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Crystal Palace: conheça o QG da equipe olímpica do Brasil

Pela primeira vez em todas as suas participações nos Jogos, o país usará uma base exclusiva para treinar e se concentrar. Mas isso renderá mais medalhas?

Por Giancarlo Lepiani, de Londres
16 jul 2011, 06h06

Fica a impressão de que a montagem do QG é uma decisão bem ao gosto dos cartolas brasileiros – ao invés de investir num trabalho estrutural e a longo prazo, gasta-se com uma medida de impacto, mas de alcance restrito

Londres não é apenas a próxima sede olímpica. A cidade é também uma das capitais esportivas do planeta – é difícil pensar em qualquer outro lugar do globo com tanta história, influência e importância para as modalidades mais praticadas da atualidade. No futebol, ela é imbatível: tem quase uma dezena de estádios, incluindo Wembley, um dos grandes templos da bola. No tênis, Wimbledon é o torneio mais antigo e prestigioso de que se tem notícia. Quando se fala em Olimpíada, Londres será a primeira cidade a realizar o evento em três ocasiões diferentes (antes de 2012, já tinha sido sede em 1908 e 1948). Em uma cidade com tantos lugares significativos para o esporte internacional, um dos pontos mais tradicionais é o Crystal Palace, um complexo de quadras, campos e piscinas localizado no sul da capital britânica. E no ano que vem, enquanto delegações de dezenas de países dividirem as instalações coletivas da Vila Olímpica, o Crystal Palace estará reservado à equipe brasileira – que, pela primeira vez na história de suas participações nos Jogos, terá um quartel-general próprio para se concentrar e se preparar.

“Estamos esperando a delegação do Brasil com todos os recursos necessários para treinar e abrigar os atletas de diversas modalidades. E se for preciso oferecer mais alguma coisa, vamos buscá-la”, explica Russ Barnes, administrador do Crystal Palace, que conduziu a reportagem do site de VEJA por uma visita ao complexo. A configuração do centro esportivo (confira no mapa abaixo) inclui duas partes principais: um estádio, que pode receber treinamentos de todas as modalidades do atletismo, e uma grande área coberta que abriga um conjunto de esportes aquáticos, quadras poliesportivas e salas de ginástica e musculação. Ali, Barnes planeja fornecer aos brasileiros locais adequados para a prática dos mais variados esportes, desde vôlei, handebol e basquete até tênis de mesa, boxe e taekwondo. Barnes compara o núcleo principal do Crystal Palace a um quebra-cabeças: há diversas peças disponíveis, e elas podem ser montadas da forma que a delegação brasileira achar a ideal. Por exemplo: nos fundos desse enorme salão de concreto armado, há locais que podem ser transformados em quadras no começo dos Jogos e adaptados para receber ringues de boxe no decorrer da competição. Seu uso dependerá das demandas dos atletas.

A base da equipe olímpica brasileira na Olimpíada de 2012

O Crystal Palace fica num parque no sul de Londres. No mapa abaixo, as instalações do clube

De acordo com o administrador do clube, essa flexibilidade é a principal vantagem que o Crystal Palace fornecerá à preparação olímpica brasileira. Com exceção das piscinas, quase todas as áreas poderão ser transformadas temporariamente, de acordo com as prioridades estabelecidas pelos dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Além do estádio e do núcleo central do complexo, há campos de grama sintética, outra grande área coberta e mais algumas quadras ao redor. Barnes afirma estar em contato constante com os brasileiros para definir a montagem dos locais de treinamento, inclusive com a instalação de equipamentos e pisos de padrão equivalente ao das instalações olímpicas. “Tudo terá a melhor qualidade possível”, assegura. O rigor técnico e a capacidade logística dos britânicos, porém, não significam que o QG brasileiro se transformará numa base superprofissional de treinos de alto rendimento. De acordo com Barnes, os frequentadores regulares do Crystal Palace – sócios que pagam mensalidades, como nos clubes do Brasil – continuarão tendo acesso a parte das instalações, ainda que através de uma entrada separada dos corredores de acesso usados por atletas e treinadores brasileiros. É um detalhe que parece destoar dentro de um projeto tão ambicioso, que prometia um enorme salto qualitativo na preparação brasileira, conforme defendeu o COI ao anunciar a escolha do local, no começo deste ano.

Agenda olímpica

13 de julho de 2012: Chegada do primeiro grupo de brasileiros ao Crystal Palace

25 de julho de 2012: Início das competições, com os jogos de futebol (fora de Londres)

27 de julho de 2012: Primeiras competições na capital e cerimônia de abertura, à noite

12 de agosto de 2012: Últimas definições de medalhas e a cerimônia de encerramento

