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O verão do pau de selfie

Para onde quer que se olhe, haverá um, dois, três, uma dezena deles - o bastão ajustável que sustenta o celular na hora da foto indefectível está em toda parte, estimulando ainda mais a mania planetária de fotografar a si mesmo

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 jan 2015, 00h01

No começo era a selfie – o ato de apontar a câmera ou o celular para si mesmo e clicar à vontade, insistindo até obter um autorretrato minimamente razoável. Depois se fez o visor frontal, recurso tecnológico que facilitou tremendamente a nova mania planetária de fotografar a si próprio. Restava um obstáculo: o tamanho do braço (e a sua presença, esticadíssimo, em quase todas as cenas). A salvação veio na forma de um bastão ajustável, com um apoio para encaixar a câmera ou o celular numa ponta e um botão conectado por bluetooth na outra. Apontou, bateu, pronto: é só pôr nas redes sociais e desfrutar a fama. Acessível e simples, o bastão, também chamado de selfie stick ou simplesmente, na tradução literal do nome em inglês, pau de selfie, é o rei do verão (e do inverno, no Hemisfério Norte). Mais do que qualquer música, qualquer dancinha, qualquer adereço, é ele que está por toda parte – da lista da revista Time das melhores invenções de 2014 aos onipresentes memes, as gozações virtuais que consagram e disseminam modismos.

Nas areias da orla do Rio de Janeiro, o vendedor Ricardo do Amaral, 32 anos, é testemunha e beneficiário do sucesso do bastão. Todo dia, coloca dez unidades na mochila e, depois de percorrer as praias da Zona Sul, volta para casa de bolsa vazia. Na semana do réveillon, extrapolou: vendeu 160. “Minha renda aumentou 100% em comparação com a que eu tinha quando vendia fones de ouvido”, comemora Amaral, que diz comprar de fornecedores de confiança por 35 reais e repassar por 60. “O pessoal acha até barato”, diz. E é mesmo, diante dos 250 reais cobrados por um selfie stick da australiana Kaiser Baas, a única marca a homologar o produto junto à Anatel (por ser acionado por bluetooth, o pau de selfie pode ser considerado aparelho de telecomunicação). Aproveitando o sol com a namorada, Luana Gonçalves, na Praia do Arpoador, na semana passada, Lucas Rodrigo, de Natal, no Rio Grande do Norte, conta que a primeira coisa que fez ao chegar ao Rio foi comprar dois bastões. Um para si mesmo e o outro para o pai, que “ama tirar fotos dele mesmo”.

AMIGO DOS FAMOSOS - Sharapova e a meninada na Austrália, Bieber na farra e Medina nas férias no Rio: uma imagem na cabeça e um bastão na mão
AMIGO DOS FAMOSOS – Sharapova e a meninada na Austrália, Bieber na farra e Medina nas férias no Rio: uma imagem na cabeça e um bastão na mão (VEJA)

​Os primeiros a aderir foram os fãs da GoPro, a câmera digital que faz fotos e filmes, em qualquer ângulo, até debaixo d’água. Uma beleza – mas que graça tinha se as fotos do dono, feitas pelo dono, eram limitadas pelo comprimento do braço e quase não mostravam a paisagem ao redor? Por isso, quando o bastão apareceu, a adesão foi maciça. Mas, como o apetrecho era caro, espalhou-se primeiro entre celebridades. Justin Bieber, Beyoncé e o jogador Ronaldo adoram postar no Instagram retratos obtidos com o bastão. O sertanejo Gusttavo Lima, em foto amplamente reproduzida, fez questão da distância extra ao tirar uma selfie na frente de um jatinho. O surfista campeão Gabriel Medina, de férias após vencer o campeonato mundial, clicou-se com amigos na piscina de um hotel de luxo em Ipanema. E só a engenhoca conseguiria abranger boa parte dos 380 boleiros adolescentes loucos para aparecer na foto (clicada pelo tenista australiano Thanasi Kokkinakis) com a russa Maria Sharapova na apresentação do Aberto da Austrália, que começa na semana que vem. Mas a ubiquidade do dispositivo aconteceu mesmo no ano passado, quando surgiram cópias com o novo tipo de encaixe, adaptado ao celular. Comprovou-se, então, que haviam nascido um para o outro.

Muito bom, diga-se, quase nunca fica, mas seguir algumas dicas melhora o resultado final das selfies. Os fotógrafos recomendam que a foto seja tirada de manhã cedo ou no fim da tarde, aproveitando a luz mais favorável, e sempre de cima para baixo, o melhor ângulo para esse tipo de câmera. Pouca gente, porém, presta atenção nesses detalhes, já que o que interessa mesmo é postar rapidamente nas redes sociais. “Minha foto com mais curtidas até agora foi tirada com ele”, diz o potiguar Lucas Rodrigo. O risco da onda de cliques incessantes é empurrar o apetrecho para o outro lado do espectro da popularidade – aquele em que o objeto, de tão disseminado, deixa de ser bacana para se tornar cafona. Quem é cool já torce o nariz e apelidou o pau de selfie de “pochete dos eletrônicos”. Por isso, embora encantadas com o brinquedinho, quatro amigas bonitas e descoladas que repartiam um bastão na Praia de Ipanema na semana passada – a colombiana Laura Chaves, 21, a alemã Maike Anni, 19, e duas moradoras do Rio, Maria Calvet, 20, e Catherine Egger, 19 – tentavam demonstrar comedimento. “Só uso para fotos de lugares bonitos. Em festa, tenho vergonha”, diz Catherine.

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Na opinião da professora de etiqueta Manuella Machado, comedimento é a palavra de ordem no uso do pau de selfie. Ela ensina que sacá-lo em teatros, restaurantes ou espaços lotados, nem pensar. “É deselegante e até inconveniente quando a foto inclui pessoas que nem percebem que estão sendo enquadradas.” Manuella prevê, inclusive, arrependimentos futuros. “Vai ter gente pensando: por que tirei uma foto assim?” Pode ser, mas vai demorar: o encanto geral com o autorretrato instantâneo e seu fiel aliado, o pau de selfie, só tende a aumentar. Primeiro, porque cada vez mais gente tem celular com recursos variados. No fim de 2014, 51% dos celulares no Brasil eram smartphones; a expectativa é que neste ano o total chegue a 70%. Depois, porque as imagens devem melhorar: segundo a consultoria de tecnologia IDC, em 2015 vão chegar ao país pelo menos cinco novos modelos de smartphone com câmera frontal de melhor qualidade. Que o pau de selfie seja eterno enquanto dure.

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