Seis personagens mais chatos que ‘A Lei do Amor’
Novela das nove da Globo não engrena em audiência – mas, também, não tem ajudado a audiência a se engajar
É normal para a Globo enfrentar altos e baixos na audiência a cada troca de novela. Uma trama sai do ar no auge, quando seus principais conflitos atingem o ápice e são solucionados, e a nova precisa convencer o público, ainda ligado à anterior, de que a sua trama vai valer a pena. Isso ajuda a explicar por que A Lei do Amor fez 28 pontos de média na primeira semana, mas terminou o primeiro mês caindo para 26 no Ibope da Grande São Paulo. Difícil é acreditar que o folhetim de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari vai engatar daqui para a frente sem o bisturi dos espectadores, que a Globo costuma ouvir em grupos de discussão nos primeiros meses de exibição. Repleto de clichês folhetinescos, histórias fracas e repetitivas e um elenco jovem que não segura a onda, a novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari é chata de doer. Mas alguns personagens conseguem ser mais duros de aturar do que a própria trama. Veja:
LETÍCIA
Isabella Santoni já foi a queridinha dos fãs de Malhação. Agora, porém, experimenta uma reação inversa do público. Letícia é tão sem sal – e sem açúcar – que nem o fato de ter tido leucemia lhe garante alguma simpatia de quem acompanha A Lei do Amor. Filha mimada de Helô (Claudia Abreu) e Tião Bezerra (José Mayer), vive para venerar dois homens, o vilão que a criou e Tiago (Humberto Carrão), o ex-noivo, com quem ainda sonha se casar. Manipulada pelo primeiro, que quer usá-la para se aproximar da mulher que o humilhou na juventude, a avó de Tiago, Magnólia Leitão (Vera Holtz), a menina vive pelos cantos chorando pelo ex e desejando que o seu objetivo de se tornar esposa e dona-de-casa enfim se realize. “A minha história com o Tiago ainda não acabou”, já disse, como um vinil arranhado. Para piorar, briga com tudo e com todos para defender o pai – e nem sequer lhe passa pela cabeça que possa estar errada, embora seja a única em toda a trama a acreditar no inescrupuloso Tião.
ALINE
Filha da certinha Yara (Emanuelle Araújo) e do pamonha Misael (Tuca Andrada), Aline (Arianne Botelho) é a ovelha negra da família. Ambiciosa, não mede esforços para laçar o garoto riquinho Tiago (Humberto Carrão) e levar uma vida de princesa na mansão dos Leitão. Ela não tem medida nenhuma mesmo – nem do ridículo. A cena em que Aline ameaça Vitória (Camila Morgado), que pediu a demissão da secretária à mãe, Magnólia (Vera Holtz), depois de ela insinuar que a irmã de Pedro (Reynaldo Gianecchini) estava traindo o marido, beirou o patético. Aline montou sobre a acamada Vitória, uma personagem de temperamento frágil que vive amuada e embriagada, e disse que a mataria se não fizesse a megera Mág rever a sua decisão. Um poder de dominação de que nunca se suspeitou – e que a interpretação de Arianne Botelho não sustentou.
TIÃO
Acostumado a viver galãs em telenovelas, José Mayer teria aqui a chance de fugir do óbvio. Pena que Tião é tudo, menos original. Vaidoso, cobiçoso, vingativo e manipulador, o personagem reúne todos os predicados de um típico vilão do folhetim tradicional. Nada de área cinza para o banqueiro que se fez na vida de maneira ilícita: ele é mau, tão mau, que é capaz de pôr em risco a vida da filha, Letícia (Isabella Santoni), que não é sua de sangue, mas foi criada por ele desde que nasceu. Desde que, com isso, consiga avançar em seu plano de vendeta contra Magnólia, que o desprezou e maltratou quando era um jovem pobretão, e por quem nutre uma verdadeira obsessão, motor de todas as suas maldades.
VITÓRIA
Desprezada pelo gélido marido, Ciro (Thiago Lacerda), Vitória parece incapaz de reagir. Dedica seu tempo a se desidratar engolindo litros de álcool e derramando outros tantos de lágrimas. Quando não está de porre ou mendigando a atenção de Ciro, pode ser vista grogue sobre a cama ou dirigindo um carro desgovernado, sem o menor talento para Ayrton Senna. Repetitiva, a rotina da burguesinha desocupada é bastante enfadonha. Mas ela pode ser salva por um insuspeito homem do bem, o ex-namorado de juventude Augusto (Ricardo Tozzi), um caso raro de político honesto — coisa de novela. Nos últimos capítulos, os dois se reaproximaram e deram esperança não apenas a Vitória de sair do coma, mas também ao público de se livrar da sua modorra sem fim.
TIAGO + ISABELA
Casal que surgiu do nada, como uma combustão espontânea, é fonte de uma indigesta fofura sem fim. Eles trocaram olhares e depois, sem nem se conhecer, passaram a trocar juras de amor como se tivessem a certeza de que nasceram para morrer lado a lado. É tão inverossímil e tão glicosado que só resta mesmo torcer para que o atentado sofrido por Isabela (Alice Wegmann) nesta terça, quando foi jogada desacordada no mar de Ilhabela a mando – adivinha de quem – de Tião, deixe a personagem para sempre de fora da novela.