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Sem rival local, Hollywood lucra com teen brasileiro

Em 2014, o líder de bilheteria no Brasil foi 'A Culpa É das Estrelas'. O longa baseado na obra de John Green é apenas uma ponta de um segmento portentoso

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 abr 2020, 19h02 - Publicado em 16 nov 2014, 08h01

Abandonado pelas produções nacionais, o adolescente brasileiro se tornou um alvo fácil para Hollywood, que nos últimos anos passou a apostar em um recorte poderoso de público: o infantojuvenil. A proposta não poderia ser mais acertada, especialmente no Brasil. Segundo levantamento do instituto de pesquisa Ipsos Media CT, 24% do público que foi ao cinema entre abril de 2013 e março de 2014 era composto por adolescentes entre 10 e 17 anos. Se somados aos jovens adultos, entre 18 e 24 anos, a porcentagem sobe para 51%. Um grupo relevante que adora um boca a boca e não dá sinal de cansaço. Os pais que preparem os bolsos.

Entre os projetos hollywoodianos que entraram na agenda do jovem brasileiro desde o fenômeno Harry Potter, começado em 2001, está a saga Jogos Vorazes. O terceiro episódio da série distópica baseada nos livros da americana Suzanne Collins aporta aqui nesta quarta-feira, dia 19 de novembro, data que coloca o Brasil na dianteira do mundo: ele será o primeiro país a estrear a superprodução. O resto dos mortais só terá acesso a Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 a partir da quinta, dia 20. Em 2013, o lançamento do segundo filme da franquia, Jogos Vorazes: Em Chamas, teve antecedência ainda maior, desembarcando no Brasil uma semana antes. “Conseguimos antecipar a estreia porque o Brasil é um país muito relevante para o resultado global de Jogos Vorazes. Temos a segunda maior base de fãs da saga de todo o mundo, atrás apenas dos Estados Unidos”, conta Gabriel Gurman, gerente de marketing da Paris Filmes, distribuidora do título no país.

Além da estreia em plena quarta-feira, fato inédito no cinema brasileiro, que este ano passou a adotar as quintas como dia de lançamento, o novo Jogos Vorazes vai ocupar 1.400 salas, pouco mais que a metade das 2.765 existentes no território nacional. Segundo Gurman, a expectativa é que o longa arrebanhe 5 milhões de espectadores. Se bater a meta, o filme, sozinho, fará praticamente a soma dos seus dois antecessores, que juntos levaram 5,5 milhões de pagantes ao cinema. Para o capítulo derradeiro, previsto para 2015, o planejamento é dobrar o resultado, chegando a um público de 10 milhões.

O filão teen é aposta da Paris Filmes desde 2008, quando a empresa decidiu, sem saber se daria certo, lançar no Brasil a franquia de um romance estrelado por vampiros – basta dizer que a série se chamava Crepúsculo e o resto é história. A saga fantástica se tornou o case de sucesso da empresa, que viu sua participação no mercado crescer 249% a partir daí e se tornar a maior do bolo. Hoje, os filmes da casa destinados para adolescentes, que ganharam o reforço da série Divergente em 2014, somam mais de 30% da receita. “O público teen é o que está no cinema. É um passeio seguro, proporciona uma experiência saudável e os pais deixam os filhos saírem sozinhos com amigos, sem preocupações”, diz Gurman.

 

De distopias a dramas – O público adolescente mostrou este ano que não sobrevive só de tramas fantásticas. O dramalhão A Culpa É das Estrelas lidera, até o momento, a lista geral de filmes mais vistos no Brasil em 2014. Baseado no best-seller de John Green, a produção que narra o romance entre dois adolescentes com câncer foi vista no cinema por 6,2 milhões de pessoas, e soma mais de 69,5 milhões de reais em bilheteria. No ranking global, o Brasil foi a segunda maior receita do filme, atrás apenas dos Estados Unidos, maior mercado cinematográfico do mundo.

