Emoção no Maracanã: Paralimpíada é aberta com festa espetacular
Cerimônia de abertura teve atrações musicais, criatividade e alegria. No fim, uma queda emocionou o público, antes de Clodoaldo Silva acender a pira
Os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro foram abertos nesta quarta-feira com uma belíssima e emocionante festa no Maracanã. A cerimônia teve como slogan “Todos têm coração” e levantou os cerca de 50.000 torcedores presentes com atrações musicais, projeções virtuais, homenagens a esportistas e empolgação dos atletas. O ex-nadador Clodoaldo Silva acendeu a chama olímpica sob muita chuva. Antes, a ex-atleta Márcia Malsar emocionou a todos ao se desequilibrar, mas levantar e continuar o trajeto da tocha.
Durante a festa, também foram registradas manifestações políticas nas arquibancadas. O presidente Michel Temer esteve na tribuna de honra ao lado da primeira-dama Marcela Temer e foi vaiado por grande parte dos torcedores que puxaram o coro “Fora Temer”.
Destaques – A festa começou às 18h15 e durou mais de quatro horas. Após a contagem regressiva no telão, a festa teve início com um vídeo em que a estrela principal foi o britânico Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês). Com sua cadeira de rodas, o ex-atleta Craven passeou pelos principais pontos turísticos do Brasil, de Belém ao Rio de Janeiro, até “entrar” no Maracanã.
Leia também:
Paralimpíada: `Para eles, não basta competir’
Silvânia Costa: ‘Sou recordista mundial, gente!’
Papo de Esporte: João Maia, fotografando com os sentidos
Em seguida, o atleta paralímpico americano Aaron “Wheelz Fotheringhan desceu uma rampa gigante e realizou um salto radical até pousar no gramado, em acrobacia que levantou a torcida. Em seguida, Diogo Nogueira, Xande de Pilares, Monarco, Hamilton de Holanda e Maria Rita abriram uma roda de samba e cantaram clássicos da MPB.
Daniel Dias – Uma bela projeção transformou o piso do Maracanã em uma piscina. Uma representação virtual do nadador Daniel Dias “nadou” pela piscina, em homenagem ao maior medalhista da história do Brasil na Paralimpíada (15 medalhas, dez de ouro, quatro de prata e uma de bronze). Daniel competirá já nesta quinta-feira e, por isso, não pôde comparecer à festa.
Praia e hino – Depois da homenagem a Daniel Dias, a piscina deu lugar a uma nova projeção e o gramado do Maracanã se transformou em uma praia, com barracas, banhistas e surfistas. Entre os clássicos ouvidos, destacou-se Aquele Abraço, de Gilberto Gil, canção que também embalou o Maracanã na abertura dos Jogos Olímpicos.
O hino nacional foi tocado no piano pelo maestro João Carlos Martins, cujos movimentos das mãos são limitados em razão de problemas neurológicos, enquanto uma bandeira brasileira foi formada no centro do gramado.
Quebra-cabeças – A cerimônia inovou no momento do desfile dos atletas. Cada uma das delegações dos 176 países (mais a de atletas refugiados que defenderão as cores do comitê paralímpico) entrou com uma peça de quebra-cabeças no centro do gramado, com imagens dos cerca de 4.300 atletas que disputarão os Jogos. A modelo Fernanda Lima trouxe a última peça do quebra-cabeça, que foi colocada pelo artista brasileiro Vik Muniz, responsável pela criação, formando um enorme coração.
Tonga – Assim como na festa dos Jogos Olímpicos, a modesta delegação de Tonga roubou a cena na abertura da Paralimpíada do Rio de Janeiro graças ao figurino de seus porta-bandeiras. Um atleta com o braço amputado apareceu de saia e peito aberto, com o corpo besuntado em óleo de coco. Durante a Olimpíada, o lutador de taekwondo Pita Taufatofua causou comoção nas redes sociais ao entrar no Maracanã com o mesmo traje. Desta vez, o representante da ilha na Oceânia veio acompanhado de outra atleta, que, igualmente besuntada, carregou a bandeira.
Time Brasil – Seguindo a tradição, a delegação brasileira, composta por 287 atletas, foi a última a entrar no estádio, ao som de O Homem Falou, de Gonzaguinha. A porta-bandeira brasileira foi Shirlene Coelho, atleta do lançamento de dardo.
A bela e o robô – A modelo, atriz e para-atleta americana Amy Purdy realizou uma coreografia. A atleta biamputada, praticante de snowboard, dançou com robô, em uma reflexão sobre a relação entre homem e tecnologia.
‘Vinicius-Bünchen’ – Antes de a festa começar, o mascote dos Jogos Olímpicos, Vinicius, divertiu o público ao desfilar ao som de Garota de Ipanema usando um vestido semelhante ao usado pelo top model Gisele Bündchen na festa de abertura da Olimpíada.
Temer – Assim como na abertura dos Jogos Olímpicos, a organização da festa armou uma estratégia para abafar as vaias ao presidente Michel Temer, mas não obteve sucesso. No momento em que Philip Craven, presidente do IPC, foi anunciado, o telão não mostrou o cartola, que estava sentado ao lado de Temer – ao contrário da televisão, que mostrou a dupla normalmente. Ainda assim, foram registradas vaias e gritos de “Fora Temer”. No momento em que Temer declarou abertos os Jogos, não houve como evitar as estridentes vaias. O presidente postou fotos da festa em sua conta no Twitter.
Queda e aplausos – O acendimento da pira paraolímpica foi o momento de maior emoção da festa. Coube ao nadador Clodoaldo Silva a honra de acender a chama paralímpica no Maracanã. O atleta potiguar, dono de 13 medalhas paraolímpicas, encarou a chuva e fez um enorme esforço para subir a rampa que deu acesso à pira em cadeira de rodas. Antes, a tocha passou pelas mãos da ex-atleta Márcia Malsar, que chegou a perder o equilíbrio e cair.
O acidental tombo de Márcia Malsar foi o momento mais tocante da festa. A ex-velocista, que ajudou a impulsionar o esporte paralímpico ao ganhar medalhas de ouro, prata e bronze nos Jogos de Nova York/Stoke Mandeville, em 1984, recebeu a tocha das mãos do ex-corredor corredor Antônio Delfino. Com uma bengala em uma mão e a tocha em outra, Márcia se desequilibrou e caiu, mas conseguiu se levantar e foi aplaudida por todo o Maracanã.
Ovacionada, Márcia passou a tocha para a ex-atleta paralímpica Ádria Santos. O quarto e último condutor foi Clodoaldo Silva, que disputará sua quinta e última edição dos Jogos no Rio. O atleta de 37 anos, que sofreu uma paralisia cerebral, é considerado o maior responsável por popularizar o esporte paraolímpico no Brasil graças às seis medalhas de ouro e uma prata que conquistou nos Jogos de Atenas-2004.
Clodoaldo ainda proporcionou outra cena emocionante. Antes de acender a pira, o nadador parou diante de uma enorme escadaria. Os degraus, então, se moveram, formando uma rampa de acesso, simbolizando a importância da habilidade. De cadeira de rodas, Clodoaldo fez um grande esforço para subir a rampa molhada pela chuva e abrir, oficialmente, a Paralimpíada do Rio.
A festa terminou debaixo de muita chuva, com Seu Jorge no palco, cantando Vamos à luta, de Gonzaguinha e É preciso saber viver, de Erasmo e Roberto Carlos.