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‘Oito Mulheres e um Segredo’: trocam-se os anéis, ficam os dedos

Elenco feminino traz pouca novidade a ‘Ocean’s’, já que o roteiro segue a fórmula da franquia – e por outro lado prova que diversidade não é empecilho

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 jun 2018, 12h35 - Publicado em 7 jun 2018, 12h37

Em uma era de feminismo forte e de reboots e spin-offs em profusão, vide Star Wars e o incansável universo Marvel, nada parece mais natural que uma franquia famosa por seu numeroso elenco masculino ganhar uma versão feminina. Mais feminina que feminista, de fato. Em cartaz a partir desta quinta-feira, Oito Mulheres e um Segredo, episódio derivado da série iniciada em 2001 por Onze Homens e um Segredo, longa de Steven Soderbergh com George Clooney e Brad Pitt à frente, traz uma provocação ou outra, mas, de modo geral, é um filme engraçadinho que se conforma à fórmula criada e consolidada pelos que o inspiraram. No chavão dos críticos de cinema americanos, que agora curtem o calor, é um filme de verão.

Aqui, a dupla estelar no comando do elenco é formada por Cate Blachett e Sandra Bullock, de quem partiu a ideia do projeto – ela foi bater à porta de George Clooney para pedir a bênção do ator para viver a versão de saias de seu personagem, o charmoso malandro Danny Ocean. Mais que versão: Sandra faz a irmã de Danny, a também vigarista Debbie, que surge já na primeira cena do filme, bem maquiadinha na prisão, enquanto tenta convencer um oficial de que merece a liberdade convencional porque, transformada pela experiência do cárcere, deseja ter uma “vida simples”.

Simples é o adjetivo que Debbie deixa para trás, com a roupa laranja de detenta, ao sair da penitenciária Nichols – nome de uma das mais carismáticas personagens da série Orange Is the New Black, da Netflix. A primeira coisa que ela faz, antes de encontrar a parceria de crimes Lou (Cate Blanchet), é tomar um banho de loja – e de espuma, na banheira de uma luxuosa suíte de hotel; quem pensou na palavra estereótipo não está muito longe da verdade. De golpe em golpe, o roteiro flui em um ritmo de novela de João Emanuel Carneiro e faz pensar que furtar e enrolar os outros é a maior moleza.

Nada dá errado até o clímax do longa, quando já se contam mais ou menos 70% do filme, regra formulaica da construção de roteiros: até aí, Debbie e Lou vão estruturando o plano de roubar um colar de diamantes avaliado em 150 milhões de dólares durante o tradicional baile de gala do Met, o clássico museu nova-iorquino, e para isso vão recrutando outras parceiras. Assim, entram na jogada a decadente estilista Rose Weil (Helena Bonham Carter, repisando o estereótipo de si mesma), a hacker Nine Ball (Rihanna), a dona de casa e gatuna Tammy (Sarah Paulson), a ladra de dedos ágeis (Constance / Awkwafina) e a ourives Amita (Mindy Kaling).

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A quadrilha é completada pela atriz (e clichê de celebridade hollywoodiana) Daphne Kluger (Anne Hathaway), que embarca no plano quase sem querer. Vestida “como uma Barbie” – referência ao filme que Anne fará – por Rose Weil para o baile do Met, ela é o veículo para o grupo colocar as mãos no super colar da Cartier. Merchandising, aliás, é o que não falta no filme, que exibe de marca de cerveja a achocolatado. Afinal, é Daphne quem estará com as joias ao pescoço no momento do roubo.

As cutucadas, digamos, engajadas do roteiro – que são poucas, mas ao menos não são panfletárias – se dão nessa videoclípica estruturação do plano do roubo, que conta ainda com uma vingança de Debbie contra um ex-namorado, Claude Becker (Richard Armitage), o dedo-duro que a pôs na cadeia.

Em certo momento, as parcerias Lou e Debbie sentem falta de alguém que roube sem se fazer notar. Lou sugere um homem, e Debbie rebate: precisamos ser discretas, maneira de dizer que a mulher é insignificante, ou que a sociedade é indiferente a ela.

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Outra cr��tica está embutida nos papéis que as personagens da caribenha negra Rihanna, da americana de origem oriental Awkwafina e da indo-americana Mindy Kaling assumem no Met. Rihanna em um momento surge vestida de faxineira. Awkwafina é a moça que cuida do banheiro durante a festa e Mindy Kaling lava pratos na cozinha do museu. Enquanto isso, a loira Cate Blachett assume a função de nutricionista, Sarah Paulson, de uma funcionária da glamourosa revista Vogue e Sandra Bullock, de convidada do evento que troca palavras em alemão com Heidi Klum.

Cena de ‘Oito Mulheres e Um Segredo’ (Barry Wetcher/Warner Bros)

Afora isso, o filme nada acrescenta ao debate. Parece pouco para a Hollywood pós-Harvey Weinstein. Por outro lado, ao mostrar que substituir homens por mulheres, e brancos por minorias, em um roteiro pré-definido dá no mesmo, Oito Mulheres e um Segredo prova que diversidade não é empecilho para o entretenimento e a bilheteria. Como bem demonstraram, diga-se de passagem, Mulher Maravilha e Pantera Negra.

Com a alta expectativa nas redes sociais pelo filme, o estúdio já fala em continuação. Pode ser a chance de ir além – das convenções, das poucas provocações – e fazer, quem sabe, mais do que um filme de verão.

Cena de ‘Oito Mulheres e Um Segredo’ (Barry Wetcher/Warner Bros)
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