
O sobrenome Santos, herdado da mãe, é do gosto de Fábio Santos Romeu, mas às vésperas de dois confrontos históricos contra a equipe da Vila Belmiro, válidos pela semifinal da Copa Libertadores, não cai tão bem. ‘Seria bacana Fábio Corinthians’, brinca o lateral esquerdo, que foi campeão brasileiro no ano passado e agora sonha ser eternizado na história do clube com o inédito título do torneio continental.
São-paulino em 94, Fábio Santos
chorou por ver vice da Libertadores
‘Quero muito ser lembrado como Fábio Santos do Corinthians (quando encerrar a carreira). Até porque quero conquistar essa Libertadores’, disse o jogador de 26 anos à GE.Net, em entrevista na qual ainda falou sobre sua adaptação em tão pouco tempo, a mudança de estilo dentro de campo com a camisa 6 alvinegra, as dificuldades em outras equipes e qual o melhor caminho para brecar o craque Neymar – o qual conheceu na breve passagem pelo Santos.
‘O Neymar tem que ter o mínimo de espaço possível. Driblar um ou dois jogadores, ele vai, pela qualidade que tem. Mas o importante é o jogador da sobra estar perto. Se por acaso ele driblar um, o outro tem que estar em cima’, avisa o lateral, autor de dois gols no triunfo por 3 a 1 sobre o Santos, no Campeonato Paulista de 2011. Por sinal, o último do Corinthians sobre o rival.GazetaEsportiva.Net: Você está há pouco mais de um ano no Corinthians e já criou uma forte identificação. Por quê?
Fábio Santos: No começo foi bastante complicado, até pelo meu segundo jogo já ter sido aquele contra o Tolima, em que as coisas não aconteceram, a equipe não rendeu e foi desclassificada (na fase preliminar da Libertadores), uma pressão muito grande. Por isso, eu não esperava que as coisas acontecessem tão rápido. Em fevereiro, março, eu já estava jogando como titular. A comissão técnica me deu toda confiança para que o trabalho fosse desenvolvido. Eu fui crescendo, consegui me entrosar com os companheiros e, com o título brasileiro já no primeiro ano, ganhei tranquilidade para a sequência.
GE.Net: Tem algum parente corintiano?
Fábio Santos: Minha família inteira é corintiana, a maioria dos meus amigos de infância também é toda corintiana. Ficaram todos malucos quando cheguei aqui e também felizes com o meu rendimento e o rendimento do time todo.
GE.Net: Sua esposa e seus dois filhos também são corintianos?
Fábio Santos: Minha esposa é corintiana, meus cunhados são corintianos roxos. Quando vim para cá, minha esposa estava super feliz, os irmãos dela também. E as crianças não têm como fugir. Minha menina era gremista, mas já virou corintiana. E o moleque já nasceu corintiano.
GE.Net: Vê alguma característica de corintiano em você?
Fábio Santos: A entrega do torcedor corintiano é algo que eu não vi em nenhum dos clubes em que passei. Ele te cativa, te cobra na rua. Nunca fui um jogador vibrante, sempre fui um pouco mais tranquilo. E aqui comecei a incorporar isso. Foi uma coisa natural, não foi uma coisa forçada. E o torcedor gosta disso. É do momento. Tem jogos que você vai estar um pouco mais tranquilo, mas o torcedor reconhece o que o jogador está fazendo, às vezes na marcação. Consegue enxergar, coisa que em outros clubes o torcedor não faz. Sempre fui um jogador muito tático e ninguém via isso. Aqui estou tendo essa resposta positiva.
GE.Net: Quando encerrar a carreira, acha que vai ser reconhecido como jogador de qual time?
Fábio Santos: Ah, eu quero muito ser lembrado como Fábio Santos do Corinthians. Até porque quero muito conquistar essa Libertadores. A gente sabe que assim entraria para a história do clube, ficaria marcado. Por onde passei deixei amigos e portas abertas para voltar, mas o momento que eu vivo é especial por tudo, por todos os amigos que criei, pela identificação com o torcedor, pela conquista de titulo. Acredito que, ganhando essa Libertadores, ficarei marcado.
