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Pedro Almodóvar faz drama sóbrio sobre as perdas da vida em ‘Julieta’

Filme cheio de emoções reprimidas e coisas não ditas mostra a mesma mulher em duas fases diferentes

Por Mariane Morisawa, de Cannes
17 Maio 2016, 08h49

Em seu vigésimo filme, Julieta, que teve exibição para a imprensa na manhã desta terça-feira, dentro da competição do 69º Festival de Cannes, Pedro Almodóvar fala de culpa, da ausência da despedida e de fatalidade. “Para mim, este filme não é um melodrama ou um ‘almodrama’, como meu trabalho já foi definido. Quis fazer um drama sóbrio e contido”, disse o cineasta espanhol na entrevista coletiva após a sessão. “Nos meus melodramas, há muitas canções, as pessoas não ocultam seus sentimentos.” Realmente, não é o caso aqui. Julieta é cheio de emoções reprimidas, de coisas não ditas, que passam longe do tom derramado mais comumente relacionado ao diretor.

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Almodóvar estava bem-humorado e falante na entrevista coletiva que se seguiu ao longa, mesmo quando, para desespero do mediador, foi indagado sobre a presença de seu nome e de seu irmão Agustín nos Papéis do Panamá – ou Panama Papers, lista de pessoas com contas em paraísos fiscais, que inclui também políticos importantes. “Se fôssemos um filme, seríamos figurantes sem falas”, afirmou. “Somos alguns dos menos importantes. Mas a imprensa espanhola nos tratou como se fôssemos protagonistas. Nem sabemos direito o que era porque não se investigou. De qualquer maneira, isso não impediu que você assistisse a esse filme e nem que gostasse dele. Espero que seja assim com o resto do público.” Julieta tem data de estreia prevista no Brasil para 23 de junho.

Adriana Ugarte e Emma Suárez são a mesma mulher na juventude e na idade madura, quando ela já está abatida pelas perdas que teve na vida. O diretor se baseou em três contos da canadense Alice Munro, publicados no volume A Fugitiva. A ideia era rodar nos Estados Unidos, mas Almodóvar não se sentiu suficientemente confiante. “Sou muito pouco fiel quando adapto o trabalho de alguém. Fora que uma família americana ou canadense não é a mesma coisa de uma família espanhola. Nos Estados Unidos, a mãe espera o rompimento do vínculo. Na Espanha, nunca fazemos isso.”

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Ele se encantou com a obra também por seus mistérios. “Quando termino de ler Alice Munro, parece que sei menos do que antes.” Julieta é um filme de mistério, mas não é uma investigação sobre quem matou e sim sobre uma pessoa. Não faltam elementos hitchcockianos, a começar pelas cenas dentro de um trem, que fazem lembrar de Pacto Sinistro (1951). Rossy de Palma, que trabalhou várias vezes com o diretor, aparece como uma empregada bisbilhoteira e sinistra, uma personagem saída de um longa do mestre do suspense – com um toque de Almodóvar, claro.

Como sempre, o cineasta mergulha no universo feminino. “Mas essa mãe, na comparação com as outras mãe dos meus outros filmes, é a mais vulnerável, com menos capacidade de luta. Ela tem uma desesperada resistência passiva, se é que isso é possível. As outras mães dos meus filmes são poderosas. Julieta vai perdendo a força. Em dado momento, é uma espécie de zumbi que caminha pelas ruas”, disse. “A personagem começa aberta à aventura. O tempo e as circunstâncias a tratam muito mal. A fatalidade é muito presente. Não são coisas enormes que ela faz errado. Mas a vida a trata muito mal. É um drama trágico.”

Almodóvar provocou risos ao falar da possibilidade de uma biografia, escrita ou cinematográfica. “Vocês, que são jornalistas do futuro, jamais permitam uma cinebiografia sobre mim. Minha vida está nesses vinte filmes”, disse. O espanhol se declarou preocupado com a passagem do tempo. “O escritor americano Philip Roth disse: ‘A velhice não é uma doença, mas um massacre’. É assim que sinto a passagem do tempo. Nunca poderia ter feito este filme antes de agora, quando tenho 67 anos. Não sou nostálgico. Mas tenho de tomar decisões baseadas na minha saúde. E isso pesa. Essa sensação impregna as obras que estou fazendo nesta época da minha vida.”

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