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Terry Richardson, o cafajeste da moda

Fotógrafo é aclamado entre estilistas e editores de moda por sua ousadia em incluir imagens de sexo e nudez em suas fotos

Por The New York Times
19 mar 2012, 09h26

Às 10h45 do dia 14 de fevereiro, Terry Richardson chegou ao Smile, um restaurante perto de seu estúdio, na Rua Lafayette. O fotógrafo de moda estava usando uma camisa xadrez azul que comprou no eBay por 5 dólares, o cabelo grisalho em contraste com os óculos de aro preto. Ele sentou numa das mesas no fundo do restaurante e pediu uma tigela de granola com mel.

Ele é mais alto do que parece nas fotos, geralmente tiradas ao lado de alguém famoso, com o polegar estendido num gesto que se tornou sua marca registrada. Nos últimos dois anos, o falastrão Richardson, de 46 anos, parou de dar entrevistas, dizendo aos amigos que seu trabalho deveria falar por si – mas sua reserva foi diminuindo ao longo do café da manhã enquanto ele descrevia uma sessão de fotos noturna, no fim dos anos 90, para a estilista britânica Katharine Hamnett, durante a qual ele reuniu alguns amigos – também modelos – e os fotografou em vários estágios de “pegação” enquanto caminhavam de seu apartamento para os clubes do East Village.

“Quando recebi os negativos de volta, vi que havia duas fotos da mesma imagem”, conta Richardson. “Era a foto de uma garota, de pernas abertas, de calcinha branca”. Só aí ele notou que dava para ver os pelos pubianos da moça. “Quando estava clicando, não vi aquilo”, explica ele, acrescentando: “Foi uma feliz coincidência”.

A seguir, Katharine usou a imagem num anúncio. “O pessoal achou que eu fiz de propósito”, prossegue ele, referindo-se ao choque, “mas não quero nem saber. Acho a foto muito legal”.

Richardson ficou conhecido pelo estilo porn chic dos anos 70, muito popular na alta moda. Nos últimos 25 anos, ele trabalhou para grifes como Gucci, Miu Miu, Jimmy Choo, a Vogue francesa e T, a revista de estilo do jornal americano New York Times, além de registrar suas escapadas sexuais em livros de fotos luxuosos. Ele parece se divertir ao fazer o público se contorcer enquanto seus modelos, geralmente nus (ou quase), piscam para a câmera.

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“É por isso que gostamos dele”, diz a atriz Chloe Sevigny, que o conhece desde 1995.

Nos últimos anos, seu trabalho se popularizou e Richardson se tornou o retratista das celebridades; há pouco tempo clicou Gwyneth Paltrow num vestido Anthony Vaccarello ousado para a Harper’s Bazaar e a modelo Bar Refaeli atracada com Ronnie Ortiz-Magro, astro de Jersey Shore, para a Interview. Fez também campanhas publicitárias para a Levi’s e a Nike.

Terry Richardson fotografa L'Wren Scott e Mick Jagger durante jantar para comemorar uma nova coleção da estilista, em Nova York, fevereiro de 2012
Terry Richardson fotografa L’Wren Scott e Mick Jagger durante jantar para comemorar uma nova coleção da estilista, em Nova York, fevereiro de 2012 (VEJA)

Ele está mais requisitado que nunca, o que significa que corre mais riscos. “Ele protege o personagem”, diz Fabien Baron, diretor de arte e criação que trabalha com Richardson há mais de uma década. “Afinal, o negócio agora é dele.”

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Talvez por isso retomou a imagem de bad boy garanhão que adotou no início da carreira. Quando Rie Rasmussen, modelo e diretora, disse ao The New York Post, em 2010, que achava as imagens de Richardson “degradantes”, o negócio sofreu, assim como quando a top Coco Rocha disse à revista Fashion que não tinha se sentido à vontade trabalhando com ele e não pretendia repetir a dose.

“Assim que alguém chega e diz: ‘Você fez isso e aquilo’, aí a coisa muda de figura”, diz Al Moran, amigo de longa data e um dos fundadores da galeria Ohwow. “A persona que ele criou alude ao fato de que Terry Richardson poderia, sim, fazer essas coisas, e foi um tiro pela culatra.”

Tanto Rie quanto Coco se recusaram a comentar quando seus representantes foram procurados e, no Smile, Richardson não estava interessado em reviver a polêmica. “É claro que doeu”, ele confessa. “Claro que fiquei chateado. Não é legal quando o povo começa a inventar coisas a seu respeito. O resultado é que parei de ler e continuei trabalhando.”

Nascido em 1965, Richardson é filho de Bob Richardson, que também foi fotógrafo de moda e que, embora sofresse de esquizofrenia, foi muito influente nos anos 60 por causa de seu estilo documentarista e inovador. Sua mãe, Norma Kessler, se divorciou de Bob em 1970 e mudou o nome para Annie Lomax depois de se casar com Jackie Lomax, um músico britânico, e se mudar com a família para Los Angeles.

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Segundo Richardson, ele se mudou para Nova York em 1991, onde registrou a vida noturna underground do centro com uma câmera point-and-shoot Ricoh, trabalhando com revistas como a Vibe e a grife italiana Sisley. “Eu sempre me deparava com as coisas”, resume. Em 1996, ele se casou com a modelo Nikki Uberti, mas se separou em 1999.

