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Tiroteio e crítica social

Em 'As Viúvas', o diretor de '12 Anos de Escravidão' flexiona seus músculos num thriller elétrico

Por Isabela Boscov Atualizado em 23 nov 2018, 08h34 - Publicado em 23 nov 2018, 07h00

Veronica, Linda, Alice e Amanda nem se conhecem, mas ficaram viúvas ao mesmo tempo — no instante em que a polícia mandou tal quantidade de balas contra o furgão de uma quadrilha de assaltantes que o veículo explodiu. Elas têm um problema em comum: o dono dos 2 milhões de dólares incinerados junto com os ladrões quer o dinheiro de volta. “Quer” é maneira de dizer: exige, com o tipo de argumento que não deixa dúvida. Veronica (Viola Davis), a primeira a sentir a pressão, por ser viúva do chefe do bando (Liam Neeson), tenta vender sua única herança — o último plano de assalto elaborado pelo marido. Como o neg��cio não anda, julga que só há uma saída: convoca as outras mulheres para executarem, elas mesmas, a ação.

À primeira vista, As Viúvas (Widows, Estados Unidos/Inglaterra, 2018), que estreia nesta quinta-feira no país, parece um projeto pouco característico do diretor inglês Steve McQueen, afeito àqueles temas que vêm com maiúscula — a morte na prisão do membro do IRA Bobby Sands em Fome, o nojo, êxtase e compulsão que vitimam um viciado em sexo em Shame e o autoexplicativo 12 Anos de Escravidão. Adaptado de uma série inglesa criada por Lynda La Plante em 1983 e roteirizado pela escritora Gillian Flynn, de Garota Exemplar e Sharp Objects, As Viúvas, entretanto, é o filme mais potente do diretor até aqui. McQueen faz não só suspense eletrizante como também um comentário incisivo sobre as situações diversas de dependência em que as mulheres se veem ou se deixaram ficar: o marido que perde dinheiro no jogo e arruína o negócio de Linda (Michelle Rodriguez), o que mima Alice (Elizabeth Debicki) num momento e no outro a espanca, e o que lega a Veronica uma situação terrível e, ainda por cima… —não convém dizer. A quarta mulher, interpretada por Carrie Coon, é um enigma, o que leva o trio a recrutar a cabeleireira Belle (Cynthia Erivo), uma mãe solteira cansada de se equilibrar entre vários empregos. Viola à frente, o elenco é um estrondo.

De alguma forma, essa história se emaranha com outra que se vai desnovelando, sobre um clã político que, pela primeira vez, encontra concorrência nas eleições para a câmara municipal: Jack Mulligan (Colin Farrell), que dava como certa sua vaga de vereador, está ameaçado por Jamal Manning (Brian Tyree Henry), um traficante negro que quer a um só tempo legitimar suas atividades e ganhar poder para facilitar suas ilegalidades. Jack despreza seu pai (Robert Duvall), mas segue pelo mesmo caminho que ele; seu programa de financiamento a microempreendedoras não passa de um esquema de extorsão. Jamal posa de candidato que de fato vive na comunidade carente que pretende representar, mas é um farsante que explora sua cor e seu meio sem o menor pejo. Vale notar, aliás, que o enredo se passa em Chicago, uma das cidades americanas mais assoladas pela corrupção política, a qual engendra outras formas de corrupção, em todas as esferas. Sem nunca deixar de ser um thriller musculoso e terso, assim, As Viúvas mais e mais se metamorfoseia em algo inesperado: uma mirada lúcida sobre as coisas que só mudam para continuarem exatamente iguais.

Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2018, edição nº 2610

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