Desempenho – O Crystal Palace não pode barrar seus sócios pagantes durante a preparação olímpica do Brasil porque não é mais administrado pelo governo britânico, como acontecia nos tempos em que foi construído. Inaugurado em 1964, o clube ganhou esse nome porque foi erguido em um parque onde antigamente existia o Crystal Palace original, um fantástico pavilhão de aço e vidro projetado para a Exposição Mundial de 1851 (que serviu para apresentar as novidades da tecnologia nascidas na Revolução Industrial). O antigo palácio foi arrasado por um incêndio em 1936, e o complexo esportivo que ocupou seu terreno serviria justamente para formar atletas olímpicos para a Grã-Bretanha. Décadas depois, o comitê olímpico do país desistiu de administrá-lo, e essa tarefa acabou parando nas mãos das autoridades municipais londrinas – que, por sua vez, cederam a exploração do local a uma empresa, que cobra pelo uso das instalações. Na Copa do Mundo da África do Sul, a seleção brasileira fazia seus treinos num clube de golfe de Johannesburgo – e dividia parte das instalações com executivos de meia-idade que frequentavam o local para ensaiar suas tacadas. No Crystal Palace, no ano que vem, os atletas brasileiros poderão cruzar com aposentados que fazem ginástica e crianças que dão seus primeiros passos no esporte. Mas o COB garante que a chance de usar as instalações do local refletirá diretamente no desempenho da equipe do país em Londres.

Opinião do especialista

Joaquim Cruz

Dono de duas medalhas olímpicas (ouro em 1984 e prata em 1988, nos 800 metros), o ex-atleta hoje é treinador e vive nos EUA

“Assim como o Brasil, o comitê americano também alugará um centro em Londres, para seguir atendendo as necessidades dos atletas e seus treinadores durante as preparações finais. Fizeram o mesmo nos Jogos de Pequim e eu tive a oportunidade de continuar meu trabalho com uma atleta americana. Ao alugar o Crystal Palace, o COB criará condições adequadas para que os brasileiros possam competir em pé de igualdade com os outros. Isso seguramente é um grande passo na direção do pódio.”

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Acervo Digital VEJA: Leia entrevista com Joaquim Cruz

“É um salto de qualidade para o Brasil”, diz Marcus Vinicius Freire, superintendente executivo de esportes do comitê. “Potências como os Estados Unidos, Austrália, Inglaterra e Alemanha fazem isso. Estamos seguindo o caminho dos melhores do mundo”, completa, sobre a escolha de uma base exclusiva, fora da Vila Olímpica. “Acredito que, proporcionando um ambiente para os atletas brasileiros se concentrarem em níveis máximos durante os Jogos, veremos grandes resultados em 2012.” O COB destaca a chance de oferecer à delegação maior liberdade e flexibilidade nos treinos, já que não será preciso depender da agenda restrita das instalações da Vila, compartilhadas por todos os países. Enquanto Freire classifica o uso do Crystal Palace como “a primeira vitória do Brasil” nos Jogos de Londres, aguarda-se uma resposta para a dúvida: isso pode, de fato, melhorar os resultados da equipe e render mais medalhas ao país? Fica a impressão de que a montagem do QG é uma decisão bem ao gosto dos cartolas brasileiros – ao invés de investir num trabalho estrutural e a longo prazo, gasta-se com uma medida de impacto – afinal, outros países cobiçavam usar o Crystal Palace – mas de alcance restrito. Os primeiros atletas brasileiros deverão chegar a Londres em 13 de julho de 2012 (confira a agenda no quadro acima). Os frutos da estratégia do COB, se surgirem, poderão ser colhidos a partir de duas semanas depois, quando a capital olímpica abre oficialmente os Jogos de 2012.

As modalidades esportivas que têm história no Crystal Palace

FUTEBOL O atual estádio do complexo foi construído sobre um campo onde ocorreram vinte finais da Copa da Inglaterra, o torneio mais antigo do mundo. Clubes como Manchester United e Aston Villa foram campeões ali. Uma das finais, em 1913, reuniu 121.919 pessoas, um recorde para a época. Por causa do estádio nasceu o Crystal Palace, clube que hoje disputa a segunda divisão do futebol inglês. ATLETISMO Hoje com 15.500 lugares (com a possibilidade de expansão para 24.000), o estádio do complexo já recebeu diversas competições regionais e internacionais de atletismo. Atualmente, recebe a etapa londrina do Grand Prix da Federação Internacional de Atletismo (IAAF). A partir de 2012, com o novo Estádio Olímpico, corre o risco de perder o status de casa do atletismo em Londres. BASQUETE O ginásio do complexo já foi a casa de duas equipes profissionais, o Crystal Palace e o London Towers. Em seu auge, os Towers foram uma das equipes mais fortes da Europa. A equipe entrou em crise e acabou. Desde então não há mais jogos oficiais ali. RÚGBI Um dos esportes mais tradicionais da Grã-Bretanha também tem páginas escritas no Crystal Palace – onde aconteceu, por exemplo, uma histórica partida entre Inglaterra e Nova Zelândia, em 1905. AUTOMOBILISMO O parque hoje ocupado pelo complexo já teve um circuito onde eram disputadas provas de motocicletas e automóveis. Foi ali que a BBC fez a primeira transmissão televisiva de uma corrida, em 1937. O Crystal Palace chegou a receber diversas provas oficiais de Fórmula 3 e até mesmo treinos de escuderias da Fórmula 1. CRÍQUETE Outra modalidade britânica por excelência, o crIquete teve como casa o Crystal Palace durante um curto período, do fim do século XIX até 1908, com a criação do London County Cricket Club. FUTEBOL AMERICANO Enquanto durou, o time londrino da liga internacional de futebol americano, o London Monarchs, usou a estádio do Crystal Palace.

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