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A estrela do boxe volta a brilhar

Everton Lopes tinha 15 anos quando subiu num ringue pela primeira vez. Nesta sexta-feira, estreia no Pan-Americano

Por Aiuri Rebello
21 out 2011, 16h33

A vitória de Lopes mostra que, mesmo sob a supremacia da Arte Marcial Mista, o esporte da moda, de vez em quando o boxe ganha de nocaute do chamado MMA

O segundo lugar do Brasil em números de medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos do México pode estar ainda mais assegurado com a participação da equipe de boxe. Entre os nove boxeadores brasileiros – maior número que o país já levou para a disputa – está Everton Lopes, 23 anos, que estreou vencendo nesta sexta-feira o dominicano Ricardo Garcia.

Foi preciso tornar-se o primeiro brasileiro a ganhar um Mundial de Boxe Olímpico para que Lopes lesse o próprio nome na primeira página dos jornais. Até 8 de outubro de 2011, embora tivesse vencido nos dias anteriores as cinco lutas que o levaram à final do campeonato, as notícias sobre o meio-médio-ligeiro (de 60 a 64 quilos) eram confinadas em notas curtas nos cadernos de esporte, espremidas entre as informações sobre a última rodada do Brasileirão e os confrontos da nova temporada do Ultimate Fighting Championship, mais conhecido pela sigla UFC.

A vitória de Lopes mostra que, mesmo sob a supremacia da Arte Marcial Mista, o esporte da moda, de vez em quando o boxe ganha de nocaute do chamado MMA – e não só nas aulas em academias de ginástica onde o adversário se resume a uma figura de plástico que reproduz o tronco de um homem. Os golpes que só podem atingir regiões acima da linha do quadril, as luvas acolchoadas e os ringues quadrangulares continuam a seduzir profissionais e amadores em locais escondidos das cidades.

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A delegação brasileira no Pan-Americano ainda conta com Julião Mosca, Robenilson de Jesus, Robson Conceição, Myke Carvalho, Yamaguchi Florentino, Roseli Feitosa, e Adriana Araujo – essa é a primeira vez que o boxe feminino participa de um Pan. Além de Lopes, a outra chance de ouro está nas mãos de David Lourenço, 19 anos.

O campeão – Lopes tinha 15 anos quando subiu num ringue pela primeira vez. Até os 16, viveu com a mãe em um barraco de uma das favelas na periferia da capital baiana, onde nasceu. A ausência de camas os obrigava a dormir no chão de terra batida, sobre pedaços de papelão e cobertores. Lopes lembra que o fogão de quatro bocas – três das quais teimavam em não funcionar – dividia o espaço com “uma televisão velha, pequena e frequentemente quebrada”.

A sorte começou a mudar em 2004 quando Lopes, longe dos estudos havia alguns anos e sobrevivendo com um emprego num lava-rápido, decidiu que iria lutar boxe. O lutador vocacional foi descoberto pelo treinador Luis Dorea, que revelou Acelino “Popó” Freitas, campeão de boxe nas categorias pena (até 57,2 quilos) e super-pena (até 59 quilos) – e aperfeiçoou a técnica de gigantes brasileiros do vale-tudo, como Anderson Silva e Minotauro.

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Ainda naquele ano, mudou-se para Santo André, na região do ABC paulista, e passou a receber uma bolsa mensal de 200 reais. No fim de 2005, depois de destacar-se em um campeonato amador da Confederação Brasileira de Boxe, foi convocado a integrar a seleção de boxe amador. Aos 19 anos, foi campeão nacional e ganhou a medalha de prata nos Jogos Sul-Americanos. Aos 21, ouro nos Jogos Mundiais Militares, no Rio de Janeiro. Agora, aos 23, derrotou o ucraniano Denis Berinchyc na decisão do mundial em Baku, no Azerbaijão. “Depois de tudo que passei, virar campeão do mundo é uma alegria que não dá para explicar”, comemora.

Além dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, outro grande desafio de Lopes é conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Londres. A vitória no outro lado do mundo o classificou automaticamente para 2012. Ele espera que o título lhe permita comprar uma casa para a mãe – sonho que os 5 mil reais que recebe por mês, entre bolsas e patrocínios, ainda não tornaram possível.

“Depois disso me aposento”, promete. “Primeiro, porque minha mãe morre de medo quando subo no ringue. Segundo, porque é muito difícil viver de boxe no Brasil. Não existe apoio, nem bons patrocínios. Quando chegar a hora de abandonar a seleção amadora, no máximo aos 34 anos, espero ter voltado a estudar e trabalhar numa profissão que me dê tranquilidade”.

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Até lá, os admiradores da nobre arte ainda terão muito o que apreciar. As competições de boxe no Pan-Americano seguem até o dia 29. Lopes tem certeza que levará para casa algumas das 52 medalhas em jogo.

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