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Vida hippie no Rio de Janeiro marcou início da carreira de Moraes Moreira

Cantor morou nos anos 1970 em um sítio de Jacarepaguá com os Novos Baianos onde, em plena ditadura militar, eles pregavam a paz e o amor

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 abr 2020, 10h29 - Publicado em 14 abr 2020, 10h08

Poucas vezes na história da música brasileira o destino conseguiu unir em um mesmo grupo artistas tão talentosos, como ocorreu com os Novos Baianos, ao juntar Moraes Moreira, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Dadi e Luiz Galvão. A união deles marcou de maneira indelével a cultura nacional com clássicos como A Menina Dança, Brasil Pandeiro, Preta Pretinha e, claro, Acabou Chorare.

Nesta segunda-feira, 13, parte desse arranjo se desfez. O cantor e compositor Moraes Moreira morreu, aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Ao lado dos amigos, ele revolucionou a música nacional ao misturar a batida da Bossa Nova, com forte influência de João Gilberto, a ritmos como o rock, samba, frevo, baião, choro, afoxé e ijexá.

O início dessa revolução musical se deu em 1969, quando Moraes Moreira se mudou para Salvador, na Bahia, e conheceu Baby, Pepeu, Paulinho, Dadi e Luiz, com quem formaria os Novos Baianos. Mas os anos mais criativos e prolíficos do grupo aconteceriam mesmo no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970. Na época, eles se mudaram para um pequeno apartamento alugado em Botafogo, onde compuseram o álbum Acabou Chorare, que ocupou o primeiro lugar em uma lista dos 100 maiores discos da MPB organizada pela revista Rolling Stone, em 2007.

Neste período, eles conheceram João Gilberto, o criador da batida da Bossa Nova, que se impressionou com a criatividade daquele grupo que, assim como ele, também veio da Bahia para tentar a sorte na capital fluminense. É creditada a João, aliás, a ideia para o título Acabou Chorare. João teria contado para Galvão uma história sobre sua filha Bebel, que costumava misturar as palavras em português e espanhol. Após ela cair no chão, disse para os pais “acabou chorare”, explicando que não havia se machucado.

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Logo depois, aquela turma toda se mudaria para um sítio, na Estrada dos Bandeirantes, em Jacarepaguá, onde viveriam por seis anos como verdadeiros hippies. Naquele local, chamado de Cantinho do Vovô, eles criaram uma comunidade livre onde imperava o mantra do paz e amor – e também futebol. Isso em plena ditadura militar. Foi ali onde surgiu o álbum Novos Baianos F.C. (1973), que contou com o hit Com Qualquer Dois Mil Réis. Se por um lado a vida em comunidade fez aflorar o lado mais criativo da banda, por outro também ajudou a sacramentar o seu precoce fim.

Essa história é mostrada em um documentário feito na época por Solano Ribeiro, em que acompanhou o cotidiano daquela turma para lá de criativa. Assista abaixo:

Moraes Moreira foi o primeiro a deixar os Novos Baianos em meados dos 1970 para seguir em carreira solo. O grupo, no entanto, seguiu por mais alguns anos até se separar definitivamente em 1979. Exímio guitarrista, Pepeu se casou com a cantora Baby do Brasil e eles seguiram juntos até se divorciarem nos anos 1980.

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Moraes Moreira, por sua vez, voltou seus olhos para o Carnaval da Bahia, onde se destacou como o primeiro cantor de trio elétrico, no carro de Dodô e Osmar. Vem dessa época as músicas Pombo Correio, Vassourinha Elétrica e Bloco do Prazer. Ao todo, em sua carreira, lançou mais de 40 discos, entre a carreira solo e Novos Baianos. A banda voltou a se reunir outras vezes entre 1997 e 1999 e depois em 2015.

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Da forma como sabia se expressar melhor, Moraes Moreira deixou este mundo com uma composição que reflete como nunca os tempos atuais. Cumprindo a quarentena imposta pelo surto de coronavírus, ele escreveu um cordel em que um trecho diz: “Eu não queria essa praga / Que não é mais do Egito / Não quero que ela traga / O mal que sempre eu evito”.

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