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O velho Forró conquista seguidores entre a classe média urbana

Jovens dos grandes centros formam comunidade dedicada ao estilo difundido a partir do Nordeste há mais de cinquenta anos

Por Adriana Caitano
13 dez 2010, 10h52

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O que você seria capaz de fazer por amor à música que gosta de ouvir? Enfrentaria 20 horas de estrada quatro vezes ao ano para ir a um lugar onde pudesse escutá-la durante uma semana, o dia todo? Deixaria de lado amigos que não compartilham do seu gosto? Gastaria todo o seu salário em shows e discos de vinil antigos? Tatuaria a sua paixão no corpo? Pode parecer loucura de algum amante do rock – vide as tatuagens de fãs de Paul McCartney e Lou Reed -, mas ações como essas são praticadas em nome de um ritmo genuinamente brasileiro: o forró. Nos últimos dez anos, longe da TV e das agendas dos produtores de grandes shows, jovens universitários espalhados pelo Brasil – e até fora dele – criaram uma comunidade capaz de excessos pelo gênero consagrado por Luiz Gonzaga (1912-1989). E nesta segunda, data do aniversário de Gonzagão, voltam a arriscar passos para comemorar o Dia Nacional do Forró, criado em 2005.

Não se trata do forró universitário, aquele que esteve na onda nos anos 1990 (leia mais abaixo). Aqui, o altar é armado para o autêntico forró pé-de-serra – nome que remete a arrasta-pés como aqueles de que Gonzaga tomou parte no sertão, ao pé de uma serra. O legado do ídolo tem uma fórmula simples: sanfona, triângulo e zabumba. É o que basta para garantir horas e horas de animação. Uns curtem o show de perto, pulando e cantando – sim, eles sabem de cor letras de músicas criadas cinquenta anos atrás. Mas a maioria também dança. As meninas vestem saia rodada, sapatilha ou sandália rasteira – salto alto aqui é contra a etiqueta. Os meninos, bermuda e chinelo. Testa com testa, barrigas encostadas, corpos abraçados, rodopiam a noite inteira. Engana-se quem pensa que são todos nordestinos. Boa parte dos seguidores do forró sequer conhece o Nordeste ou tem ligação com ele. São paulistas, cariocas, mineiros, curitibanos, brasilienses e capixabas que descobriram o ritmo difundido ainda antes de nascerem. Poucos chegaram a ver Gonzaga vivo, mas o têm como mestre absoluto. Até de santo ele é chamado.

Os festivais – Não há meio termo. Quem entra na dança entra de cabeça. Ir ao forró duas, três vezes por semana é pouco. Ouvir forró em casa, no trabalho e no carro também é pouco. À semelhança de drogas estimulantes, o ritmo causa uma espécie de dependência. Para se satisfazer, seus adeptos criaram festivais, quase sempre em sítios afastados dos centros urbanos. Há pelo menos cinco grandes eventos por ano, com nomes que lembram o purismo dos adoradores do chamado forró pé-de-serra, o mais tradicional: o Rio Roots, no Rio de Janeiro; o Rootstock, em São Paulo; o Brasil Roots, no Espírito Santo; o mineiro Minas Roots, e o brasiliense Cerrado Roots. Roots é o plural da palavra inglesa root, que significa raiz. O termo também serve às acomodações dos festivais, onde todos acampam em barracas, dividindo banheiros e passos de dança.

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Além dos cinco festivais citados, há aquele que talvez seja o mais representativo do gênero no país, o Festival Nacional de Forró de Itaúnas, vila capixaba conhecida como a Meca do forró. Criado em 2000, o evento tem caráter competitivo e busca revelar talentos do estilo. Durante dez dias, jovens do país inteiro ocupam as pousadas do local – e forrozeiro que se preze tem de ir pelo menos uma vez a Itaúnas – para assistir aos shows ou dançar forró na praia, nos bares, nas padarias e no meio da rua.

O grupo de forró Falamansa
O grupo de forró Falamansa (VEJA)

Origem – A maioria chegou ao forró nos anos 1990, levada pela onda do chamado forró universitário. O Trio Virgulino, composto por três pernambucanos, foi o precursor da moda. “Nós começamos fazendo shows do jeito tradicional para os estudantes da USP (Universidade de São Paulo). O público foi aumentando até não caber mais. Então, alguém viu potencial financeiro naquele público e criou o termo forró universitário para atrair mais gente”, conta Enoque Virgulino, sanfoneiro e vocalista do trio, que já tem 30 anos de estrada. O estilo ganhou maior visibilidade quando três jovens paulistas convidaram um sanfoneiro nordestino e pularam com ele da plateia para o palco, criando o grupo Falamansa. Além de tocar os forrós antigos, a banda salpicou o ritmo com toques de reggae e letras urbanas que – diferentemente das nordestinas, que tratavam de seca – falavam de alegria, amores bem resolvidos e consciência ecológica. O grupo foi um estouro, reuniu multidões e vendeu mais de 2 milhões de discos. E segue fazendo shows.

Muitos dos que conheceram o forró a partir da leitura urbana do Falamansa ficaram curiosos para saber de onde vinha aquilo. Começaram a comprar discos de vinil e a pesquisar a história de Luiz Gonzaga e outros mestres do ritmo como Dominguinhos, que comemora o resgate. “São jovens que cresceram pesquisando forró na internet e estão levando o meu legado adiante.”

Dominguinhos, herdeiro de Gonzagão
Dominguinhos, herdeiro de Gonzagão (VEJA)
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Enquanto ouviam os mestres, os próprios jovens foram criando suas músicas e formando seus trios. Influenciado pelo que ouvia de um tio sanfoneiro, Danilo Ramalho uniu-se aos dois irmãos – um deles mais tarde substituído por um amigo – e montou o Trio Dona Zefa. Saído de Campinas (SP), o trio conquistou o primeiro lugar do Festival de Itaúnas, em 2006, e ganhou o mundo. Em 2009, fez uma turnê de 15 shows por quatro países da Europa – Itália, Portugal, Inglaterra e Alemanha -, para onde deve voltar em 2011. “Além de brasileiros, havia estrangeiros na plateia que cantavam nossas músicas sem nem entender”, relata Danilo.

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