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The Shed: a principal inauguração cultural de Nova York em décadas

Centro artístico e cultural abre nesta sexta-feira, 5, com uma série de concertos imaginada pelo cineasta Steve McQueen e guiada pelo lendário Quincy Jones

Por Lúcia Guimarães Atualizado em 5 abr 2019, 15h59 - Publicado em 5 abr 2019, 15h19

Chega pra lá, Lincoln Center, dá licença, MoMA, tchau, Carnegie Hall? Não é exagero especular que, se os líderes dos gigantes culturais que reinaram na metrópole do século XX se reunissem no fundo de um bar, poderiam estar destilando alguma inveja. Manhattan acabou de ganhar The Shed (O Galpão), um centro artístico e cultural multimídia, multidisciplinar, abrigado numa estrutura que muda de forma para se adaptar ao que apresenta. A programação inicial vai alinhar artistas emergentes e alguns dos maiores nomes das artes contemporâneas, como o pintor Gerhard Richter, o soprano Renee Fleming, os compositores Steve Reich e Arvo Pärt, o premiado diretor de 12 Anos de Escravidão, Steve McQueen, em parceria com o músico Quincy Jones, e a cantora Björk, em parceria com a cineasta argentina Lucrecia Martel.

The Shed (Iwan Baan/.)

 

O prédio à beira do rio Hudson, no lado oeste da ilha, tem 8 andares e 19.000 metros quadrados de espaço público. A estrutura contrai e expande como um telescópio. Não tem frente ou fundos e pode ser explorado sem compra de ingresso para atrações específicas. É um projeto da arquiteta Elizabeth Diller, também responsável pelo novo prédio anexo ao Museu de Arte Moderna, com David Rockwell.

The Shed visto da Highline (Iwan Baan/.)

O centro fica no encontro do popular parque Highline com o recém-inaugurado complexo imobiliário Hudson YardsVai integrar artes e atividades cívicas. O diretor artístico e CEO do Shed Alex Poots diz a VEJA que a ideia é criar paridade entre artes de performance, artes visuais, cultura popular, entre artistas estabelecidos e de comunidades, entre artistas e o público. Poots é um escocês que dirigiu por dez anos o Festival Internacional de Manchester, na Inglaterra, até 2015, e esteve à frente, por três anos, do Park Avenue Armory, de Manhattan, o centro que mais se assemelha ao Shed.

Questionado se faz diferença aceitar a direção do novo centro sob os ventos liberais de Barack Obama e inaugurar na polarizada era Donald Trump, ele faz uma pausa. “Meu país está assim também”, responde, numa referência ao Brexit. “O Brasil enfrenta isso também. Muitas vezes, quando há uma tempestade, algo muda, depois de três passos para frente, dois para trás. O Shed existe para abraçar a fluidez. O mundo não é preto e branco, sempre há uma constelação, um arquipélago.”

Poots diz que o Shed quer se afastar da ideia de alta e baixa cultura, “que é muito condescendente com as pessoas identificadas para baixo, e empurra para cima quem pensa que está no alto”, continua. “E, se podemos criar uma casa para eles, onde possam trabalhar sozinhos ou em colaboração, quem sabe, teremos alguma chance de ampliar a audiência, inclusive os que pensam que as artes não são feitas para eles.”

Dan Doctoroff, Alex Poots, Tamara McCaw em coletiva no Shed (Lúcia Guimarães/VEJA.com)

Contrastes

A inauguração do Shed, precedida pela inauguração do anexo Hudson Yards, despertou comparações inevitáveis. Seria o Shed um ato de contrição pelo complexo de escritórios de grandes corporações, torres residenciais e comércio que críticos de arquitetura locais descreveram como “pequena Dubai” e “o primeiro quase-fechado condomínio da Manhattan para o 0,01% dos americanos”?

O centro tem uma diretora de Programas Cívicos, Tamara McCaw. Como ela pretende cumprir a missão de atrair público de bairros pobres da região metropolitana de Nova York na vizinhança de tanta afluência? Ela diz: “Eu venho aqui todo dia lembrando que trabalho num terreno que pertence à cidade de Nova York. É o contexto geral que nos orienta. Este espaço deve ser para todos e isto se reflete em quem trabalha aqui, quais são os programas, quem faz curadoria.” McCaw destaca seu extenso de trabalho com grupos próximos ao centro, como escolas públicas.

