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Toca ou não toca: relembre o repertório de Raul Seixas em 20 momentos

Na data em que completam 30 anos da morte do cantor, confira suas canções que merecem ser lembradas - e aquelas que se deve esquecer

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 ago 2019, 18h10

Às 7h da manhã do dia 21 de agosto de 1989, Raul Seixas foi encontrado morto por sua empregada, Dalva, no apartamento em que morava na zona central de São Paulo. Tinha 44 anos e fazia tempos que enfrentava problemas de saúde por causa do consumo excessivo de bebida. Com sua morte, consolidou-se uma imagem que já fazia parte do imaginário de seus fãs: o místico, o iluminado, o profeta, que vislumbrou uma sociedade utópica e uma filosofia que compreendia até forças ocultas.

No 30º aniversário de sua morte, já é hora de fazer uma análise mais fria de sua obra como compositor. E o que emerge dela é um artista irregular, capaz de criar canções notáveis, mas também músicas francamente constrangedoras.

Abaixo, vintes momentos em que Seixas foi do roqueiro fenomenal ao fiasco como compositor:

Toca Raul!

Ouro de Tolo (1973)

Canção de Krig-Ha, Bandolo, ela traz uma síntese da vida de Raul Seixas até então. Ele tinha saído de Salvador para o Rio com a banda Os Panteras e passou por dificuldades até ser contratado como diretor artístico de um selo da antiga gravadora CBS. A insatisfação cotidiana, contudo, rendeu versos inspirados como “Eu devia estar contente/ Por ter conseguido tudo o que eu quis/ Mas confesso abestalhado/ Que estou decepcionado”.

Metamorfose Ambulante (1973)

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Outra de Krig-Ha Bandolo, Metamorfose é uma das canções que deram a Raul uma aura de “profeta”. Mas trata-se de uma letra inteligente – escrita pelo próprio – que fala da flexibilidade de opiniões do ser humano. “Eu quero dizer/ Agora o oposto do que eu disse antes”, apregoa. Basicamente, ele quer dizer que sentimentos e humores são fugazes.

Sociedade Alternativa (1974)

A parceria de Raul Seixas com o letrista Paulo Coelho adentra numa fase mística. Sociedade Alternativa é inspirada nos textos do ocultista inglês Aleister Crowley e sua Lei de Thelema, que pregava “faze o que tu queres há de ser tudo da lei”. Mas o governo militar não gostou muito do conteúdo “subversivo” da canção e tanto Seixas quanto Coelho foram detidos e deportados do país. Décadas depois, Sociedade Alternativa viria à tona novamente ao ser interpretada pelo roqueiro americano Bruce Springsteen durante sua passagem pelo país.

Gita (1974)

Foi o sucesso de Gita que trouxe Raul e Paulo Coelho de volta para o Brasil. A dupla tinha sido deportada pelo governo militar porque era considerada “subversiva”. A letra de Gita foi inspirada no Bhagavad-Gita, livro sagrado do hinduísmo. A canção se tornou carro-chefe do álbum homônimo, que bateu a marca de 100.000 discos vendidos – um recorde para a época. Foi outra música que definiria a aura “mística” de Seixas.

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Tente Outra Vez (1975)

Hoje ela poderia ser considerada a pioneira da “canção de autoajuda”. Um tipo mais lento de rock, ela fala que o ser humano nunca pode desistir, apesar das dificuldades criadas pela vida. Chitãozinho, da dupla com Xororó, confessou que decidiu continuar a carreira artística – eles estavam há tempos na estrada e não tinham alcançado sucesso – depois de ouvir essa canção.

Tu és o MDC da Minha Vida (1975)

Musicalmente, é uma canção que emula a sonoridade do brega, gênero popular romântico que fazia muito sucesso no início dos anos 70. A letra é um primor: para falar de um amor perdido, Raul chega a rimar “lasanha” com “Casas da Banha” (uma rede de supermercados daquele período).

A Maçã (1975)

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Raul era tido como um místico, um profeta. Mas grande parte de seu repertório era composta de letras de amor. Maçã é uma das mais bonitas e tristes delas. Fala essencialmente de liberdade sexual. A maçã, nesse caso, seria o fruto proibido. “Se esse amor/ Ficar entre nós dois/ Vai ser tão pobre, amor/ Vai se gastar”, diz um trecho da letra.

Canto para a Minha Morte (1976)

Um dos poucos destaques do irregular álbum Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás. É um tango, escrito em parceria com Paulo Coelho, no qual Seixas fala do dia de seu encontro inevitável com a morte. Uma das melhores letras de Coelho e uma das canções mais importantes do repertório do roqueiro baiano.

