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‘Trash’ mostra a difícil jornada para se fazer o que é certo

Três adolescentes sem experiência em atuação são a alma do filme que estreia nesta 5ª, coprodução entre Brasil e Grã-Bretanha, dirigida por Stephen Daldry

Por Flávia Ribeiro, do Rio de Janeiro
8 out 2014, 19h31

Três meninos de 15 anos, vindos de diferentes favelas do Rio de Janeiro, dois deles sem nenhuma experiência prévia com atuação, emprestam frescor e emoção a Trash – A esperança vem do lixo, novo filme do britânico Stephen Daldry (de Billy Elliot e As Horas). Dois deles, Rickson Tevez, morador da Rocinha, e Eduardo Luís, de Inhaúma, interpretam respectivamente Raphael e Gardo, ambos de 14 anos, catadores de lixo que vivem em uma favela à beira de um lixão carioca e encontram uma carteira em meio aos dejetos. Dentro dela, um pouco de dinheiro, a foto de uma menina, números anotados e uma chave de guarda-volumes. É quando entra em cena Gabriel Weinstein, morador da Cidade de Deus e o único com uma pequena experiência como ator. Ele é Rato, menino que vive à margem mesmo daquela sociedade já marginal, a quem os outros dois recorrem, pedindo ajuda na investigação sobre o dono da carteira e o que ela esconde. Com desenvoltura e muita profundidade no olhar, os três são a alma do filme.

O filme é baseado no livro Trash, de Andy Mulligan, que se passa no lixão de um país fictício. Como diz Daldry, poderia ser na Índia ou nas Filipinas, por exemplo. Mas, ao adaptá-lo, ele e o roteirista Richard Curtis optaram pelo Brasil. “Escolho o filme pela história. E essa era uma fantástica história sobre esperança, coragem, justiça e fé. Uma pequena fábula, que exigia três jovens atores extraordinários. A esperança e o otimismo que vemos na tela é um reflexo da esperança e do otimismo desses três meninos. Tentamos fazer o filme funcionar a partir do senso de justiça desses garotos”, comenta Daldry, que veio ao Brasil para o lançamento do filme, nesta quinta-feira. O diretor se ancorou ainda no trabalho dos americanos Martin Sheen e Rooney Mara e no dos brasileiros Wagner Moura e, principalmente, Selton Mello: “Vocês têm atores brilhantes aqui e sou afortunado por ter trabalhado com alguns dos melhores”.

Wagner é José Ângelo, o dono da carteira, personagem que aparece pouco, mas guia os meninos em sua jornada em busca de fazer o que é certo. Selton é Frederico, inspetor de polícia afundado até o pescoço em um esquema de corrupção que envolve um deputado vivido por Stepan Nercessian. A carteira que os meninos encontraram esconde a chave não só para muito dinheiro, mas também para segredos do parlamentar. Eles passam a ser perseguidos e sofrem agressões ainda maiores do que às do dia-a-dia na miséria. Mas não desistem nem por um segundo. Para ajudá-los, contam apenas com dois americanos: o padre Julliard (Martin Sheen) e a professora de inglês Olivia (Rooney Mara), que faz trabalho voluntário na favela.

Trash é um thriller, gênero no qual Daldry é estreante. Um filme de ação no qual o jogo de gato e rato entre Frederico e os meninos, especialmente Raphael, empolga e mascara o tom didático adotado em certos momentos e algumas inconsistências no roteiro, especialmente em relação à filha de José Ângelo, Pia (Maria Eduarda). A trama se passa toda no lixão, numa favela, em esgotos e numa rodoviária, com rápidos vislumbres da praia carioca. “Não é um filme sobre o Rio bonito, sobre os cartões postais. A cidade que mostramos é a que fica à margem, no subterrâneo”, justifica Daldry. O diretor e sua equipe pesquisaram lixões reais antes de construir o cenográfico, bastante realista, palco de cenas que chegam a dar um nó na garganta até do espectador menos sensível: os meninos nadando num canal insalubre, desviando-se do lixo enquanto brincam.

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Diamantes brutos – Coragem, fé, esperança e o desejo de fazer a coisa certa se contrapõem à pobreza, à corrupção e à violência nas vidas dos três meninos. O filme consegue fazer os espectadores temerem pelas vidas de Raphael, Gardo e Rato. Cada um com sua própria personalidade, eles conquistam a tela. Mas, para isso, Rickson, Eduardo e Gabriel precisaram ser, antes, conquistados, como comenta o ator André Ramiro, que interpreta o carcereiro Marco: “Embora nas telas o que se veja seja a violência, nós ganhamos a confiança e o respeito deles com afeto”.

Rickson Tevez estava jogando futebol na rua com os amigos, quando duas pessoas se aproximaram e pediram seu nome e telefone. O garoto, então com 14 anos, logo ficou esperançoso. “Pensei que iam me chamar pra ser jogador de futebol, fiquei animadão. Não era”, relembra ele, o mais tímido dos três jovens protagonistas. Morador da Rocinha, Rickson, um ano mais velho, nunca tinha pensado em ser ator. No entanto, ficou com ele o papel de Raphael, possivelmente o mais difícil do filme: sério e introvertido, o catador de lixo lidera os amigos Gardo e Rato nesta aventura perigosa.

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Com Eduardo Luís, que interpreta Gardo, a coisa foi parecida. Morador de Inhaúma e louco pela Caprichosos de Pilares, Eduardo estava na quadra da escola de samba, tocando repinique, quando foi abordado por um grupo, também pedindo nome e telefone da mãe. “Eu estava ensaiando, pensei que era para entrar para a bateria mirim da escola”, diz o garoto de 15 anos, que vive o mais articulado e extrovertido dos três meninos do filme, fluente em inglês, inclusive. Na vida real, cursa o primeiro ano do Ensino Médio. Até gostou da experiência como ator, mas não pensa em abandonar a escola para seguir na profissão. “Fiquei com vontade de fazer isso no futuro, mas em primeiro lugar vem o estudo. Por que, se isso de ser ator não der certo, o que vou fazer? Viver de passado.”

Único com alguma experiência como ator, Gabriel Weinstein é Rato, menino abandonado, coberto de feridas na pele, que vive sozinho numa entrada de esgoto próxima ao lixão. Rato é carente e conhece os caminhos do submundo. Guia Raphael e Gardo por subterrâneos, fugindo da polícia e de menores criminosos. E, assim como os outros dois, escolhe sempre fazer a coisa certa. Gabriel, também de 15 anos, é morador da Cidade de Deus e teve um pequeno papel na série da televisão brasileira Hoje é Dia de Maria, da Rede Globo. Gostou da história de ser ator, mas não imaginava que sua grande oportunidade apareceria tão de repente. “Eu estava andando de bicicleta quando me chamaram. Quando eu soube que era teste para um filme, vi que era a minha chance”, afirma ele, que já sonha com novos papéis.

Cena do filme 'Trash – A esperança vem do lixo'
Cena do filme ‘Trash – A esperança vem do lixo’ (VEJA)
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