Daniel Doctoroff é o empresário à frente do comitê gestor do Shed, o homem que, como vice-prefeito na gestão de Michael Bloomberg, em 2005, primeiro sugeriu o terreno disponível da cidade para um centro cultural. Ao ouvir a pergunta sobre o contraste social entre o local e a aspiração de atrair público e artistas da periferia, ele chama atenção para um comentário feito pela administradora regional de Manhattan, Gale Brewer. “Ela estava na apresentação de Tamara McCaw, numa reunião da agência municipal que administra conjuntos habitacionais. Disse que nunca testemunhou uma rica instituição cultural de Nova York convocando público e artistas de comunidades desfavorecidas.”

A arquiteta Elizabeth Diller lembra que a arte, em Nova York, tem uma tradição de segregação em formas como teatro ou artes visuais, mas não é assim que os artistas pensam. Diz que o dilema foi: como a arquitetura pode apoiar esta ideia sem atrapalhar? “Afinal”, argumenta, “prédios são pesados e permanentes. Assim, pensamos num prédio flexível capaz de mudar de tamanho.”

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Programação

The Shed – Maureen Mahon, Quincy Jones e Steve McQueenEntre os destaques da programação inicial do centro está Soundtrack of America (Trilha Sonora da América), uma série de cinco shows noturnos com 25 artistas emergentes que quer contar séculos de história da música afro-americana, de negro spirituals, passando pelo jazz e funk até o hip-hop.  A série foi idealizada pelo diretor britânico Steve McQueen em colaboração com o músico Quincy Jones e a antropóloga Maureen Mahon. Abaixo, o ensaio de um dos grupos da série, liderado por Gregg Phillinganes:

Em Norma Jeane Baker of Troy (6 de abril a 19 de maio), a poeta Anne Carson reúne René Fleming, uma das maiores cantoras líricas da atualidade, com o ator britânico Ben Wishaw. O título se refere ao nome de batismo de Marilyn Monroe e a Helena de Troia. 

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Ben Wishaw vive Marilyn Monroe em Norma Jeane Baker of Troy (Stephen Cummiskey/.)

Numa performance falada e cantada, Anne Carson faz uma conexão entre a obsessão com Marilyn Monroe e a tragédia grega. Wishaw, para quem Carson escreveu o papel, vive um burocrata que contrata uma estenógrafa (Renée Fleming) para anotar sua tradução da tragédia Helena, de Eurípedes.  Mas ele está tão fixado na morte de Marilyn Monroe que não consegue parar de falar nela. VEJA assistiu ao ensaio de duas cenas, sob proibição de fotografar ou gravar. Se não foi o bastante para ter uma ideia da obra completa, bastou para lembrar que Wishaw é um dos mais talentosos atores de sua geração e a voz de Renée Fleming continua sublime.

The Shed – Parte da instalação ‘Reich Richter Pärt’ (Lúcia Guimarães/VEJA.com)

Em Reich Richter Pärt (6 de abril a 2 de junho), instalação de arte se une a performance ao vivo. É uma colaboração de dois compositores minimalistas, o americano Steve Reich e o estoniano Arvo Pärt, com o alemão Gerhard Richter, para alguns críticos, o maior pintor vivo. Ao longo da temporada, dois corais nova-iorquinos vão se revezar na performance, o Brooklyn Youth Choir e o Choir of Trinity Wall Street.

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The Shed-Björk em Cornucopia (Warren Du Preez/Nick Thornton Jones/Reprodução)

Quando os potenciais frequentadores do Shed ainda não tinham nascido, Bjork já misturava gêneros e formas de expressão. Em Cornucopia (6 de maio a 1o de junho), a artista da Islândia se uniu à diretora argentina Lucrecia Martel numa obra que promete ser o mais elaborado concerto da carreira da cantora.

No começo do verão americano (inverno no Brasil), o Shed vai estrear um futurista musical kung fu concebido pelo diretor Chen Shi-Zheng, um chinês radicado em Nova York. Dragon Spring Phoenix Rise (26 de junho a 27 de julho) mistura artes marciais a canções remixadas de Sia e tem roteiro da dupla Jonathan Aibel e Glenn Bergerresponsável pelos filmes de animação Kung Fu Panda. O musical é sobre uma seita secreta no bairro nova-iorquino de Queens que tem o poder mágico de prolongar a vida humana.

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