Maluco Beleza (1977)

Raul Seixas encontra um novo parceiro – Claudio Roberto – e faz uma canção sobre seu estilo de vida. Roberto diz que tinha a melodia há algum tempo, mas a letra era em inglês. Seixas então faz um manifesto sobre viver de maneira alternativa, sem amarras. É uma das composições mais adoradas pelos fãs do cantor.

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Aluga-se (1980)

O último grande suspiro de criatividade de Raul Seixas. Depois de um período errático, ele encontrou abrigo na gravadora CBS e realizou o disco Abre-te Sésamo. A canção é repleta de uma ironia mordaz e comenta os tempos de crise econômica dos anos 80. Raul propõe que o país seja alugado para o capital internacional para pagar a dívida externa.

Não toca Raul!

Você Ainda Pode Sonhar (1968)

Faixa do único disco de Raulzito e Seus Panteras, primeiro grupo de Seixas – que sempre valeu mais pela importância histórica que pela qualidade musical. A gravação não faz jus às apresentações dos Panteras, que eram consideradas incendiárias. Você Ainda Pode Sonhar é uma versão livre – bota livre nisso – em português de Lucy in the Sky With Diamonds, dos Beatles.

S.O.S. (1974)

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A música nem é tão ruim. Só que não é dele. S.O.S. é na verdade Mr. Spaceman, sucesso do grupo americano The Byrds. Raul Seixas levou tudo: arranjos, temas… Um, digamos, empréstimo tão flagrante que não enganaria nem o mais desavisado dos extraterrestres.

Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás (1976)

Não bastasse o grosseiro erro de português contido no título (o verbo haver dispensa a palavra “atrás” na referência ao passado), a canção é um plágio de I Was Born Ten Thousand Years Ago, do repertório de Elvis Presley, e mostra o esgotamento dessa fase mística de Seixas. Basicamente, fala de um mendigo que narra suas desventuras pelo tempo. E tome Moisés, Drácula…

Movidos a Álcool (1979)

A canção conseguiu desagradar até Tania Menna Barreto, uma de suas autoras. Também, pudera. Seixas passava por um dos piores momentos de sua vida e se associou ao argentino Oscar Rasmussem – que, dizem, lhe fornecia drogas em troca de parceria nas composições. Uma bobagem que fala da paixão dele pelo álcool.

O Segredo do Universo (1979)

Outra canção de Por Quem os Sinos Dobram, um dos piores discos da carreira de Raul. É uma parceria dele com o argentino Oscar Rasmussen. Uma pérola da autoajuda que traz versos do quilate de “não se vence uma guerra sozinho” ou “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”. Definitivamente, Rasmussen não era Paulo Coelho, muito menos Claudio Roberto.

O Rock das Aranhas (1980)

Outro plágio feio de Raul Seixas. Rock das Aranhas é inspirada – quer dizer, roubada – de Killer Diller, de Jimmy Breadlove. Engraçada para os padrões da década de 1980, hoje ela soa como uma pérola do preconceito. Ao dizer coisas como que “não é normal” ver “duas mulher (sic) botando a aranha pra brigar”, descamba para o machismo e a homofobia de forma chula.

DDI – Discagem Direta Interestelar (1983)

Raul tinha perdido até o dom da ironia quando criou essa composição, em parceria com a então mulher Kika Seixas. A letra fala de uma ligação de Deus para os seres humanos se comportarem – se não, o diabo iria tomar conta do planeta. É um tanto raso, convenhamos, para quem um dia filosofou sobre uma certa Sociedade Alternativa

Mamãe Eu Não Queria (1984)

Abre-te Sésamo, de 1980, até prometia uma nova fase de Raul Seixas. Mas ele se perdeu de vez. Mamãe Eu Não Queria é um protesto anti-militarista tosco e mal cantado. Traz até uma referência paupérrima ao “Marcha soldado, cabeça de papel/ Se não marchar direito vai preso pro quartel” das canções infantis.

I Am (1987)

Versão em inglês do sucesso Gita. Precisa explicar mais?

Não Quero Mais Andar na Contramão (1988)

Uma brincadeira de Raul Seixas sobre como lutava contra seu vício em álcool e drogas. Em termos de ironia, Seixas já tinha sido muito melhor. Aqui, ele se limita a falar de amigos e parentes que vêm da Bolívia e da Colômbia (uma alusão tosca à cocaína) e de uma tia da Argentina que lhe traz perfume. No ano seguinte, Raul morreria em decorrência do alcoolismo.

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