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Primeira individual no país mostra Ai Weiwei pessoal e político. E põe político nisso

Contestação constante leva críticos de arte a questionar a qualidade artística do trabalho do chinês, um crítico feroz do regime comunista. Obras são de fato perpassadas pela temática política, mas podem conter outros significados

Por Mariana Zylberkan
7 fev 2013, 12h31

Logo na entrada da exposição Ai Weiwei – Interlacing, em cartaz a partir desta quinta-feira no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, um cartaz convida a tirar os sapatos. O chamado é inspirado em um costume oriental – de deixar os calçados na porta ao visitar a casa de alguém — e justificado pela intenção da curadoria de fazer da mostra um passeio pela intimidade de um dos artistas contemporâneos mais comentados do momento. As centenas de fotografias e vídeos que narram o cotidiano do chinês Ai Weiwei ao longo de 30 anos transportam o espectador para o seu mundo particular, onde cenas tocantes e engraçadas se alternam como em um inusitado reality show. Em todas, ou quase todas, as peças salta porém um traço óbvio do trabalho de Weiwei, a sua militância política. Em meio à exposição de sua barriga saliente e da despedida do pai no leito de morte, o dissidente do regime comunista de seu país lembra o público, sem parcimônia, de que o personagem sorridente e espontâneo que aparece nas imagens é, antes de tudo, um ativista feroz. Para alguns críticos, essa névoa que embaralha o cidadão político e o artista compromete a qualidade artística da obra de Weiwei. Para entender o chinês, é preciso de fato ler suas peças com o contexto que as rodeia. Mas durante a leitura é possível encontrar outros sentidos.

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Não que o viés político desapareça na mostra. Ao fim da exposição, fica claro para o visitante que a luta contra o governo chinês e a vida pessoal de Weiwei realmente se confundem. Em um vídeo de duas horas e meia com imagens corriqueiras de seu trabalho em estúdio, o artista se transforma ao mesmo tempo em obra de arte e ação política. “Ele é um artista conceitual e um fotógrafo compulsivo. As fotos são a forma que ele encontrou de se conectar com o mundo sem censura”, diz o curador Urs Stahel e diretor do Fotomuseum Winterthur, na Suíça, responsável pela concepção da exposição, que já passou pela França e Noruega.

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Por vezes, fica inclusive difícil saber até que ponto uma peça é uma reação artística do chinês à sua realidade ou serve à pura panfletagem. A mensagem nas imagens é direta, principalmente na série Estudo de Perspectiva, em que ele repete o mesmo gesto obsceno com o dedo do meio em frente a emblemas como a Praça da Paz Celestial em Pequim, palco de um massacre em 1989, a Torre Eiffel, a Casa Branca, seu próprio ateliê em Pequim e outros 25 lugares. “O gesto perde seu conteúdo agressivo para se tornar uma forma de protesto”, diz Stahel.

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Modernização – Outra série que traduz claramente a indignação política de Weiwei é a denominada Paisagens Provisórias. Várias fotografias mostram partes de Pequim transformadas em terrenos baldios após o governo demolir construções para acelerar a modernização da infraestrutura da cidade. Segundo Stahel, o artista e mais dez pessoas documentaram a veloz reestruturação da cidade entre 2002 e 2008.

Sua indignação frente às mudanças sofridas por Pequim se tornou recorrente depois de ele ter voltado a morar na cidade ao fim de uma temporada de dez anos em Nova York, entre 1983 e 1993. O período também é retratado na exposição em série de fotos que o próprio artista classificou como “andar com amigos sem objeto nenhum”. A volta ao país-natal foi motivada pelo agravamento do estado de saúde de seu pai, o renomado poeta Ai Qing, que faleceu três anos depois.

O rompimento com o passado e a tradição é o argumento do artista no tríptico que o mostra quebrando uma urna secular da dinastia Han (206 a.c. – 220 d. c.). No mesmo espaço expositivo, está outra emblemática provocação ao governo de seu país. A foto mostra sua assistente, hoje sua mulher, com a saia levantada e a calcinha à mostra na Praça da Paz Celestial, em Pequim, no dia do quinto aniversário do massacre que reuniu estudantes contra o regime comunista, em 1989.

Intercâmbio – A necessidade de exaltar o valor da individualidade em um regime político que prega a total uniformidade entre os cidadãos, provavelmente a principal bandeira de Weiwei, também está presente na série Retratos de Contos de Fadas. Em 2007, o artista foi convidado para integrar a mostra Documenta 12, em Kassel, na Alemanha. Junto com ele, embarcaram 1001 chineses, separados por grupos de 250 pessoas, cujas fotos cobrem uma das paredes da exposição. A excursão à Alemanha promovida por Weiwei significou um projeto artístico focado em promover um intercâmbio cultural entre pessoas que, possivelmente, nunca se encontrariam em outras circunstâncias. “Muitas delas nunca tinham visto um passaporte na vida”, diz Stahel.

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Ao clamar por sua própria individualidade, Weiwei se volta ao princípio da era moderna, já ultrapassada pelo mundo ocidental, mas ainda não alcançada pela China, segundo o artista. O curioso é que sua obra encontra respaldo justamente no lado do mundo que anda no compasso da pós-modernidade. Em seu país natal, Weiwei é chamado de “papaizinho” pelos seus seguidores no Twitter. Para dar vazão ao hábito contumaz de se manter até oito horas por dia on-line, ele burlou a proibição do país e acessa a rede social para interagir com pessoas do mundo todo. Algumas vezes, dá até conselhos pessoais.

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