Turismo esperto
O saboroso 'Guia Secreto de Buenos Aires', do editor de VEJA Duda Teixeira, convida o visitante a se embrenhar nos aspectos mais inusitados das ruas portenhas
O fantasma de Carlos Gardel assombra o Abasto Shopping, centro de compras de Buenos Aires construído sobre o local onde ficava um mercado muito frequentado pelo mítico cantor de tango. A lenda urbana aparece no primeiro parágrafo de Guia Secreto de Buenos Aires (Record; 208 páginas; 39 reais, ou 27 reais na versão eletrônica), de Duda Teixeira, editor de VEJA. Poucas páginas adiante, o autor corrige outra história folclórica, esta do bairro La Boca: não, as casas do Caminito, que se tornaram ponto turístico pelas cores exuberantes, não foram pintadas pela população pobre com restos de tintas usadas no porto – até porque não se costuma ver barcos com cores berrantes como laranja e roxo. O colorido característico foi obra de Benito Quinquela, artista plástico que enriqueceu e, a partir dos anos 30, dedicou-se a revitalizar o bairro humilde de onde viera. Este novo guia de Duda Teixeira (coautor, ao lado de Leandro Narloch, de Guia Politicamente Incorreto da América Latina) é um saboroso combinado de mitos locais, fatos históricos, dicas gastronômicas e curiosidades variadas dessa bela mas bagunçada capital que tem pretensões de ser a mais “europeia” das cidades da América do Sul.
Dividido em verbetes e com pequenos mapas de cada bairro, o livro propõe uma modalidade de turismo que não se satisfaz só com os cartões-postais. O leitor é convidado a contemplar, por exemplo, o singular monumento à propina (sim, esta ainda é uma cidade sul-americana) que figura no prédio do Ministério do Desenvolvimento Social, ou a decifrar os símbolos maçons que se espalham por Buenos Aires – figurões da história argentina, como Domingo Sarmiento, presidente e autor do clássico Facundo, pertenciam à sociedade secreta. As mazelas e vergonhas da história argentina, como os desmandos populistas do governo Perón ou a tortura e os assassinatos da ditadura militar, também fazem parte do trajeto. No espírito de demolição dos mitos esquerdistas do guia anterior, o autor lembra o generoso financiamento público recebido pelas incensadas Madres de Plaza de Mayo para prestar apoio aos governos de Néstor e Cristina Kirchner. Ao lado disso, porém, estão indicações leves e prazerosas: lojas onde comprar um bom vinho malbec, ou um ranking dos melhores alfajores da cidade. Buenos Aires aparece, neste livro, com todas as cores e sabores.
1 – Vila Freud
A fixação dos argentinos por Freud levou uma praça de Buenos Aires a quase ganhar o nome de ‘Palermo Sensível’
2 – O fantasma de Evita
Na Biblioteca Nacional, funcionários disseram ter visto o espectro de mulher loira, magra, com cabelo solto e vestido longo derrubando livros e esfriando o ambiente. Uma desculpa para fazer uma média com os chefes e camaradas peronistas.
3 – Star Trek
Por que o gesto da saudação vulcana do personagem Spock está gravado nas paredes da mais antiga sinagoga da Argentina?
4 – Piripipí dos taxistas
Não caia nessa! Uma maneira peculiar de os tacheros em Buenos Aires enganarem os clientes
5 – O jornaleiro do papa
A capital argentina ganhou mais um atrativo depois que Jorge Bergoglio tornou-se o papa Francisco. Um dos pontos de interesse é uma banquinha na Praça de Mayo, fornecedora oficial de jornais para o então arcebispo.
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