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Summer Soul termina sem estrela e não cativa o público

Sem nenhum nome do peso de Amy Winehouse, ou revelação como Janelle Monáe, segunda edição do evento reúne oito mil a menos que em 2011

Por Carol Nogueira
25 jan 2012, 05h51

Se o aquecimento do mercado de shows brasileiro permite a existência de festivais segmentados, de pop, rock e música eletrônica, nada mais natural que haja um evento para a música negra. Ainda que carregue apenas o nome do gênero soul, o festival Summer Soul, que teve nesta terça-feira sua segunda edição em São Paulo, é um bom pretexto para reunir artistas influenciados pela música negra no mesmo balaio. Mas o nome causa estranhamento. Bruno Mars é soul? Seu Jorge é soul? Não exatamente. E nenhuma atração do festival pertence única e exclusivamente a este gênero, embora ele apareça em nuances, ora diluído em R&B e reggae, como na apresentação da cantora britânica novata Rox, ora meio torto na voz de Florence Welch, vocalista do Florence and the Machine. Ainda assim, o evento não convence ou cativa público — como reflexo, recebeu apenas 22 mil pessoas neste ano, oito mil a menos que ano passado, quando teve entre suas atrações Amy Winehouse e as apostas Janelle Monáe e Mayer Hawthorne, que hoje figuram entre os novos nomes do soul.

Neste ano, uma das atrações estreantes era a britânica Dionne Bromfield, mais conhecida como a afilhada musical de Winehouse. Aos 15 anos de idade, Dionne faz o estilo “menina”. Dedica à madrinha Ain’t No Mountain High Enough (Marvin Gaye) e Tears Dry On Their Own (Winehouse), muda o palavrão da canção Fuck You (escrita por Bruno Mars, mas famosa na voz de Cee Lo Green) para “Forget You” e desenrola uma apresentação que ficaria bonita no seriado musical Glee, que se passa em um colégio. No festival de “gente grande”, Bromfield se garantiu guardando seu único hit (Yeah Right) para o fim. E terminou o show da mesma forma que o começou — apenas como a garota apadrinhada por Winehouse.

Oito anos mais velha que Dionne, Rox, de 23, não precisa cantar por muito tempo para mostrar que tem mais jogo de cintura do que a afilhada da cantora de Rehab. De vestido de gala azul brilhante e saltos altíssimos vermelhos, Rox incorpora bem o espírito “diva” das cantoras Lauryn Hill e Sade, de quem é admiradora confessa. E ainda ganha pontos por tocar guitarra, instrumento que estuda desde os 14 anos — uma raridade na ala feminina do gênero. Mas perde ao tentar agradar o público com um cover de Only Girl (In the World), da cantora Rihanna. De tão diferente da original, só deu para perceber de qual música se tratava no refrão. Para compensar, o público cantou junto My Baby Left Me, incluída na trilha sonora da novela Araguaia, da Globo.

Florence and the Machine – Já Florence fez um show de altos e baixos, mesclando vocais doces a gritos ensurdecedores. Em sua primeira apresentação no país, a cantora atestou que abandonou músicas roqueiras como Kiss With a Fist, que lhe trouxe fama em 2009, e abraçou a esquisitice pop de Kate Bush, cantora britânica com quem é frequentemente comparada desde o início de carreira. Começou tímida com duas canções de seu disco mais recente, Ceremonials (2011), Only If for a Night e What the Water Gave Me, mas foi bem ao destilar em seguida faixas de seu primeiro disco, Lungs (2009), como Dog Days Are Over e Rabbit Heart (Raise it Up), que foram cantadas pela plateia. Uma versão à capella de Something’s Got A Hold On Me, de Etta James, dedicada à cantora morta na semana passada, não colou. Nem mesmo Florence dizendo que, se não fosse por esta música, não estaria onde está hoje (“Eu só cheguei onde estou porque cantei essa música dentro de um bar, ainda meio bêbada, para meu empresário”).

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Seu Jorge – A escolha de Seu Jorge para se apresentar imediatamente antes de Mars, atração principal do festival, foi acertada. Acostumado aos palcos internacionais, sendo um dos músicos brasileiros mais conhecidos no exterior, o carioca não fez feio perto dos gringos. E, do alto de seu pedestal, após a música Carolina, se disse “orgulhoso” do país: “Apesar das agruras e das dificuldades, o Brasil me deixa muito orgulhoso. Estamos no começo de uma nova década. Espero que, no fim desta década, a gente tenha uma história ainda mais bonita para contar”, disse. Seu Jorge cantou ainda faixas de seu novo disco, Músicas Para Churrasco (2011), e hits como Burguesinha. E chamou atenção com o espalhafatoso terno vermelho e o enorme par de óculos escuros que trajava, se assemelhando a um James Brown moderno, de calça justa e cabelo rastafari.

Bruno Mars – James Brown também foi citado por Mars como uma de suas referências — durante o show, ele chegou a imitar as famosas dancinhas do músico. Mas sua principal referência é mesmo Michael Jackson, que ele não chega a citar nominalmente, embora o timbre de sua voz em músicas como Grenade, e as poses com seu indefectível chapeu entreguem o jogo. Além disso, a faixa Billie Jean, de Jackson, é incluida em um medley ao lado de Seven Nation Army, do White Stripes, e Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. Mas, ao contrário do “rei do pop”, falta carisma a Mars. Que ele compensa com vários artifícios — de dança coreografada com os músicos da banda ao uso de um megafone para interagir com a plateia.

Nesta grande salada de ritmos promovida pelo Summer Soul, salvaram-se alguns momentos. Mas nenhum deles poderá ser comparado à edição passada do mesmo evento. Nada comparável ao fracasso de um dos últimos shows de uma debilitada Winehouse — que morreria seis meses depois –, ou à ótima surpresa de descobrir o frescor de Janelle Monáe. A diferença, claro, se refletiu em público.

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