Conheça melhor Daniel Martins, o Neymar do atletismo paralímpico
Talento para corridas e dificuldade de aprendizado foram descobertos na infância, em Marília (SP), no mesmo projeto que formou Thiago Braz
Todo o Brasil conheceu nesta sexta-feira o talento e o sorriso contagiante de Daniel Martins, o jovem de 20 anos que bateu seu próprio recorde mundial e conquistou a medalha de ouro dos 400 metros na Paralimpíada do Rio. Rapidamente, saltou aos olhos sua semelhança física com o maior astro do esporte nacional, o atacante Neymar. O jovem de Marília (SP) também sonhava em ser jogador de futebol – era um atacante rapidíssimo – mas, no início da adolescência, descobriu duas características que mudariam sua vida: a aptidão para o atletismo e a dificuldade de aprendizado.
Daniel Martins impressiona por semelhança com Neymar
O garoto do interior de São Paulo iniciou sua trajetória em um projeto esportivo de Marília comandado pelo treinador Luiz Carlos Albieri, conhecido como “Esquilo”. Daniel não é o primeiro fenômeno instruído pelo técnico: Thiago Braz, o campeão olímpico do salto com vara na Rio-2016, também recebeu suas primeiras instruções de Albieri. Agora, Marília precisará de mais um carro de bombeiros para receber um herói olímpico.
Daniel, que já era campeão mundial e o mais rápido de todos os tempos entre os paralímpicos, bateu seu próprio recorde ao cravar o tempo de 47s22. A melhor marca entre os atletas olímpicos também foi batida no Rio: o sul-africano Wayde van Niekerk cruzou a linha do Engenhão em 43s03, no mês passado.
Ciro Winkler, coordenador técnico da seleção brasileira de atletismo paralímpico, contou que o jovem talento ficou “mega-agitado” depois de beijar sua medalha dourada e chorar ao ouvir o hino nacional. “Ele tem muito talento e um futuro brilhante no esporte brasileiro”, garantiu Ciro.
Deficiência – Daniel compete na classe T20, exclusiva para deficientes intelectuais. Ao contrário de outras modalidades, nas quais as deficiências são divididas em gradações – entre os deficientes visuais, por exemplo, há classes para cegos e atletas com “baixa visão” –, a classe dos deficientes intelectuais é única.
Segundo as regras do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), os atletas desta classe devem apresentar um laudo emitido pela Associação Brasileira de Desportos para Deficientes Intelectuais (ABDEM). Para obtê-lo, devem ter resultados abaixo da média em testes de Quociente de lnteligência (QI) e apresentar “dificuldades no comportamento conceitual e social adaptativo”.
Ciro Winkler clareia a situação. “Para um atleta ser elegível na classe T20, ele tem de passar por dois critérios: um teste de QI, no qual deve apresentar coeficiente até 75, e apresentar problemas em áreas adaptativas, como sociais, matemáticas ou outras”, explica. Um coeficiente de inteligência considerado médio varia de 90 a 109 pontos.
Winkler explica que, como em qualquer modalidade paralímpica, existe a dificuldade em nivelar a deficiência dos competidores da classe T20. “Eles são diferentes, uns tem nível maior e outros menor de comprometimento cognitivo. Ainda mais por se tratar de uma classe única. Ou o competidor é deficiente ou não é.”
Segundo Winkler, ao contrário de atletas “convencionais”, que costumam bolar uma estratégia para a prova – como dosar o ritmo em determinado momento para acelerar em outro –, os corredores da T20 agem mais por instinto e talento. “Com o Daniel a instrução é: sai forte e acelera no final.” É o que o jovem paulista deve fazer em muitas Paralimpíadas mais.