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Cultura

Nossa Senhora Achiropita: festa à brasileira com toque italiano

Festa tradicional da capital paulista reúne mais de mil voluntários e público de 25 mil pessoas

por Abril Branded Content Atualizado em 9 ago 2017, 20h13 - Publicado em
9 ago 2017
20h11

No coração do bairro do Bixiga, em São Paulo, acontece desde 1908 uma das festas mais tradicionais e populares da capital: a Festa de Nossa Senhora Achiropita. Os moradores do bairro fundado por italianos, devotos de Nossa Senhora Achiropita, celebram por dez noites – sempre aos sábados e domingos – a graça concedida pela padroeira. A celebração também atrai caravanas do interior e até de outros estados do Brasil. Recentemente, ela foi incluída no calendário turístico do Estado de São Paulo e, desde 2009, também faz parte do calendário oficial da Cidade de São Paulo.

Em 2017, a 91ª Festa de Nossa Senhora Achiropita acontece, com patrocínio do Bradesco, entre os dias 5 de agosto e 3 de setembro, com público esperado de 25 mil pessoas. Nos fins de semana, os visitantes podem se deliciar nas diversas barracas com pratos típicos italianos que são distribuídas entre as ruas e na parte interna da cantina Madonna Achiropita.

A Festa hoje

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(Paróquia Nossa Senhora Achiropita/Arquivo)

O clima de festa tem causa nobre: além de homenagear a padroeira, ele contribui com a arrecadação de fundos para a manutenção dos projetos sociais da Paróquia N. Sra. Achiropita. Para isso, mais de mil voluntários trabalham durante os cinco fins de semana de agosto e setembro, em cerca de 30 barracas.

Entre os quitutes tipicamente italianos que podem ser provados estão as fricazzas, polentas, antepasti, peperoni, melanzanas ao forno, sardela, macarrões, pizzas e calabresas. Para servir os visitantes, a linha de produção das fogazzas desta edição com 200 voluntários. Já o queijo provolone, tradição desde 1983 e um dos prêmios mais cobiçados da festa, terá dois metros de comprimento e aproximadamente 100 quilos.

Como festa religiosa, também fazem parte da programação as visitações e orações à Nossa Senhora Achiropita; bênçãos de hora em hora; novena para a santa, de 5 a 13 de agosto; missa solene de coroação da padroeira, em 15 de agosto, às 20h; e a procissão em louvor a Nossa Senhora pelo Bixiga, em 20 de agosto, às 15h.

Tradicional barraca das fogazzas
Tradicional barraca das fogazzas (Paróquia Nossa Senhora Achiropita/Arquivo)
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Há mais de um século, nascia a tradição

Atualmente, só existem duas igrejas dedicadas a N. Sra. Achiropita em todo o mundo: a Catedral de Maria Santíssima Achiropita, que fica no Sul da Itália, na cidade de Rossano, região da Calábria; e a Paróquia de N. Sra. Achiropita, em São Paulo. No Brasil, a Festa não só ajuda a propagar a devoção à santa como a tornou mais conhecida e querida por aqui do que na própria Itália.

A celebração teve início graças à chegada a São Paulo dos imigrantes italianos, grande parte deles da Calábria, no início do século passado. Em 1908, uma imagem de Nossa Senhora Achiropita ganhou lar na residência de João Falcone, na Rua Treze de Maio, no Bixiga. Todo o bairro se contagiou pela devoção.

Pouco depois, foi erguido, na rua de terra batida, um altar de madeira para colocar a imagem da santa nos dias 13, 14 e 15 de agosto, quando eram celebradas as missas em sua homenagem. Inspirados a construir uma igreja definitiva para a santa, os moradores começaram a realizar as festas de Nossa Senhora Achiropita.

O cenário da confraternização era bem diferente da festa atual: havia barracas com sorteios de prendas, leilões de carroças, um pau-de-sebo e a banda dos Bersaglieri, vinda da Itália, tocava para alegrar a multidão. Os fundos arrecadados foram destinados a comprar um terreno e às obras. Primeiro, foi construída uma pequena capela, que deu lugar à atual Paróquia de Nossa Senhora Achiropita em seguida.

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Foto de 1970 mostra a comunidade da Paróquia
Foto de 1970 mostra a comunidade da Paróquia (Achiro Orione/Arquivo)

“Antes era uma capela, não era reconhecida pelo clero, não tinha padre e todo casamento ou batizado tinha que ser feito na Igreja do Divino Espírito Santo, na Rua Frei Caneca”, lembra Seu Armandinho do Bixiga no livro Memórias de Armandinho do Bixiga, de Júlio Moreno (Senac, 1996). A Igreja de Nossa Senhora Achiropita foi reconhecida no dia 19 de março de 1926.

Também ocorria a tradicional procissão levando as imagens de Nossa Senhora Achiropita e de Nossa Senhora da Ripalta. Os devotos penduravam fitas na mão das santas, realizavam doações em dinheiro e decoravam as sacadas das casas com colchas. Este último costume servia, originalmente, para sublinhar as distinções entre os ricos e os pobres do bairro, mas, hoje, é uma prática que se incorporou aos símbolos da festa.

