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As lições dos Jogos Mundiais Militares para o Rio de 2016

Arenas que serão usadas para competição e apoio aos atletas nos Jogos Olímpicos passam no teste, mas transporte ainda é a pedra no sapato da cidade

Por Flávia Ribeiro, do Rio de Janeiro
25 jul 2011, 13h26

Sorrindo sem parar, ainda com o rosto afogueado pela conquista da medalha de ouro na prova de pistola 25m do tiro esportivo mos Jogos Mundiais Militares, na manhã de quarta-feira, a sargento alemã Sandra Hornung, 26 anos, era só elogios ao Centro Nacional de Tiro Esportivo Guilherme Paraense (CNTE), preparado para o Pan de 2007 e que será novamente usado nas Olimpíadas de 2016.

Mas, com a sensibilidade de quem está acostumada a competir em grandes centros esportivos de todo o mundo, apontou para um problema que pode exigir atenção até 2016: a acústica. “As instalações são excelentes, estão no nível das melhores do mundo. Mas o som dos tiros reverbera muito alto, isso incomoda um pouco”, comentou a alemã, que está em busca de sua vaga para os Jogos Olímpicos de Londres, no ano que vem.

O CNTE é uma das nove instalações em uso nos Jogos Militares que também estarão no centro da ação em 2016. As outras são o Centro Nacional de Hipismo e o Centro Nacional de Pentatlo Moderno, também no Complexo de Deodoro; o Engenhão; o Estádio de São Januário; o Parque Aquático Maria Lenk; o Maracanãzinho; a Arena Multiuso; e a Vila Verde. Abaixo, uma avaliação de cada instalação a partir do que foi visto no Jogos Mundiais Militares, com a ajuda dos atletas que lá competiram. Afinal, é para eles, donos do espetáculo, que as condições devem estar perfeitas.

Centro Nacional de Tiro Esportivo

Técnico da seleção militar brasileira, que conta com a já classificada para Londres Ana Luiza Ferrão, o coronel Drawanz avalia o ponto forte do CNTE: “O Brasil comprou o projeto do centro de tiro de Sydney, a partir da estrutura de lá. É moderno, tem o melhor sistema eletrônico que existe. É amplo e está pronto para receber uma competição do porte da Olimpíada”. Ao procurar um ponto fraco, ele concorda com a crítica da atiradora alemã. “Ele foi feito com amplitude, com o teto bem alto, justamente para isso, para ter uma acústica adequada. Ainda assim, precisa de um tratamento acústico diferenciado. Nem todos os atletas se incomodam, mas há os de maior sensibilidade”, avalia. Estão previstas pequenas mudanças no CNTE até 2016, já que o centro é considerado de primeira classe.

Centro Nacional de Hipismo

Com apenas 19 anos, a cavaleira Luiza Almeida tem experiência de sobra para opinar. Competiu no Pan do Rio em 2007, aos 15, e aos 16 anos foi à Olimpíada de Pequim. Este ano, pelos Jogos Mundiais Militares, voltou ao Centro Nacional de Hipismo pela primeira vez desde o Pan e foi campeã individual e medalha de prata por equipes na prova de Adestramento. “Fiquei impressionada quando cheguei aqui. Quando competi em 2007, eu ainda não conhecia grandes centros internacionais, não tinha parâmetro. Agora, que já viajei muito, posso dizer: não tem como a estrutura ser melhor. As baias são do tamanho certo; há acomodação para várias pistas, o que impede engarrafamento dos cavalos; e tem o melhor piso nas pistas; veterinário 24 horas; hospital veterinário; laboratório; tudo. E a conservação está perfeita, porque os militares usam. Não virou um elefante branco, há manutenção”. O ponto fraco? “Creio apenas que não há baias suficientes para todos os cavalos que vão a uma Olimpíada, isso terá que ser expandido”, comenta Luiza. O aumento do número de estábulos já está previsto no projeto do Comitê Rio 2016.

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Centro Nacional de Pentatlo Moderno

Composto por um campo de hipismo, uma pista de corrida, estandes de tiro, piscina e quadra de esgrima, o CNPM recebeu atletas acostumados a competir por todo o mundo, como a pernambucana Yane Marques, quarta do ranking mundial e medalha de prata nos Jogos Mundiais Militares. Sua conterrânea Priscila Oliveira, 22 anos, também participou da prova e adorou a integração com o público. “Na última etapa da Copa do Mundo de pentatlo, na Hungria, o público mal via a prova de hipismo. Além disso, ele via o tiro, mas só parte da corrida. Aqui, o público pode acompanhar todas as provas, do início ao fim. A piscina é ótima também”, diz Priscila, que só tem uma ressalva: “A arena de esgrima é pequena para uma competição do porte da Olimpíada. Além disso, não é climatizada. Na quinta-feira, quando competimos, o dia estava ensolarado e ficou quente para os atletas”. Segundo o Comitê Rio 2016, uma nova arena, maior, mais moderna e climatizada, será construída até as Olimpíadas. Além disso, a pista de corrida será reformulada.

