‘Velho Chico’: Tomado pela loucura, Afrânio enfim tira a peruca
Sequência em que personagem desatina e resolve se matar para encontrar o filho perdido tem tintura quixotesca e a melhor atuação de Antonio Fagundes
Só de ter arrancado aquela horrenda peruca acaju, a sequência em que Afrânio, o Coronel Saruê, enlouquece já teria valido a pena. Mas ela foi maior do que isso. No capítulo de Velho Chico exibido na noite desta terça-feira na Globo, o personagem, ensandecido pela perda do filho, Martim (Lee Taylor), que ele pressente morto, vaga pelas margens do São Francisco, se atira no rio e, em passagem inspirada no Quixote, luta contra os moinhos de vento de uma usina eólica. Embora Cícero (Marcos Palmeira) o persiga, tentando trazê-lo de volta à realidade, Afrânio está longe, longe. Encontra seu duplo, ainda de peruca e colete cintilante, e também duela com ele, acusando-o de tê-lo afastado do filho e de si mesmo. Foi a melhor atuação de Antonio Fagundes, que incomodava com o cacoete de falar com a língua enrolada na boca, em toda a novela.
LEIA TAMBÉM:
Câmera subjetiva: solução de ‘Velho Chico’ para Santo é linda
‘Velho Chico’ usa câmera subjetiva no lugar de Domingos Montagner
‘Velho Chico’: energia de Montagner está nas gravações, diz autor
Lombardi presta homenagem ao ator Domingos Montagner
Os diálogos também foram desenhados com apuro. “Eu nunca te disse, Martim, mas você é a prova de que eu podia ter sido um homem melhor”, diz, em certo momento, Afrânio. Martim, que já está em outra dimensão, acaba de se dar conta de que morreu. Conduzido no barco a vapor Gaiola Encantado, ele chega a seu destino: ficará para sempre no São Francisco, cuidando do rio. É por isso que Afrânio sente a sua presença ali, e tem como que um diálogo indireto com o filho, a quem desprezou a vida inteira por ter provocado, sem o querer, a perda da mãe, morta no parto.
Quando Martim rememora o único momento de ternura que tem com Afrânio, a quem enfim chama de pai, o coronel se lembra junto da cena, e repete as frases que disse para o garoto quando o flagrou desperto, insone, ainda criança. “Eu também não consigo dormir desde que a sua mãe morreu”, diz. “Tenho medo de fechar os olhos e não abrir mais. Morrer é dormir pela vida inteira.”
Mas o auge da sequência, em especial para a internet, foi mesmo o momento em que Afrânio, decidido a se lançar ao rio, por onde nadará até alcançar os moinhos de vento, lança na água a peruca que enfeou o personagem durante todo o folhetim. A loucura do Coronel Saruê deve continuar nesta quarta-feira.
https://twitter.com/NaraGil/status/780935383248932866
https://twitter.com/velhochico_/status/780940247358115840
https://twitter.com/anaclara_ac92/status/780946262631780352
https://twitter.com/LeticiaGabbi/status/780941532811657216
https://twitter.com/LayllaZeferino/status/780943614771924992