o estádio deu lugar a uma praça e passou a abrigar um condomínio de prédios sofisticados em Barcelona. O único sinal de que o local recebeu os jogos da Copa do Mundo é uma tímida placa que indica a sua inauguração, em 1923, e o seu fim após o leilão promovido pelos catalães.

‘O Éder batia muito bem e eu sempre ia nas bolas paradas. Eu já tinha feito um gol contra a Escócia e falei para o Cerezo trombar no Gentile para eu subir. O Éder conseguiu cruzar perfeitamente na minha cabeça e eu testei no chão. O Zoff se jogou para trás e num lance de puro reflexo, de instinto, conseguiu defender. A gente ainda tentou ludibriar o árbitro e falar que a bola tinha entrado, mas ele não caiu nessa’, lamenta Oscar.

Após um chutão de Zoff para o meio-campo, o israelense Abraham Klein apontou para o centro do gramado e encerrou o sonho do tetracampeonato mundial. Cabisbaixos e incrédulos com o que havia acabado de acontecer, os jogadores foram para os vestiários sem falar com ninguém e receberam os cumprimentos de Telê Santana. Enquanto isso, a minoria italiana festejava o dia em que Paolo Rossi se tornou um dos maiores carrascos da Seleção Brasileira em toda a sua história.

Epílogo – E o que deu errado para o Brasil?

Recebida por uma multidão extasiada no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, a Seleção de 82 ficou marcada na memória dos brasileiros pelo seu empolgante estilo de jogo ofensivo. Mesmo assim, os questionamentos sobre o que deu errado naquele dia 5 de julho ainda povoam as conversas entre os saudosos torcedores daquela geração.

As opiniões sobre o trágico episódio divergem até mesmo entre os jogadores que participaram daquela partida. Criticado após a eliminação, o zagueiro Luisinho lamentou a forma como o torcedor procurou culpados naquele elenco e atribuiu à falta de humildade do grupo a culpa pela derrota para a Itália.’Sempre que o Brasil perder vai existir um culpado. Nesse jogo contra a Itália, o que faltou para nós foi humildade. Faltou humildade até mesmo para a comissão técnica. Nós tivemos a chance de jogar com o resultado duas vezes. Eu não digo que isso foi salto alto, mas o Papai do Céu avisa lá em cima. Deveríamos ter percebido que não era nosso dia e segurado o empate’, destacou o defensor

Já Paulo Isidoro enxergou o revés de outra forma e disse que o time teve pena de atacar a seleção adversária. ‘Nós tivemos humildade demais. A gente tinha que ter atropelado mesmo. A nossa equipe era melhor mesmo e não tinha sentido ficar recuado. Esse foi o nosso grande erro.’

Enquanto o debate sobre o que de fato ocorreu durante aqueles 90 minutos permeia o imaginário dos que viveram ou ouviram falar sobre aquela Seleção, a esperança de se ver um time parecido com o de 82 segue viva entre os ferrenhos críticos das atuais apresentações da equipe comandada por Mano Menezes. Em meio a este pensamento, a certeza mantida pelos próprios jogadores que participaram deste Mundial é a de que os anfitriões espanhois absorveram o que viram durante o torneio e conseguiram colocar em campo times que mantêm em sua essência a magia da equipe armada por Telê Santana.

‘A Espanha sempre estudou o futebol brasileiro. Eles conseguiram encontrar um futebol sem trombada e objetivo, parecido com aquele que a Seleção de 82 implantou até mesmo sem saber’, destaca Toninho Cerezo. ‘Essa derrota fez muito mal para o Brasil. O País queria formar um time mais ofensivo e hoje precisa jogar feio para ganhar. Felizmente, a Espanha e o Barcelona estão mudando essa forma de pensar e mostrando a todos que é possível jogar bonito e ganhar’, concluiu o esperançoso Oscar.

Os diários do Dr. Sócrates na Copa do Mundo de 1982

As impressões de Sócrates na Espanha foram registradas na história através dos diários do jogador. Publicados em uma coluna da revista ‘Placar’, os relatos do que acontecia nos bastidores da Seleção ficaram impressos para as gerações posteriores através das palavras do Doutor.

A saudade de seus familiares e a frustração de não poder conviver com pessoas de outras nacionalidades eram temas recorrentes nos textos escritos pelo Magrão. Seus diários ainda contavam episódios descontraídos, como os aniversários de atletas do grupo e os shows do cantor Fagner na Espanha.

‘Foi uma das alternativas que a imprensa encontrou quando a sua presença na concentração foi proibida. O Sócrates escrevia essa coluna, assim como o Cerezo e Júnior tiravam fotos para jornais. Esse grupo era muito unido, nós vivíamos sambando e saindo juntos’, conta Renato ‘Pé-Murcho’, companheiro de quarto do ídolo corintiano na concentração da Seleção de 198

Sócrates morreu no dia 4 de dezembro de 2011 em decorrência de um choque-séptico. Presente nas questões que afligiam o cotidiano dos torcedores brasileiros, o Doutor compartilhou a frustração de toda uma Nação e encerrou o seu diário no dia em que o seu País perdeu para a Itália.

‘Estou profundamente triste, sem forças para explicar nada, para escrever… Agora, nesta última página do meu diário da Copa, deixo apenas dois momentos que vivo: a frustração intensa, talvez a maior da minha vida, por não conquistar o título que eu, no íntimo, alimentava tanto. E também a frustração de não ter mais uma semana de trabalho neste diário, que eu queria que terminasse com a seguinte frase: ‘Obrigado, torcida. Somos campeões”, relatou o Magrã

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