A Culpa É das Estrelas serviu como um despertar para as produtoras nacionais, que ainda não possuem verba para arcar com uma superprodução como as da franquia Jogos Vorazes, orçadas em 100 milhões de dólares, em média, mas podem apostar em histórias cotidianas, que conversem tête-à-tête com o espectador jovem. “Falta dar mais atenção a esse público e procurar maneiras de falar com ele. Há produtores procurando o caminho”, diz Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2 Filmes. A empresa, responsável por filmes como Cidade de Deus, é uma das que tem buscado histórias infantojuvenis inteligentes para um futuro próximo.

Para sanar essa falta, as produções nacionais têm apostado nas confiáveis comédias para família, com nomes de destaque como Fábio Porchat e Leandro Hassum. Sucessos de bilheteria, esses filmes têm a função de levar pais e filhos ao cinema. Quem fugiu desse caminho confortável foi o Confissões de Adolescentes, baseado no livro homônimo, de Maria Mariana, que fez sucesso como peça de teatro e série da TV Cultura, nos anos 1990. Lançado em janeiro com direção de Daniel Filho e Cris D’Amato, o filme alcançou a sétima posição entre os longas nacionais mais assistidos no cinema em 2014, somando 816.000 pagantes e 8,6 milhões de reais em bilheteria.

“O jovem vive nesse limbo entre a infância, que é totalmente imaginativa, e a vida adulta, de responsabilidades. O cinema ajuda na transição porque serve como o construtor de uma realidade paralela, ficcional, em que o adolescente pode fugir do mundo e viver uma fantasia”, diz Suzana Schwertner, psicóloga e educadora pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), autora do estudo Juventude, Cinema e Educação, publicado no site da Revista de Educação, Ciência e Tecnologia da UFRGS.

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Literatura – Na contramão do cinema e da televisão, a literatura para jovens no Brasil vai muito bem, obrigada. Na Bienal do Livro do Rio deste ano, a lista de títulos mais vendidos foi dominada por autores nacionais como Isabela Freitas, Carolina Munhóz e Thalita Rebouças, que se dedicam a escrever para adolescentes e jovens adultos. Com o mercado literário aquecido, a tendência é que o cinema empreste histórias daí, como tem feito Hollywood.

Carolina Munhóz, autora de literatura fantástica, tem sido abordada por produtoras que recuam ao orçar seus projetos. “O Brasil não está pronto para o custo de uma obra de fantasia e seus efeitos especiais”, conta Carolina, que diz ter um livro, Feérica, avaliado por uma produtora americana que estuda transformá-lo em série de TV.

Já a carioca Thalita Rebouças está a poucos passos de entrar em cartaz. Ela vendeu o direito de quatro histórias para diferentes produtoras brasileiras. O primeiro projeto a chegar ao cinema será Ela Disse, Ele Disse, pelas mãos de Bruno Barreto (Flores Raras e Dona Flor e Seus Dois Maridos), em 2015. Pedro Vasconcellos, diretor da novela Império, vai assumir a adaptação de Fala Sério, Mãe!. Já os livros Tudo por um Namorado e Uma Fada Veio me Visitar estão em fase de pré-produção. O último já tem confirmado o comediante Paulo Gustavo no papel da fada do título.

“O cinema juvenil brasileiro nacional está defasado. Sai um filme a cada dois anos. Assim o público fica desestimulado”, diz Thalita. “O adolescente não tem o hábito de ver filmes nacionais porque os roteiros não conversam com ele. A indústria precisa perder o medo de investir nesse público.”

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Enquanto esse medo não passa, Hollywood continua a ampliar o seu catálogo para o filão. No próximo ano, os cinemas receberão o último episódio de Jogos Vorazes, que já tem uma fila de candidatos para substituí-lo no posto de principal blockbuster juvenil – o favorito é outra distopia, a saga Divergente, que lança o segundo filme em 2015. Para quem prefere romances, Cidades de Papel, de John Green, estreia em junho. Isso sem contar as muitas tramas com adolescentes no papel de heróis, revolucionários, espiões ou eternos namorados. Não faltam sangue, suor e lágrimas. Se há algo de que o jovem cinema hollywoodiano não pode ser acusado, é de ficar na mesmice.

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