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Pouco explorada no Brasil, fantasia dá o tom de ‘O Duelo’

Baseado em livro de Jorge Amado, um dos últimos filmes de José Wilker chega aos cinemas

Por Daniel Dieb
20 mar 2015, 10h14

Na literatura latino-americana, escritores como Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges exploraram a mistura entre realidade e fantasia em histórias em que elementos absurdos são apresentados com naturalidade, sem estranhamento por parte dos personagens. É nesse registro que se inscreve O Duelo, novo longa de Marcos Jorge (O Estômago) que está chegando aos cinemas. Adaptação do romance Os Velhos Marinheiros ou o Capitão de Longo Curso, do escritor baiano Jorge Amado, o filme põe em cartaz algo raro no cinema nacional: a fantasia.

A trama de O Duelo apresenta a chegada do capitão de longo curso Vasco Moscoso, interpretado pelo português Joaquim de Almeida (O Xangô de Baker Street), ao bairro de Periperi, em Salvador. É lá que reside o desconfiado fiscal Chico Pacheco – um dos últimos papéis de José Wilker, morto no ano passado aos 69 anos. Conversador, o capitão logo se torna conhecido entre os moradores do local por ser um bom contador de histórias. Mas não consegue convencer o fiscal, que passa a buscar informações sobre Vasco Moscoso.

No livro de Jorge Amado, Chico Pacheco é um vilão e também um personagem secundário, sem a mesma relevância do capitão. No filme, para reforçar o conflito entre os dois personagens, Marcos Jorge deu mais peso ao fiscal. “Eu tentei dar ao personagem do Chico Pacheco um status semelhante ao do Vasco, já que no romance ele era muito menor”, disse. Daí a escolha, para o papel, de José Wilker, também ele um peso pesado. “José Wilker foi o único ator que eu já sabia que iria convidar para o papel, porque ele conseguiria dar a alma necessária ao personagem, além de ele ser inteligente e ter participado de Dona Flor e seus Dois Maridos (1976), do Bruno Barreto”. Em Dona Flor, também adaptado da obra de Jorge Amado, Wilker faz o papel de Vadinho, um dos maridos da protagonista.

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De fato, a escolha de Wilker para o papel foi importante, pois o ator soube dar ao personagem o sarcasmo necessário para torná-lo marcante. Contudo, sua atuação peca quando ele quebra a naturalidade em falas que parecem bordões: “Capitão uma ova”, “Capitão o c***”, e outras construções semelhantes.

Já a atuação do português Joaquim de Almeida é razoável e seu personagem perde espaço em comparação com o livro. Para atrair mais luz ao capitão, o ator português poderia explorar alguma característica particular de Vasco Moscoso, que chega a despertar indiferença nos espectadores.

Para retratar as histórias contadas por Moscoso aos moradores de Periperi, o diretor utilizou técnicas de câmera bem elaboradas. Nestas cenas, a câmera foca o capitão e, à medida que ele narra, ela se move para o lado em plano-sequência (uma ação registrada sem cortes aparentes), mostrando a história contada por ele. A transição e o uso discreto dos efeitos especiais foram feitos para mesclar a realidade com a ficção, sem que os espectadores estranhassem o ocorrido. Segundo o diretor, todos os movimentos, da câmera aos atores, tudo foi desenhado e marcado. “São meses de trabalho por um movimento que você quer que o público nem perceba. O público médio, quando for ver o filme, não vai perceber que aquilo foi um truque, e o objetivo é esse, são efeitos que não têm que maravilhar o público, é tudo pra ajudar a contar a bela história que Jorge Amado escreveu”, afirmou sobre o uso dos efeitos especiais.

Sem exageros visuais, O Duelo tenta expandir os gêneros do cinema brasileiro, para que este não se restrinja à comédia e a longas que têm problemas sociais como plano de fundo. Contudo, a realização de filmes de fantasia tem como empecilho o custo, já que os efeitos especiais são caros. Marcos Jorge reconhece o problema: “É difícil juntar dinheiro para fazer um filme como O Duelo, de produção grande e cara, com efeitos complexos e um tema que não é imediatamente vendável como uma comédia, daquelas que você sabe que vai ser sucesso de bilheteria”. Apesar dos obstáculos, Marcos Jorge fez um longa razoável, de belas cenas e interessante histórias. Porém, seu maior trunfo pode ser o futuro: o de, quem sabe, ter aberto um filão no Brasil.

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