Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

‘The Walking Dead’ evidencia lado sombrio da natureza humana

Em sua 6ª temporada, série responsável por tirar zumbis das tumbas cults e levá-los para o mainstream alcança seu auge de audiência – e de brutalidade

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jul 2016, 19h01 - Publicado em 3 abr 2016, 08h47

Quando começou, em 2010, The Walking Dead era facilmente descrita como uma série de zumbis. Agora, seis anos depois, quando um fiel espectador é questionado sobre o mote do programa, com certeza dirá que os seres mortos-vivos nada mais são que nojentos coadjuvantes na trama. A sexta temporada, que chega ao fim neste domingo, é a melhor prova desta afirmação. Com o passar do tempo, os zumbis perderam o posto de grande ameaça para os seres humanos. Afinal, se em um mundo sem leis, uma pessoa deu um jeito de sobreviver, provavelmente, boa gente não é. A teoria vale também para os amados protagonistas do seriado.

“Um dos principais propósitos do filão de zumbis é explorar a condição do homem, olhando para nosso lado obscuro. Realmente cuidamos um do outro ou estamos a apenas um apocalipse de distância de nos tornarmos nossos piores inimigos?”, questiona Arnold T. Blumberg, especialista em zumbis (sim, isso mesmo) e professor do curso “Zumbis e a Mídia Popular” na Universidade de Baltimore, nos Estados Unidos.

Tal dúvida tem conduzido The Walking Dead ao longo dos anos, mas encontrou o que parece ser seu auge na atual temporada. O elenco principal, conduzido por Rick Grimes (Andrew Lincoln), passou pelas mais variadas adversidades em um roteiro cíclico, intercalando momentos sem rumo por florestas e cidades abandonadas, com outros em que eles encontram abrigo e tentam estabelecer uma sociedade minimamente digna. Recentemente, os personagens fincaram bandeira em Alexandria, um antigo condomínio fechado de classe média alta, reforçado por altos muros e constante vigilância. Se antes era difícil achar água para beber, agora os personagens gozam até mesmo de banhos quentes.

Se a vida ficou mais fácil, as visões sobre o novo mundo, nem tanto. Na primeira metade da temporada, o grupo principal se dividiu entre os que, traumatizados, não se arriscam mais e matam sem pensar duas vezes sempre que trombam com um novo individuo fora dos muros de Alexandria. Outros, especialmente Morgan (Lennie James), acreditam que toda vida tem seu valor e que a civilização só será possível se existirem segundas chances, julgamentos honestos e, por que não, um pouco de compaixão.

Continua após a publicidade

“Produções apocalípticas obrigam o espectador a confrontar seus valores mais arraigados e a se perguntar: ainda seríamos capazes de defender esses valores em um mundo assim? O que seria permitido fazer? O que seria proibido? Sobrou algum limite, no fim das contas?”, questiona Christopher Robichaud, professor de literatura em Harvard e autor do livro The Walking Dead e a Filosofia (BestSeller).

Do outro lado da tela, os fãs também se dividem entre os dois pensamentos. No Twitter, espectadores acompanham ao vivo os episódios, exibidos no Brasil pelo canal Fox, e comentam as atitudes dos anti-heróis, com críticas ou mensagens de apoio. O burburinho tem dado bons resultados de audiência. Até o penúltimo episódio, a sexta temporada marca uma média de audiência 30% maior do que a quinta – que até então era a recordista. A série ostenta o título de programa mais visto em toda a história da Fox no Brasil. Nos Estados Unidos, o saldo é parecido, só que ainda mais exuberante. A atual temporada bateu picos de 19,5 milhões de espectadores em um único episódio. No caminho entre o trash e o cult, os zumbis de The Walking Dead encontraram seu lugar no mainstream.

A expectativa é que o último capítulo seja a alavanca final para dar à temporada um novo recorde de audiência. Os 15 últimos episódios, aliás, foram apenas uma “leve” introdução da produção que vai ao ar neste domingo. O ator Jeffrey Dean Morgan finalmente fará sua estreia na série na pele do vilão Negan, considerado o mais brutal personagem da trama nos quadrinhos.

Leia também:
Episódio de ‘The Walking Dead’ assusta vizinho – que chama a polícia
Fã de ‘The Walking Dead’ mata amigo após acreditar que ele virou zumbi
Ator de ‘The Walking Dead’ é mordido por fã

Velhos monstrengos – Não é de hoje que os errantes corpos decrépitos andarilhos são um prato cheio para associações que vão de religião e política a criticas ao consumismo e à própria natureza humana.

A série é resultado de uma onda crescente, que tomou corpo no começo dos anos 2000, com filmes bem recebidos como Extermínio (2002); e o remake Madrugada dos Mortos (2004), inspirado no clássico O Despertar dos Mortos (1978), de George A. Romero – aliás, considerado o pai da cultura do zumbi como é conhecida hoje em dia. A superprodução com Brad Pitt Guerra Mundial Z (2013) e as comédias Zumbilândia (2009), Meu Namorado é um Zumbi (2013) e Orgulho e Preconceito e Zumbis (2015) completam o pacote mais recente que merece destaque. O efeito TWD também deu origem a outros programas televisivos como Z Nation, do canal SyFy, e o seriado adolescente iZombie, da CW.

“Nunca estivemos mais alienados, assustados e esperando por um apocalipse como hoje em dia. Culturalmente, nós gostamos dos zumbis para dar vazão aos nossos medos como uma maneira de compartilhá-los e vivê-los por duas horas no cinema, para depois sairmos sãos e salvos da sala”, diz Blumberg.

Segundo Mary Elizabeth Ginway, professora de literatura na Universidade da Flórida, a crise americana provocada pelos ataques às Torres Gêmeas em Nova Iorque, em 2001, colaborou para o ambiente de medo e incerteza, refletido nas produções de zumbis. “Grupos alheios, por idade, por ideologia, por raça ou classe, se tornam mais ameaçadores. A ‘zumbificação’ do ser humano representa os medos e também o ser que é um resultado de sistemas, como o econômico e político.”

Continua após a publicidade

Com fundos filosóficos, educativos, ou para o mero entretenimento, os personagens comedores de carne humana – com apetite especial por cérebros – prometem continuar em alta por muito tempo. TWD, por exemplo, não tem prazo para terminar – rumores sugerem que o programa deve continuar no ar, pelo menos, até 2022. De livrarias até aplicativos de celular, sem esquecer as pegadinhas de Silvio Santos no SBT, a invasão dos zumbis pode ser vista por todos os lados, meios e para variadas idades. O apocalipse zumbi já aconteceu, mas, ao contrário do esperado, são poucos os que querem fugir desta infecção.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.