Série ‘Filhos da Pátria’ mostra como a corrupção é antiga
Com criação e redação final de Bruno Mazzeo, programa vai mostrar as falcatruas no Brasil após a Independência
Pacheco é um corrupto nato, que engendra esquemas escusos com recursos públicos graças à ajudinha de colegas de trabalho. Ele bem poderia estampar os noticiários atuais, em tempos de delação premiada, mas Pacheco é um personagem de época, da nova série da Globo, Filhos da Pátria, que se passa no século XIX, mais precisamente na fase pós-independência no Brasil. Com criação e redação final de Bruno Mazzeo e direção artística de Mauricio Farias, o seriado, que estreia nesta terça-feira, depois do último episódio de Sob Pressão, tem início no dia 8 de setembro de 1822. E escancara, pelo filtro do humor, o DNA da corrupção no Brasil.
“É uma tentativa de a gente, por meio da comédia, investigar os impulsos corruptos que ficam evidenciados na história da política brasileira desde sempre. Mas agora a gente está num momento de xeque-mate, e isso me parece bom: saber o nome das pessoas e o volume do dinheiro envolvido nas atitudes corruptas contra nós”, afirma Matheus Nachtergaele, o Pacheco de Filhos da Pátria. “Fazendo a série, a ficha que me caiu claramente foi como nós não aproveitamos jamais nenhum momento histórico para transformar o Brasil em algo nosso. O Brasil sempre é um negócio, onde se visa ao lucro absoluto de alguém. Alguém que não somos nós.
Para colocar suas falcatruas em prática, Pacheco, que trabalha no Paço Imperial, precisa da colaboração de uma rede igualmente corrupta. E atrai para o esquema o ingênuo português Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero), casado com a ambiciosa brasileira Maria Teresa (Fernanda Torres), e pai do alienado Geraldinho (Johnny Massaro) e da jovem feminista Catarina (Lara Tremouroux). Geraldo é também funcionário do Paço, fazendo a intermediação nas relações entre Brasil e Portugal. No entanto, com a Independência do País, ele acredita que vai perder seu cargo oficial.
Ao mesmo tempo que se sente inseguro e desprestigiado, Geraldo é pressionado pela mulher, que quer ascender socialmente – e financeiramente. “A fábula do Bruno (Mazzeo) é: agora que eles (portugueses) foram embora, é ‘nóis’. Mas não para nós: para o negócio, para os sócios. E o Pacheco é esse agente da ideia corruptora, é o cara que vai ensinando e seduzindo Geraldo a lucrar com os negócios escusos.”
Segundo Matheus, quando o personagem de Nero “abre os olhos”, ele se dá conta que existe uma rede grande, que passa pelo clero, pelos militares, pelos negociantes. “Ele percebe que existe uma confraria de pessoas que estavam esperando só Portugal sair para tomar o lugar. O Pacheco vai apresentar o desamor e as práticas corruptas para Geraldo, que vai ser altamente estimulado pela mulher.”
Para o ator, Geraldo tinha a opção de não entrar nesse jogo — tal e qual personagens da vida real. “Ele é corrompido. Podia sair ou denunciar, por exemplo, mas ele vai entrando. A princípio, parece que está coagido, que vai sendo ‘obrigado’. A prática corrupta vai invadindo tudo. É preciso que se saia disso. É difícil, porque tem benefícios. A série é sobre isso, sobre esse DNA da corrupção no Brasil, como ele vai se espraiando e como é difícil escapar. O ideal era Geraldo escapar, mas ele não escapa. Ele fica”, conta Matheus, que ainda excursiona pelo país com seu monólogo, Processo de Conscerto do Desejo, está divulgando seu novo filme, A Serpente, em festivais de cinema, e se prepara para começar a ensaiar, em outubro, uma nova série da Globo, Cine Holliúdy, “sob a batuta de Guel Arraes”.
(Com Estadão Conteúdo)