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“Essa era uma hora também de mostrar o potencial econômico. A filha do fulano ia com aquela seda; o pobre ia com cetim, sei lá. E a segunda coisa para mostrar o potencial financeiro da pessoa, que eram os quiaquiarones, eram as colchas na janela. Toda casa punha uma colcha na janela. Você passava na casa dos Biondi, dos Pórrio, dos Tenaglia, por exemplo, era aquela colcha de seda. Passava na casa do meu avô, era colcha vagabunda. Eles faziam questão de mostrar, pela colcha, quem cada um era. E era uma homenagem que se prestava à santa”, conta Seu Armandinho do Bixiga no livro de Júlio Moreno.

Conhecido como Seu Armandinho, Armando Puglisi, um grande divulgador do Bixiga, nasceu em 1931 e faleceu em 1994. Fundador do extinto Jornal do Bixiga, criou também o Museu Memória do Bixiga, com acervo de documentos, fotos, quadros e móveis doado pelos vizinhos, imigrantes italianos.

Interrompida: perseguição no Brasil

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a quermesse foi suspensa. Em 1942, o governo de Getúlio Vargas declarou guerra aos países do Eixo – aliança militar entre Alemanha, Itália e Japão – e confiscou os bens de imigrantes italianos, alemães e japoneses. O decreto presidencial considerava estes cidadãos inimigos de guerra e possíveis espiões.

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Apesar de a festa ter sido interrompida, as missas, novenas e procissões continuaram a ser realizadas no período. A Festa de Nossa Senhora Achiropita só voltou a ocorrer na década de 1950. E a partir dessa retomada, a quermesse começou a ficar mais parecida com o que é hoje.

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Dos quitutes para as ruas

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(Paróquia Nossa Senhora Achiropita/Arquivo)

Cordões de lâmpadas coloridas enfeitavam o pátio atrás da igreja, onde era realizada a festa entre os anos 1950 e 1960. Foi nessa época que surgiu a primeira barraca de comida na festa: as senhoras da comunidade vendiam sanduíches de pernil. A iguaria foi muito bem aceita pelos visitantes. Tanto que, a partir de 1975, as famílias do Bixiga começaram a trazer pratos doces e salgados para vender na festa, e os dispuseram em mesas espalhadas pelo pátio da igreja.

Quatro anos depois, a celebração saiu do pátio da paróquia e conquistou a rua. Já era uma celebração grande, com treze barracas e cerca de 200 voluntários. Em 1980, a Festa de Nossa Senhora Achiropita ganhou uma novidade, que é tradição ainda hoje: a barraca de fogazza. Ela começou tímida – apenas dois quilos de farinha foram usados no primeiro dia para fritar os quitutes. No dia seguinte, aumentaram a quantidade, pois fora insuficiente para atender os visitantes curiosos. Em 2003, por exemplo, uma equipe de 130 voluntários utilizou 9 mil quilos de farinha de trigo na barraca das fogazzas.

Hoje, fazer todas estas iguarias e manter todos os visitantes satisfeitos demanda muito mais ingredientes. Em 2017, foram comprados para a festa cerca de 17 mil quilos de farinha de trigo, 11 mil quilos de macarrão, 6 mil latas de óleo, 10 mil quilos de muçarela, 10 mil litros de vinho, 15 mil litros de chope, 15 mil litros de refrigerantes, 5 mil quilos de linguiça, 3 mil quilos de molho de tomate e 6 mil quilos de carne.

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(Paróquia Nossa Senhora Achiropita/Arquivo)

Homenagem aos imigrantes

A Festa de Nossa Senhora Achiropita só acontece graças aos imigrantes italianos, que trouxeram a imagem e a devoção à santa, e a seus descendentes, que trabalham para que a tradição da festa não se perca. Por isso, na década de 1990, decidiu-se realizar também uma missa em homenagem a eles durante as celebrações anuais. As missas e as bênçãos aos visitantes da festa acontecem de hora em hora na igreja.

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Da comunidade para a comunidade

Todo o dinheiro arrecadado na festa é destinado a manter os oito principais projetos sociais da paróquia:

  • Centro Educacional Dom Orione (CEDO): atende 370 crianças de famílias de baixa renda do bairro. O CEDO provê todas as refeições da manhã e da tarde, além de lazer, reforço escolar, acompanhamento psicológico, cursos de digitação, informática e iniciação profissionalizante;
  • Mova: projeto de alfabetização para adultos, que beneficia 150 pessoas;
  • Casa Dom Orione: promove assistência a 130 idosos e oferece atividades de lazer, integração social, musicoterapia, passeios e trabalhos de artesanato;
  • Acolhimento à população de rua: cerca de 200 pessoas são acolhidas diariamente, além de contarem com café da manhã, almoço, banho e lavagem de roupas;
  • Espaço Social Divina Providência: a comunidade carente dispõe de serviços gratuitos, como orientação e assistência psicológica, curativos, assistência médica e jurídica;
  • Alcoólicos Anônimos: programa que promove o resgate da dignidade de homens e mulheres do Bixiga;
  • Creche Mãe Achiropita: atende 184 crianças de 0 a 4 anos de idade em período integral; e
  • Casa Rainha da Paz: um espaço de acolhida para pessoas em situação de dependência química. Localizada em Campos do Jordão (SP), tem capacidade para abrigar 30 dependentes químicos que queiram se reintegrar à sociedade e abandonar as drogas.

Festa de Nossa Senhora Achiropita
Patrocinada por Bradesco

Datas: de 5 de agosto a 3 de setembro
Hora: sábados das 18h às 24h e domingos das 17h30 às 22h30
Local: Ruas 13 de Maio, São Vicente e Dr. Luiz Barreto. Bairro do Bixiga. São Paulo – SP

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