Em 2003, Dian Hanson, que trabalhava na Taschen, estava no escritório da editora em Los Angeles quando descobriu várias caixas que continham fotos tiradas por Richardson, deixadas ali pela mulher do fundador da empresa – que até tinha ensaiado fazer um livro com ele, mas mudado de ideia. Muitas mostravam Richardson transando com garotas jovens, além de imagens explícitas da genitália feminina – e que mais tarde foram incluídas no livro Kibosh, publicado por Damiani.

Terry Richardson, com o ator Jared Leto, em festa durante a Mercedes-Benz Fashion Week, em Nova York, em fevereiro de 2012
Terry Richardson, com o ator Jared Leto, em festa durante a Mercedes-Benz Fashion Week, em Nova York, em fevereiro de 2012 (VEJA)

“Eu estava solteiro e ia explorar a minha sexualidade”, disse Richardson sobre as fotos. Dian, então com 60 anos e muito simpática, conheceu o fotógrafo. “Ele tirou várias fotos minhas, me elogiou e fez com que eu me sentisse muito bem”, disse ela, acrescentando: “Entendo agora como consegue fazer tanta gente tirar a roupa”. Os dois concordaram em fazer um novo projeto.

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Para Dian, as fotos em que Richardson aparece nu não foram feitas só para chocar, mas também para disfarçar sua timidez. “Se você está ali, pelado, as pessoas vão achar que é um extrovertido de primeira que não tem nada a esconder”, ela conclui. (Richardson admitiu que seu sorriso padrão e o polegar para cima é “uma maneira óbvia de não permitir que ninguém saiba o que está pensando ou sentindo”.)

Em 2004, a Taschen lançou Terryworld, que, como Kibosh, tinha imagens de sexo explícito. Nele, Richardson disse a Dian que nunca pediu às modelos que fizessem o que ele não faria. (“Não sei se a modelo fica mais à vontade se o fotógrafo está pelado”, Dian afirmou.) Na época, ele também declarou: “Tirar a roupa e sair correndo ou transar em frente a um monte de gente é a maior adrenalina”.

O padrasto de Richardson justificou tal comportamento como rebeldia. “Eu brinquei com ele, perguntando por que tinha mostrado a ferramenta na capa de uma revista… ele trabalha num ramo bizarro e também é meio bizarro.”

Richardson é idolatrado pelos editores e clientes corporativos porque é rápido e sempre faz fotos diferenciadas, que dão o que falar. Quando Michael Jackson morreu de repente, em 25 de junho de 2009, Glenda Bailey, editora da Harper’s Bazaar, disse que deu a Richardson três dias para clicar a modelo inglesa Agyness Deyn em roupas inspiradas no Rei do Pop. “As fotografias ficaram com um senso de vitalidade incrível”, ela admite.

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Para a edição de novembro de 2010 da GQ, ele fotografou o elenco de Glee, incluindo Dianna Agron e Lea Michele, fazendo pose no corredor de um colégio usando meia-calça, minissaia plissada e blusa desabotoada. As fotos ficaram “sexualizadas e sérias”, disse o editor da revista, Jim Nelson, que começou a trabalhar com Richardson em 2004, acrescentando: “Ele consegue tirar uma alegria quase infantil das pessoas”.

As fotos de Glee, porém, que fizeram o site da revista receber 52 milhões de visitas, provocaram a revolta dos pais e Dianna Agron teve que se desculpar com os fãs.

Da mesma forma, os comentários de Rie Rasmussen e Coco Rocha, em 2010, provocaram uma enxurrada de comentários (a maioria de anônimos) ratificando o mal-estar causado pelos métodos de Richardson. Uma mulher, Jamie Peck, disse que o fotógrafo tirou a roupa durante a segunda visita dela ao estúdio, em 2004, quando tinha 19 anos, e pediu que tirasse fotos dele nu. Em entrevista recente, Jamie, que hoje tem 26 anos, disse que concordou, mas não se sentiu à vontade e depois se arrependeu.

“Se você é Barack Obama, provavelmente não precisa se preocupar”, disse Jamie, referindo-se à foto que Richardson fez do presidente em 2007. “Já as modelos novinhas deveriam saber onde estão os limites”.

Richardson, que se recusou a discutir os comentários de Jamie, disse que embora tenha tirado a roupa em projetos pessoais como Terryworld, fica vestido nas sessões para comerciais e revistas. “No meio de uma sessão profissional de fotos não posso simplesmente dizer: ‘Olha, vou continuar fazendo as fotos pelado porque é assim que eu gosto de trabalhar’. Não sou nudista.”

Charlotte Free, de 19 anos, disse que conheceu Richardson quando sua agência, a IMG Models, a enviou ao estúdio dele, há um ano, para um teste aberto. A assistente tirou fotos da modelo, que, depois de meses, as descobriu no blog TerrysDiary.com. Apesar disso, eles se tornaram amigos.

“Terry ouve as pessoas”, Charlotte diz. “Eu falo muito de alienígenas e teorias de conspiração e é o único que me ouve”. Ele a clicou profissionalmente cinco vezes, incluindo uma para a Vogue britânica, e ela passa pelo estúdio dele sempre que está na cidade. “Ele me manda mensagem e pede para eu passar por lá”, a modelo explica. “Conversar com o Terry é como conversar com os meus amigos.”

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