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Piada x grosseria: a diferença entre o humor e o bullying

Por Paula Reverbel
4 nov 2011, 22h08

Não é o tom politicamente incorreto que separa Danilo Gentilli e Rafinha Bastos dos bons – e consagrados – comediantes stand-up. É a qualidade das piadas, tão baixa que dá a impressão de que Gentilli e Rafinha estão simplesmente proclamando ofensas como quem pratica bullying, sem qualquer conteúdo crítico sobre a atualidade.

O stand-up-bullying

  1. “Eu comeria ela e o bebê”

    (Rafinha Bastos, sobre a beleza da cantora Wanessa Camargo, que está grávida do primeiro filho, no programa CQC, da Band)

  2. “Toda mulher que vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra c… Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço.”

    (Rafinha Bastos, em um ‘espetáculo’)

  3. “A criatura tem pelo, é feia, fede a enxofre e não posso chamar de demônio? Tem de chamar de Heloísa Helena?”

    (Danilo Gentili, em cena do ‘espetáculo’ Danilo Gentili Politicamente Incorreto)

  4. “Se ela foi presa e torturada, é porque é otária… Todo mundo fala que a Dilma foi torturada, mas ninguém conta o outro lado da história. Também não foi nada fácil para o carcereiro ficar olhando a cara dela. Eu teria batido nela antes da plástica”

    (Danilo Gentili, referindo-se à então candidata a presidente Dilma Rousseff, em cena do ‘espetáculo’ Danilo Gentili Politicamente Incorreto)

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  5. “Eu não me importo com o que os psicólogos dizem: seu filho não é autista. Ele é simplesmente burro. Ou preguiçoso. Ou ambos”

    (O comediante americano Denis Leary, no livro Por que Somos Ruins: Um Guia para Permanecer Gordo, Barulhento, Preguiçoso e Burro – Why We Suck: A Feel Good Guide to Staying Fat, Loud, Lazy and Stupid. Leary teve de explicar que se referia ao excesso de diagnósticos de autismo, que ele atribuía a pais que procuravam uma desculpa para problemas de seus filhos. Ele pediu desculpas aos pais de autistas)

Mesmo que acertem numa piada ou outra – especialmente Bastos, que já provou ter mais talento que Gentili -, eles ainda estão longe dos comediantes inteligentes e ousados o suficiente para brincar com religião e racismo e, ao mesmo tempo, lançar ataques ácidos contra o preconceito e a intolerância (confira lista abaixo).

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Fazer piadas com famosos é parte do ofício do humorista – e dos próprios famosos. Estão aí Silvio Santos e Lula, e seus milhares de imitadores, para provar. Mas, quando a piada se limita a dizer que fulana é feia ou que sicrana é “otária”, é de se perguntar se é de fato piada, já que não tem graça, ou mera grosseria. Os comediantes do stand-up-bullying usam com frequência do exédiente para atrair fãs (vide as batatadas ao lado). Os textos falham em sua proposta de ser piada e os artistas do humor são criticados. E se defendem acusando o público de careta.

“O politicamente correto está virando uma ótima desculpa para humorista ruim. Qual dessas últimas polêmicas se deu em torno de uma piada realmente aproveitável?”, questiona o cartunista Arnaldo Branco. “Quando a Sarah Silverman fala que sente pena das crianças etíopes subnutridas (mas com barrigões de vermes) porque são crianças de um ano grávidas de nove meses, ela está fazendo um personagem idiota para criar um jogo de palavras e uma associação de ideias inteligente. Você ri no limite do prazer culpado. Os nossos amigos stand ups não trabalham com camadas, na hora de imitar seus colegas gringos acham que só precisam de um microfone, uma roupa casual e as bobagens que entendem por insight.”

Para se divertir com piadas de qualidade, confira uma breve seleção de comediantes que se valeram da liberdade de expressão e da ousadia para boas apresentações.

(Colaborou Rodrigo Levino)

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