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“O racismo é demoníaco”

Líder de uma trupe de teatro evangélica, explica o que o levou a abordar o preconceito no meio religioso na peça 'Rua Azusa', vista por 20.000 pessoas

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 mar 2019, 16h36 - Publicado em 1 mar 2019, 07h00

O que inspirou a nova peça de seu grupo teatral, a Cia Jeová Nissi? Estava lendo o livro Azusa — A História do Avivamento, de Frank Bartleman, e descobri que William Seymour, líder do movimento que deu origem a igrejas como a Assembleia de Deus, ficava no corredor da escola bíblica, pois era negro e não podia entrar na sala com brancos. Chocado, mergulhei na história da segregação americana e percebi que esse era o caminho correto da trama.

Racismo é um tema debatido entre evangélicos? Não é. O racismo é velado. Temos um elenco de 47 pessoas, e mais da metade é negra. Durante o laboratório, conheci histórias como a de uma atriz que, cansada de alisar o cabelo, decidiu assumir o black. Ela ouviu do pastor que seu cabelo “era bonito antes”, e ele perguntou se não tinha como voltar ao jeito liso para cantar no púlpito. Um ator de 12 anos contou, emocionado, que já foi chamado de “macaquinho encardido” por outros meninos.

Por que se fala pouco disso? Existe o tabu de que somos todos iguais perante Deus. Mas, na prática, não funciona assim. Creio que o racismo é uma prisão espiritual, é demoníaco.

Em que sentido? O racismo é um ódio que não tem sentido natural. Nos Estados Unidos, religiosos escravizavam usando o nome de Deus para justificar seus atos. Falavam que os negros eram descendentes de Caim, filho amaldiçoado de Adão e Eva. Essa força do mal é usada contra os negros. Mas quem acha que é melhor que o outro vai contra os ensinamentos de Jesus.

Antes da peça, o senhor já percebia esse racismo entre os evangélicos? Isso me passou batido muitas vezes. Meu avô era negro. Ele me criou. E, por ser branco, eu me acostumei a ouvir coisas como: “Seu avô é um macaco”, “Como você pode ser filho de preto?”, “O senhor não pode entrar com ele no consultório. Só o pai pode entrar”. Meu irmão, que é filho de pai negro, também motivava comentários do tipo: “Vocês são irmãos? Mas seu cabelo é bom e o dele é duro”. Hoje sei como essas falas machucam.

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As sessões lotadas desde a estreia significam que o público captou sua mensagem? Sim, pois temos ouvido histórias de pessoas que passaram a refletir sobre o assunto. Entenderam que Deus ensina “ame o próximo como a si mesmo”, e não “odeie o próximo”. Aos olhos de Deus, não há diferenças.

Publicado em VEJA de 6 de março de 2019, edição nº 2624

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