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Tragédia gentil

Com 'Assunto de Família', Hirokazu Koreeda deixa a plateia sentir-se confortável e então a acerta no coração

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2019, 11h14 - Publicado em 11 jan 2019, 07h00

Oamu (Lily Franky) e sua mulher, Nobuyo (Sakura Andô), não são pessoas muito honestas, tampouco esforçadas: ambos têm empregos que levam daquele jeito, mas ficam felizes mesmo é quando roubam pequenos itens — um xampu, um salgadinho — das lojas, não raro com a participação do filho, o garoto Shota (Jyo Kairi). Junto com outra parente, eles se apinham na casa da avó, em meio a uma bagunça tão compacta que quase pode ser dividida em estratos geológicos. Mas o clã Shibata não é gente má. Eles se amam uns aos outros com uma alegria gentil, e imediatamente começam a amar também Yuri, de 5 anos (a fofésima Miyu Sasaki), que encontram passando frio na varanda dos pais e levam consigo para casa. O jantar vira um pernoite; o pernoite vira meses: Yuri é quietinha, esperta (tem um dom natural para furtar, aliás) e é também uma criança abusada pelos pais. Por que não deveria ficar com quem a ama e a trata com carinho?

Durante aproximadamente noventa de seus 121 minutos, Assunto de Família (Manbiki Kazoku/Shoplifters, Japão, 2018) cerca o espectador do mesmo conforto e graça que Yuri agora desfruta, deixando-o acomodar-se no mundo ameno desses pequenos e afetuosos marginais — para então, no ato final, virá-lo do avesso com a tragédia funda, calada e inapelável que o diretor Hirokazu Koreeda sempre soube existir no interior dessa história.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e candidato do Japão ao Oscar de produção estrangeira, Assunto de Família rivaliza com Ninguém Pode Saber, de 2004, como o melhor trabalho de Koreeda — um mestre do drama enganosamente simples e do retrato que apenas parece ser casual. Expoente do cinema japonês contemporâneo, Koreeda a cada filme faz, desfaz e refaz as definições de amor e família enquanto também seus personagens fazem, desfazem e remendam — ou não — seus laços. Não é raro que, ao fim de um filme seu, a plateia se veja simultaneamente arrasada e enlevada. Com esta joia, porém, ele atinge, aos 56 anos, uma voltagem e uma pungência imprevistas até para uma obra como a sua. E, com ela, prenuncia uma maturidade artística cujos frutos mal é possível imaginar.

 

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

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