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‘Pavarotti’: uma vida tamanho GG

O documentário de Ron Howard mostra a importância do tenor italiano na popularização da ópera — e ilumina sua personalidade expansiva

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 out 2019, 14h50 - Publicado em 18 out 2019, 06h00

A expressão inglesa larger than life (maior que a vida, em português) normalmente é usada para definir pessoas cujo lado lendário se sobrepõe aos feitos da vida real — ainda que as realizações tenham sido espetaculares. Luciano Pavarotti (1935-2007) é um desses casos. O tenor italiano foi o maior nome da ópera depois de Enrico Caruso (1873-1921). Vendeu mais de 100 milhões de discos e realizou proezas notáveis, como os nove dós de peito consecutivos numa ária da ópera A Filha do Regimento, de Donizetti. O público em geral se lembra mais da figura fofa e bonachona que cantava trechos de ópera e canções folclóricas italianas no projeto Os Três Tenores (com Plácido Domingo e José Carreras, regidos pelo arroz de festa Zubin Mehta), além de fazer parcerias com figurinhas pop como Bono. Pois o documentário Pavarotti (Estados Unidos, 2019; já em cartaz no país), de Ron Howard, ilumina um grande mérito dessa estrela que às vezes é ofuscada por sua persona: deve-­se a Pavarotti a façanha de levar a ópera às camadas populares de cada canto do planeta. E ele fazia isso sem cair no barateamento constrangedor do violinista holandês André Rieu nem no repertório xaroposo do italiano Andrea Bocelli.

Pavarotti é produzido pela gravadora do tenor e autorizado por sua família. Como Howard, embora competente, também nunca foi um cineasta afeito a controvérsias, não se deve esperar um retrato capaz de devassar as contradições do personagem, dos rasgos de fúria a seu lado prima-­dona. Mas ele faz a lição de casa direitinho ao rever os passos do tenor. Pavarotti nasceu em Modena, na Emilia-Romagna, durante a II Guerra Mundial (num dos momentos mais pungentes, ele conta que era comum deparar com pessoas enforcadas nas ruas da cidade). Filho de um padeiro, cantou no coral da igreja local para depois estudar canto.

Numa das poucas críticas ao personagem, Anne Midgette, do jornal Washington Post, ressalta a perda do interesse do tenor por sua arte a certa altura da vida. De fato, quando Pavarotti atingiu o topo, ele trocou as casas de ópera por cassinos, ginásios e estádios, onde se conformava em cantar trechos de óperas em troca de cachês astronômicos. Mesmo nessa fase de acomodação, às vezes tinha lances geniais. Em 1995, foi à selva brasileira para conhecer o Teatro Amazonas, em Manaus, apenas porque seu ídolo Caruso tinha se apresentado lá. De repente, brindou os poucos presentes com uma ária.

Pavarotti era um sedutor. Casado com Adua Veroni, a principal provedora do casal em seus primeiros anos de carreira, ele traiu a mulher com uma assistente e depois com a jovem Nicoletta Mantovani, 35 anos mais nova. Flagrado aos beijos no Caribe, ele então se divorciou e foi repudiado pelas três filhas. Mas à beira da morte, com câncer, foi visitado pela ex, que preparou seu espaguete predileto. Impossível resistir a um homem daquela envergadura.

Publicado em VEJA de 23 de outubro de 2019, edição nº 2657

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