Um filme iraniano como nunca se viu em Berlim
Longa 'A Dragon Arrives!', de Mani Haghighi, mistura ficção, realidade e mito para falar de verdade e mentira
Por
Mariane Morisawa, de Berlim
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19 fev 2016, 19h16
Cena do filme iraniano 'Ejhdeha Vared Mishavad' ('A Dragon Arrives!', no título em inglês) (Divulgação/VEJA)
O tom de Ejhdeha Vared Mishavad (A Dragon Arrives!, ou “O Dragão Chega!”, em tradução direta do inglês), dirigido por Mani Haghighi, não tem nada a ver com o de Hele Sa Hiwagang Hapis, do filipino Lav Diaz, mas, de alguma forma, os dois se relacionam. O longa-metragem iraniano, exibido na competição do 66º Festival de Berlim, também mescla realidade, ficção e mito para contar um episódio durante um período histórico importante do país, que tem reflexos até hoje.
Tudo começa em 23 de janeiro de 1965, um dia após o assassinato do primeiro-ministro Hassan Ali Mansur, durante o reinado do xá Reza Pahlavi, por membros do grupo Fada’iyan-e Islam, que em 1979 apoiaria a revolução islâmica do aiatolá Khomeini. O detetive Babak Hafizi (Amir Jadidi) havia sido recrutado para investigar o suposto suicídio de um prisioneiro político exilado na ilha de Qeshm. Ele desafiou o aviso de um morador local para não enterrar o corpo no cemitério mal-assombrado em frente ao navio que faz as vezes de prisão, sob pena de provocar um terremoto, que realmente acontece. Pior, só na área do cemitério.
De volta a Teerã, decide descobrir o que de fato aconteceu, chamando o geólogo Behnam Shokouhi (Homayoun Ghanizadeh) e o engenheiro de som Kevyan Haddad (Ehsan Goudarzi). Mais tarde, os três vão ser interrogados por Javad Charaki (Ali Bagheri), membro da temível polícia secreta do xá.
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Haghighi faz uma mistureba divertida, colocando elementos biográficos sobre seu avô, o cineasta Ebrahim Golestan, cenários absurdos, como o do navio no meio do deserto, elementos pop, por exemplo, o carro laranja dirigido por Hafizi, a paranoia provocada pela agência SAVAK, a polícia secreta do xá, o perigo dos terremotos. Tudo para discutir o que é verdade e o que é mentira, sem necessariamente chegar a uma conclusão. Ele mascara com humor temas políticos como o controle da população instituído na época do xá, que encontra reflexos ainda hoje na atuação dos governos islâmicos pós-revolução. Uma coisa é certa: quem está acostumado a ver os longas neorrealistas de outros diretores iranianos vai ficar surpreso com este aqui.
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1. Ave, César!, de Joel e Ethan Coen
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(Reprodução/VEJA)
Os irmãos Coen escolheram a nata atual de Hollywood para interpretar versões fictícias de astros e estrelas da década de 1950. George Clooney é o ator de um épico sobre Jesus Cristo sequestrado por roteiristas comunistas, enquanto Channing Tatum vive um dançarino à Gene Kelly, e Scarlett Johansson interpreta uma espécie de Esther Williams. Mas quem rouba a cena é o jovem Alden Ehrenreich na pele de um caubói que virou ator.
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2. Genius, de Michael Grandage
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(Reprodução/VEJA)
Ex-diretor do teatro Donmar Warehouse, em Londres, onde montou peças com Kenneth Branagh, Jude Law e Judi Dench, Michael Grandage estreia no cinema com a biografia do editor Max Perkins (Colin Firth), que, nos anos 1920, descobriu escritores como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Com o excêntrico Thomas Wolfe (Jude Law), estabelece uma relação vista com desconfiança por sua família.
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3. Midnight Special, de Jeff Nichols
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(Reprodução/VEJA)
Michael Shannon é presença obrigatória nos filmes do cineasta americano Jeff Nichols. Depois de estrelar Shotgun Stories, O Abrigo e Amor Bandido, ele interpreta Roy, que foge com seu filho de oito anos, dono de poderes especiais que o obrigam a usar óculos de proteção. Extremistas religiosos, a polícia e o governo estão interessados no garoto. O elenco ainda conta com Kirsten Dunst e Adam Driver.
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4. Zero Days, de Alex Gibney
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(VEJA.com/VEJA)
O documentarista Alex Gibney (Steve Jobs: The Man in the Machine e Going Clear: Scientology and the Prison of Belief) investiga um vírus de computador criado para sabotar o programa nuclear iraniano que se espalhou pela rede. O Stuxnet teria sido criado pelos governos dos Estados Unidos e de Israel. Gibney também mostra o desenvolvimento de um malware que pode paralisar a infra-estrutura de países inteiros, sem deixar rastros.
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5. Hele Sa Hiwagang Hapis, de Lav Diaz
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(VEJA.com/Divulgação)
O prolífico filipino Lav Diaz é queridinho da crítica e dos festivais internacionais com filmes como Norte, o Fim da História e Do que Vem Antes, que ganhou o prêmio do público para produções internacionais da Mostra Internacional de São Paulo em 2014. Aqui, ele examina, em oito horas de duração, o mito de Andrés Bonifacio y de Castro, líder da resistência de seu país contra o domínio colonial espanhol.
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6. Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert
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Depois de Que Horas Ela Volta?, que recebeu o nome de The Second Mother, ou “a segunda mãe”, na versão em inglês, Anna Muylaert volta a explorar temas relacionados à maternidade em seu novo filme. Pierre (Naomi Nero), mimado pela mãe Aracy (Dani Nefusi), descobre que ela o raptou na maternidade. Seus pais biológicos, Glória (também interpretada por Dani Nefusi) e Matheus (Matheus Nachtergaele), ficaram 17 anos procurando seu filho e agora querem retomar o tempo perdido.
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7. Antes o Tempo Não Acabava, de Fábio Baldo e Sérgio Andrade
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(VEJA.com/Divulgação)
O cineasta Sérgio Andrade (A Floresta de Jonathas) segue tratando da contemporaneidade na região amazônica, agora em parceria com Fábio Baldo. Anderson (Anderson Tikuna) nasceu numa tribo indígena. Vivendo agora com sua irmã e sua sobrinha em Manaus, ele tem acesso a modernidades como um telefone celular. Mas fica dividido entre sua nova vida e o poder das tradições de sua cultura, como o xamanismo.
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8. Chi-Raq, de Spike Lee
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(VEJA.com/Divulgação)
No centro do debate por mais diversidade no cinema americano, Spike Lee está de volta com Chi-Raq, o apelido dado na cena hip-hop a Chicago. A região de South Side é conhecida como a capital do assassinato nos Estados Unidos – entre 2001 e 2015, 7.356 pessoas morreram como resultado da violência com armas. O diretor faz uma versão satírica da comédia clássica Lisístrata, do grego Aristófanes.