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Robert Redford desabafa: ‘A tecnologia dissipou a magia’

Aos 80 anos, ator interpreta um avô que adora contar histórias em 'Meu Amigo, o Dragão'

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
1 out 2016, 08h59

Aos 80 anos, completados em agosto, Robert Redford soma dezenas de trabalhos como ator – entre os mais famosos, estão o western Butch Cassidy (1969), de George Roy Hill, o romance Nosso Amor de Ontem (1973), de Sydney Pollack, e o drama jornalístico de cunho político Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula. Faltava um filme para a família como Meu Amigo, o Dragão, de David Lowery, refilmagem de um misto de animação e live action (filme com gente de verdade) da Disney de 1977, agora em cartaz no Brasil. “Foi por isso que quis fazer”, explica o lendário ator.

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A nova versão de Meu Amigo, o Dragão não é musical nem tem animação – pelo menos, não aquela animação tradicional. O dragão, claro, existe graças à computação gráfica. Nessa trama, Redford é Meacham, um avô que adora entreter as crianças da região com histórias extraordinárias. Sua filha Grace (Bryce Dallas Howard) é guarda florestal. Um dia, ela descobre o menino Pete (Oakes Fegley), que diz ser protegido por um dragão. A criatura, aqui, não se parece em nada com a de outros filmes e séries, como as de Game of Thrones. Na verdade, o dragão de Pete está mais para um misto de cachorro e gato, ideal para agradar a adultos e crianças.

Defensor do meio ambiente e do cinema independente, por meio do Sundance Institute, promotor do festival de mesmo nome, Redford foi até a Nova Zelândia para rodar a produção. Mas foi em Los Angeles que ele falou a VEJA sobre o filme e também sobre os seus projetos.

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Qual era a atração desta história para você? A magia. Quando era criança, esta palavra era primordial. Você é pequeno, o mundo é enorme, então “magia” representa algo maior do que sua vida, não tem como não amar essa ideia. Mas aí você cresce e logo está vivendo uma vida em que não há espaço para a magia. O mundo adulto é muito mais sombrio e cínico. Não tem como não ficar um pouco triste com isso, então fiquei empolgado com a ideia de um projeto que tem a ver com magia. Fora isso, sou avô e fui criado ouvindo histórias, especialmente à noite, antes de dormir. Não há nada melhor do que “era uma vez”. Eu fiz o mesmo com meus filhos e agora meus netos também gostam de histórias com elementos de magia.

Quando você era criança, tinha um amigo imaginário sobre o qual não falava com os adultos? Ah, sim, manter segredo era algo grande porque assim você tinha algum poder.

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O que era? Não posso contar (risos).

Ficou um pouco desapontado por esta refilmagem não ser um musical? Ah, adoraria fazer um musical. Adoraria fazer qualquer coisa que não tivesse feito antes. É importante se movimentar, experimentar coisas e permanecer ativo. E este filme, de qualquer maneira, era bem diferente do que eu já tinha feito. E os dois que rodei depois deste são muito diferentes, também.

Pode comentar como foi fazer um vilão em Capitão América: O Soldado Invernal e agora alguém de quem as crianças vão gostar? Adorei ser o vilão, é muito divertido. Dá para tornar o vilão interessante, ter um ponto de vista intrigante mesmo que seja uma pessoa má.

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A qual filme assistiu quando criança e permaneceu com você para sempre? Eu assisti a muitos filmes da Disney: Fantasia, Bambi, as animações que tinham a ver com animais. Quando Walt Disney abandonou seu fascínio pelo reino animal, eu perdi interesse. Então foi bacana recuperá-lo com este filme, porque ele traz os bichos de volta. Quando era criança, gostava de filmes sobre coisas que nunca tinha visto ou de que nunca havia ouvido falar. Adorava tudo o que tinha a ver com a natureza porque cresci numa área de Santa Monica onde não havia nada de natureza a não ser o oceano.

Você também é cineasta e chegou a ganhar o Oscar por Gente como a Gente (1980). Quando está trabalhando como ator, consegue colocar o diretor de lado? Eu tento. Mas, às vezes, é difícil evitar o fato de que você dirigiu filmes e tem o olho de cineasta. Tento fechar esse olho porque o diretor é quem manda. No caso de David Lowery, ele gosta muito de colaboração, então sempre recebia bem minhas sugestões e ideias.

Qual a importância da fantasia e da imaginação no mundo moderno, onde tudo acontece na tela do computador ou do telefone? Eu acho que a tecnologia está tirando muito da magia da vida. Há um lado estéril na tecnologia. Isso me deixa triste, porque a ideia da imaginação, da fantasia, da magia é realmente maravilhosa. A tecnologia mostra o que é, não o que poderia ser.

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Ensina seus netos a imaginar coisas? Bem, eles fazem isso sozinhos. Eu recebi isso da minha família, passei para meus filhos e acredito que eles ficaram impressionados porque passaram para seus filhos também. Quando estou com meus netos, a gente senta e conversa. Às vezes, eu crio uma situação imaginária só para manter isso vivo. É uma pena que nossa cultura tenha perdido a magia em favor da realidade do que está acontecendo.

Um dos temas mais importantes do filme é a ligação com a família. Quando sente mais a ligação com a sua família? Primeiro, pelas histórias. Eu criei minha família contando histórias e encorajo sempre que posso. Quando nos sentamos para comer, sempre digo: “Cada um vai contar uma história”. Então, cada um inventa uma história ou conta algo que aconteceu durante o dia. Acho saudável manter isso vivo. E também mantê-los em contato com a natureza. Veja o que aconteceu com Los Angeles. Quando era criança, havia muito verde, não existiam vias expressas. Fui estudar em Colorado e percebi que a sala de aula não era para mim, que eu precisava sair pelo mundo. Então, fui para a Europa ser artista. Quando voltei, Los Angeles tinha desaparecido.

O que significa para você estar num filme de espírito tão benevolente no contexto atual do mundo, tão sombrio? O filme chega em um bom momento porque as coisas são muito tristes, chocantes e deprimentes ao redor. Não dá para acreditar que os seres humanos sejam capazes de atos tão horríveis. E a mídia alimenta isso, então, ficamos cercados de coisas negativas. Um filme como Meu Amigo, o Dragão traz a infância e a magia de volta, o que provavelmente é saudável. Fico muito feliz de estar num filme que, num momento tão sombrio, traz um pouco de luz.

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Como foi filmar na Nova Zelândia? Que país incrível! Eu cresci nos Estados Unidos quando era bem diferente de agora. Nós ficamos cínicos. A Nova Zelândia é como eram os Estados Unidos na minha infância – éramos amigáveis, tínhamos paisagens lindas, não havia desenvolvimento desenfreado.

Verdade que você se atrasou um dia na filmagem porque salvou um cavalo? Eu vi o cavalo abandonado, preso a uma cerca, passando fome. Dois dias mais tarde, ainda estava lá. Então, eu o libertei, alimentei e deixei partir.

O que pode falar de voltar a trabalhar com Jane Fonda, com quem fez quatro longas? Este é meu ano de atuar. O título do filme com Jane Fonda é Our Souls at Night (Nossas almas à noite, em tradução literal). Depois rodo outro longa com David Lowery, o diretor de Meu Amigo, o Dragão, chamado Old Man with a Gun (Velho com um revólver, tradução também literal), um filme leve, para cima. Ano que vem, volto a dirigir. Estou entre dois projetos. Como dirigir toma um ano da minha vida, preciso decidir bem porque, na minha idade, não há muito tempo a perder.

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