Parque Aquático Maria Lenk

Palco das competições de natação dos Jogos Mundiais Militares, o Maria Lenk vai receber o pólo aquático e os saltos ornamentais nas Olimpíadas – um novo parque aquático, provisório, será construído para receber a natação. Para a nadadora Fabíola Molina, que esteve em Sydney (2000) e Pequim (2008) e ganhou cinco medalhas nos Jogos Mundiais Militares, o Maria Lenk é a melhor piscina do Brasil: “Tem tantas qualidades que a gente acha ruim quando a prova não é lá. Tem tudo dentro do que há de mais moderno, inclusive a borda lateral que evita ondas”. O ponto fraco, para Fabíola, é ser descoberto. “Para quem nada costas, principalmente, atrapalha, porque o vento tira do lugar a bandeirinha que indica a distância de cinco metros para a borda. O pessoal do salto e do pólo não vai ter esse problema, mas sair da piscina para o vento não é o ideal”, avalia. O parque aquático provisório será coberto e terá os 18 mil lugares exigidos para uma competição deste nível.

Maracanãzinho

Campeões olímpicos, Valeskinha (ouro em Pequim) e Anderson (ouro em Atenas e prata em Pequim) integraram as seleções militares de vôlei durante os Jogos. Os dois concordam que, em termos de quadra de vôlei, não existe nada muito melhor pelo mundo. “É o ginásio que qualquer jogador de vôlei quer, com um piso legal, vestiários modernos, estrutura boa. Para o público também é bom, as arquibancadas são ótimas. Em 2016, espero estar confortavelmente instalada nas cadeiras para torcer”, brinca Valeskinha, que, com 35 anos, não defende mais a seleção. Anderson, 37 anos, completa destacando um detalhe: “Você viu o telão estilo NBA? Bacana, né?”. Nenhum dos dois conseguiu apontar um ponto fraco. Mas nós conseguimos: o problema não é exatamente o estádio, mas animadores de torcida berrando alto, com seus gritos reverberando por caixas de som poderosas. Eles estavam lá nos Jogos Mundiais Militares, mas não precisam voltar em 2016…

Arena Multiuso

Falta vida à Arena Multiuso, palco do basquete nos Jogos Mundiais Militares, mas que em 2016 vai receber as ginásticas artística, rítmica e de trampolim – será construída uma nova arena para o basquete. Essa é a avaliação do experiente treinador Alberto Bial, que comandou o time militar brasileiro durante os Jogos. “Já vi ótimos ginásios pelo mundo e posso afirmar que essa arena é moderna. As instalações atendem muito bem, são confortáveis, com grandes vestiários. O que precisa é que ela se torne palco de mais jogos e eventos, que ganhe vida, ganhe alma. Minha mulher comentou que há cadeiras quebradas e corrimões soltos. Isso se conserta rápido, mas é um sintoma: se não são usadas, as coisas estragam, não há a manutenção que um lugar com movimento constante exige”, diz Bial. E, sendo mais detalhista, ele sugere: “Por que não colocar na Arena e no novo ginásio uns telões enormes, em alta definição, em vez desse cubo no meio do teto? E onde as pessoas vão parar o carro? Meu genro teve que parar do lado de fora. Tem que ter um belo estacionamento na Olimpíada”.

Engenhão

Nos Jogos Mundiais Militares, o Engenhão recebeu o futebol e o atletismo, mas só este último vai estar lá em 2016. Para Jadel Gregório, que disputou a prova do salto triplo em Atenas (2004), Pequim (2008) e nos Jogos Mundiais Militares e foi prata no Mundial de Osaka (2007), se mexerem na pista do Engenhão, estraga. “Na minha área, que é o atletismo, as condições são as melhores. O piso está excelente, está tudo bom”, diz ele, que costuma pedir que a torcida bata palmas sincopadas em seus saltos: “A acústica também é boa, sinto o calor do público”. Segundo o Comitê Rio 2016, a pista está pronta, mas haverá um aumento nas arquibancadas, que vão comportar um público de 60 mil pessoas – 15 mil a mais do que os 45 mil atuais. Jadel não tem críticas a fazer. Mas o público que enfrenta engarrafamentos no entorno do estádio a cada evento ou jogo maior tem. O ponto fraco, nesse caso, é o acesso.

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São Januário

Um ano antes de completar 90 anos, São Januário vai abandonar por uns dias sua vocação para o futebol e se tornar campo do rúgbi em 2016. O estádio, palco da final do futebol feminino nos Jogos Mundiais Militares, é grande e tem história. Além disso, a proximidade da torcida e de seus gritos pode conferir calor humano ao espetáculo. Mas terá que ser remodelado para receber o esporte. O gramado, prejudicado pelos treinos e jogos, precisa de um descanso. Suas arquibancadas receberão uma cobertura e novos assentos, e a trave de futebol será substituída pela trave em formato de H, típica do esporte. As ruas em torno também sofrerão uma reforma urbanística. Por conta da pouca familiaridade do brasileiro com o rúgbi, ainda é difícil avaliar se o estádio do Vasco foi uma boa escolha. Vai depender de como sua reforma será levada à frente.

Vila Verde

Uma das três vilas de atletas dos Jogos Mundiais Militares, a Vila Verde, em Deodoro, será dedicada aos árbitros e ao pessoal de apoio das delegações em 2016. Recém-inaugurada, tem quartos e banheiros nos padrões internacionais e foi mobiliada com camas de três tamanhos – a maior delas, para atender a atletas de basquete e vôlei, por exemplo. Além disso, usa reaproveitamento de água da chuva e outros artifícios ecológicos. “Os quartos são soberbos”, afirma Geoffrey Kokoyo, atleta do Quênia. “As instalações da vila são muito boas”, concorda a jogadora de futebol holandesa Nathalie Donkersloot.

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