Bolt fala a VEJA: ‘O que Gatlin fez no passado não me interessa’
Em entrevista exclusiva, corredor diz que a suspensão por doping, há alguns anos, de seu maior rival nos 100 metros deve ser ignorada na hora da largada
Um único ser humano na face da Terra costumava vencê-lo em provas de velocidade: Ricardo Geddes, que depois viraria jogador de futebol, seu amigo de infância em Sherwood Content, na Jamaica. É verdade que você chorava depois das derrotas? Sim, houve um tempo em que ele costumava me vencer. Acho, porém, que meu talento ainda estava dormente. Éramos amigos, muito amigos. Mas é difícil esquecer aquelas derrotas.
Por quê? Sou uma pessoa competitiva em tudo o que faço. Se acredito não ser bom em alguma coisa, nem começo a praticá-la. Tênis, por exemplo, não jogo. Não sou bom. Mas, se me chamam para o futebol, vou sem vacilar. Sou um ótimo artilheiro.
Soa quase inacreditável que o homem mais rápido do mundo tenha vindo de uma cidadezinha tão pacata, lenta como as do interior mais profundo do Brasil… Pois é, agradeça a meus pais, amantes de críquete, mas que logo perceberam minha aptidão para correr. Quando criança, diziam que eu era muito agitado, mas faz muito tempo… Sou um pouco como a cidade onde cresci, bem tranquilo. Mas admito que possa parecer surpreendente essa contradição: extremos opostos, o que me tornou famoso, a rapidez, e de onde vim, a lentidão.
Qual é sua ambição no Rio? Se conquistar o tricampeonato olímpico nos 100 e nos 200 metros, além do revezamento 4 x 100, terei feito algo que ninguém conseguiu. Aí serei realmente grande, do tamanho de Pelé e Muhammad Ali.
As chances são grandes? Estou treinando forte para isso. Quero ser o melhor. É o que me faz acordar cedo todos os dias.
Algum atleta em atividade pode bater seu recorde mundial nos 100 metros, de 9s58? Não, agora não. No futuro, quem sabe — e espero que seja num futuro bem longínquo.
Qual seria o menor tempo possível para os 100 metros? O limite é 9s40, eu acho. Já nos 200 metros, dá para ir abaixo dos 19 segundos cravados. Meu recorde é de 19s19.
Esses recordes serão batidos no Rio? Nos 100 metros, não. Nos 200 metros, se tudo acontecer como o planejado, poderei ser a primeira pessoa a correr abaixo de 19 segundos.
A sombra do doping é um incômodo? É triste perceber que damos dois passos para a frente, em desempenho, e logo há três passos para trás. É muito ruim para o esporte. Tudo o que posso fazer é continuar a ser rápido, continuar mostrando aos jovens que dá para vencer sem usar substâncias, trabalhando duro, simples assim.
Um dos favoritos nos 100 metros, dono do melhor tempo do ano, é o americano Justin Gatlin, que foi punido com suspensão por doping. Tudo bem, para você, estar ao lado dele na largada? Se ele está alinhado, e vai competir, não tenho restrição. Se a Federação Internacional de Atletismo autoriza a presença dele, não posso reclamar. Sigo as regras. O que Gatlin fez no passado não me interessa.
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