GE.Net: Em vez de Fábio Santos, você poderia ser Fábio Corinthians.
Fábio Santos: Sem dúvida (risos). Alguns torcedores falam isso na brincadeira, que sou Fábio Corinthians e não Fábio Santos. Seria bacana ter esse nome.
GE.Net: O que pensa da torcida corintiana, dos cantos?
Fábio Santos: É claro que todos os gritos são bacanas, mas o que mais me encanta é a reação do torcedor quando a gente toma gol. Dificilmente você vai ver algum jogador ser vaiado durante os 90 minutos. Depois do jogo, tem uma cobrança natural. Mas quando a gente toma gol, parece que a torcida canta até mais do que quando a gente faz gol.
GE.Net: Você parece ter se apegado mesmo ao Corinthians.
Fábio Santos: Sem dúvida. É claro que tem que saber separar. A gente é profissional, não pode levar muito para o coração. Mas o ambiente que a gente vive é tão bom que… Entrar no Pacaembu lotado, como foi no jogo contra o Vasco… Aquilo é a coisa mais linda do mundo. Não tem como não se identificar com isso. É o que os meus amigos palmeirenses, são-paulinos e santistas falam quando vão ao Pacaembu. Eles admitem que lá é diferente. É claro que sou jogador, mas às vezes me pego torcendo bastante.GE.Net: Na última vitória do Corinthians sobre o Santos, dois gols foram seus. Lembra a história daquele jogo?
Fábio Santos: Dificilmente vou conseguir ter um jogo tão especial no Corinthians como aquele jogo. A gente vinha da eliminação para o Tolima, ganhamos do Palmeiras e depois fiquei dois ou três jogos fora antes de voltar contra o Santos. Era importante me firmar de vez como titular da posição, conquistar confiança da comissão técnica, da diretoria. E nada melhor do que um clássico. Logo no primeiro tempo pude fazer um gol de falta, que me deu uma segurança maior durante a partida. O jogo estava empatado, teve o pênalti a nosso favor e pensei: ‘agora é meu momento de me firmar, de chamar atenção de alguma maneira’. Sabia que corria o risco de perder e jogar tudo para o alto, mas resolvi correr esse risco, e deu tudo certo. Acredito que ali foi meu cartão de visita para o torcedor corintiano.
GE.Net: É seu melhor momento na carreira?
Fábio Santos: Acredito que sim. Vivi grande momento no Grêmio também, em 2009 e 2010. Foram duas temporadas muito boas, mas, querendo ou não, a visibilidade no Corinthians é maior do que nos outros centos. Tudo que se faz, tanto de bom quanto de ruim, tem repercussão maior. Venho vivendo um momento de afirmação na verdade, com a conquista do título brasileiro. O planejamento foi muito bem feito até agora, e tenho o sonho de poder entrar para a história do clube ganhando essa Libertadores.
GE.Net: Todo jogador deseja a Libertadores?
Fábio Santos: Sim. Acho o Brasileiro bem mais difícil, mas a Libertadores te dá muito mais valorização, te dá a condição de disputar o Mundial. Conquistei uma com o São Paulo (em 2005), mas era diferente. Eu não era tão efetivo, não era titular, mesmo tendo jogado alguns jogos – entrei no segundo jogo da final contra o Atlético-PR. A Libertadores, em si, é diferente. E no Corinthians acaba sendo mais diferente ainda, porque o clube nunca conquistou. Então tem essa cobrança. A gente vai correr atrás desse sonho.
GE.Net: O que acha que talvez tenha dado errado nos outros clubes que você jogou?
