Obra do dissidente chinês Ai Weiwei vai a leilão em Hong Kong
Venda pode ajudar artista a pagar a multa absurda de 2,3 milhões de dólares que o governo local impõe como represália às suas críticas ao regime
Uma caminhonete no formato de um cachorro galgo criado na lataria pelo artista chinês Ai Weiwei e batizada de The Dog Mobile: A Car for Francis Bacon (O Cachorro Móvel: Um Carro para Francis Bacon, em livre tradução) está entre as centenas de objetos que serão leiloados na próxima terça em Hong Kong, região administrativa especial chinesa.
A venda das peças acontece em um momento em que Weiwei, de 54 anos, volta a ser acusado de evasão fiscal e pornografia na China, que lhe cobra uma multa milionária, vista por ele como represália por sua visão política contrária à do governo chinês. Os organizadores esperam arrecadar entre 192.000 e 295.000 dólares no leilão da obra.
Segundo a casa de leilões, a caminhonete pertencia a um ocidental que morava no Japão e adquiriu o carro para passear com seu cachorro, mas o animal de estimação morreu em 2008 e o dono parou de usar o automóvel. Quando o artista conceitual chinês soube da história, ficou emocionado pela profundidade da relação entre o animal e o dono e decidiu fazer uma homenagem ao cão – além do pintor britânico Francis Bacon, citado no título da peça.
Weiwei, um dos desenhistas do Ninho de Pássaro, o estádio nacional de Pequim, terminou o desenho do galgo em 2010 e expôs a caminhonete na Feira de Arte de Tóquio meses atrás. Takashi Seki, presidente da casa de leilões japonesa Est-Ouest que promoverá o lance, disse nesta quinta-feira à imprensa de Hong Kong que escolheu a ex-colônia britânica para vender o desenho porque seu mercado artístico é mais ativo que o de Tóquio, onde já ocorrem dois eventos por ano.
Apesar de Ai Weiwei ser um dos artistas chineses mais famosos no mundo, não é comum encontrar suas obras vanguardistas em leilões devido ao tamanho de seus desenhos e instalações, mais difíceis de vender que objetos como a caminhonete. “Suas obras incorporam o processo criativo e frequentemente o espaço onde vão ser colocadas”, explica Seki, que destaca que a arte de Ai Weiwei é pensada para desafiar as ideias do público.
O leilão da Est-Ouest, que deve durar dois dias, conta com 700 objetos no catálogo, como peças do pintor italiano Lucio Fontana que devem alcançar a quantia de até 1,6 milhão de dólares no leilão.
A prisão secreta de Ai Weiwei por 81 dias em abril foi condenada pelos governos ocidentais e grupos de direitos humanos, assim como a campanha de repressão de Pequim que prendeu centenas de dissidentes, intelectuais e advogados para evitar uma “Primavera árabe” em território chinês. O artista reuniu quase 1,3 milhão de dólares em empréstimos de 30.000 fãs para pagar a fiança da prisão por suposta evasão fiscal.
(Com agência EFE)