Fábio Santos: Meus dois primeiros anos no São Paulo também foram muito bons, mas eu era muito jovem, tinha 17 pra 18 anos. Assumi algumas responsabilidades que hoje me fizeram amadurecer bastante. Agora com 26 anos, estou pronto para lidar com certos tipos de pressão. Quando saí do São Paulo e fui para o Japão, tive um ótimo ano. Em 2007 e 2008 é que eu tive mais dificuldades. Não consegui jogar no Cruzeiro, por causa de muitas lesões, não consegui me firmar na França, e tive uma passagem muito rápida no Santos. Comecei a reencontrar futebol e a alegria de jogar novamente em 2009, quando o Celso Roth me deu oportunidade no Grêmio. Desde então, minha carreira só tem subido.
GE.Net: A passagem que você teve pelo Santos, em 2008, foi curta. O que aconteceu?
Fábio Santos: Eu estava jogando na França (no Monaco) e voltei ao Brasil no segundo turno do Campeonato Brasileiro. O Kleber era o jogador da posição e estava para ser negociado com um clube da Alemanha. Meu acerto com o Santos foi por causa disso, porque ele iria sair do clube, e eu teria oportunidade de jogar. A transferência acabou não dando certo, e eu acabei jogando super pouco, porque o Kleber vinha em um bom momento, sendo convocado para a Seleção Brasileira. Eu só jogava quando ele era convocado ou quando ele atuava no meio-campo. Só que fui bem em um jogo contra o Grêmio, no Olímpico, e o Celso Roth, que era treinador deles naquela época, gostou da minha atuação e me ligou perguntando se eu tinha interesse de ir para lá. Mesmo tendo mais um ano de contrato, achei que fosse interessante ir para disputar a Libertadores. Acredito que foi uma escolha boa. O Santos é uma bela equipe, em uma bela cidade para se morar, tem uma estrutura boa, muito bacana. Só que as coisas não aconteceram como eu esperava. Tive uma oportunidade muito boa no Grêmio e escolhi sair.
GE.Net: Já se falava de Neymar e Ganso na Vila Belmiro?
Fábio Santos: Já. Eles treinavam de vez em quando com a gente. O Ganso chegou até a jogar algumas partidas, mas não foi tão bem e desceu para os juniores novamente. Foi no ano de 2009 que eles começaram a se fixar no profissional e deram continuidade nessa carreira linda deles.
GE.Net: Tem amizade, conversa com eles?
Fábio Santos: Conversei muito pouco. Eu cumprimento normal, tudo, mas não sou amigo, não telefono, não conversamos fora de campo, não.
GE.Net: Está difícil não pensar no Santos e se concentrar no Brasileiro? (o primeiro jogo contra o Santos será em 13 de junho; antes, o Corinthians tem dois compromissos pela competição nacional, diante de Figueirense e Grêmio)
Fábio Santos: É óbvio que é complicado esquecer. Esse tem sido nosso maior desafio, porque temos que focar no Brasileiro, temos que somar pontos rapidamente para sair dessa situação incômoda. E é difícil não pensar no Santos, já que nosso objetivo está tão perto de se realizar. Temos dois jogos para chegar nessa tão sonhada final. Nós estamos concentrados no Brasileiro, mas é inevitável se pegar pensando no Santos.
GE.Net: Qual pode ser o diferencial do Corinthians para vencer o Santos do Neymar?
Fábio Santos: O Neymar faz a diferença. O Santos tem uma bela equipe, mas quem faz a diferença mesmo é ele. Já a gente adquiriu um sistema de jogo que sabe enfrentar qualquer equipe do futebol brasileiro ou sul-americano. Com compactação, com jogadores sempre perto um do outro. O Neymar tem que ter o mínimo de espaço possível. Driblar um ou dois jogadores, ele vai, pela qualidade que tem. Mas o importante é o jogador da sobra estar perto. Se por acaso ele driblar um, o outro tem que estar em cima. Não vamos mudar muita coisa em relação ao que a gente vem fazendo. Temos que manter essa compactação. Todos nossos jogadores precisam ter inteligência e fazer bem sua parte tática para que a gente possa levar vantagem.