O pop descomplicado do Nada Surf volta a SP
"Vamos tocar muitas músicas novas, mas sem deixar hits de fora", diz baterista Ira Elliot
Formada em 1992, a banda Nada Surf hoje pode se dar ao luxo de ser totalmente independente, e funcionar muito bem assim. Mas apenas hoje. Ao longo da carreira, o grupo sofreu vários baques: trocas de gravadoras, audições catastróficas e lançamentos que nunca alcançaram as FMs. Coisa que, aliás, já fez o grupo ser considerado “one hit wonder”, banda de uma única música de impacto – no caso, a faixa Popular, de 1996, que tocou à exaustão na MTV na época. Comemorando 20 anos, o grupo tem muito a celebrar: o seu primeiro disco de inéditas desde 2008, The Stars Are Indifferent to Astronomy, e a volta ao Brasil após oito anos para cinco shows.
Stars, o disco novo, é um álbum que honra a qualidade do grupo. Antes dele, a banda tentou enganar a sede do público com If I Had a Hi-Fi, CD de 2010 composto só de músicas cover, que não se saiu muito bem nem entre os fãs nem entre a crítica. Mas o grupo está acostumado a fracassar e nem por isso desistir. A banda chegou a pensar em parar em 1999, quando foi abandonada por sua gravadora, a Elektra, e passou três anos em hiato.
Durante essa pausa, que durou até 2002, quase todos os integrantes do grupo trabalharam em empregos normais. O vocalista Matthew Caws colocou os conhecimentos musicais à prova como vendedor de uma loja de discos e o baixista Daniel Lorca partiu para a computação. Só o baterista Ira Elliot continuou gravando com outros artistas.
Mesmo com todas as dificuldades – ou talvez exatamente por causa delas -, a banda conseguiu construir uma sólida base de fãs, que sabe muito bem o que esperar de um disco do conjunto: boas músicas pop, sem invencionices nem modismos. E é exatamente isso o que Stars entrega. “Estamos apaixonados pelo novo disco, afinal, álbuns novos são como novas namoradas, e você quer mostrar sua nova garota para todo mundo. Mas, em suma, ele é bem parecido com nossos trabalhos antigos”, resume Ira Elliot.
Leia abaixo a entrevista com o baterista do Nada Surf, que toca em São Paulo nesta quarta-feira, no Cine Joia. O grupo se apresenta ainda no dia 28 em Curitiba, no Music Hall; no dia 29 em Florianópolis, no John Bull; no dia 2 de maio no Rio, no Circo Voador; no dia 4 no festival Se Rasgum, em Belém; e no dia 5 em Fortaleza, no Órbita Bar.
Vocês estiveram aqui em 2004. Do que se lembram dessa visita? Fizemos alguns shows e ficamos impressionados com o público. Todo mundo conhecia e cantava nossas letras. Também passeamos um pouco por São Paulo e pelo Rio, lembro que gostamos bastante das cidades.
O último trabalho de vocês foi um disco de covers, If I Had a Hi-Fi. Mas o público não gostou muito dele, né? Não… Na verdade, nós não tínhamos músicas novas para gravar, porque estávamos nessa de compor e fazer turnê há tanto tempo, que queríamos um tempo para nós mesmos. Nesse sentido, gravar um disco de covers é mais fácil, e o processo todo foi muito simples e aberto. Desculpem a demora! Espero que gostem do novo CD.
O que você destaca nesse novo disco? Estamos apaixonados por ele. Álbuns novos são como novas namoradas. Você quer mostrar sua nova garota para todos seus amigos, e é mais ou menos assim com o disco também (risos). Ele é bem parecido com nossos antigos trabalhos, porque conhecemos nossos fãs e sabemos que eles gostam do nosso som exatamente como é, então não precisamos nos descabelar e fazer algo diferente toda vez. Não temos essa necessidade e estamos numa posição confortável agora. Foi muito rápido gravar. Acho que gravamos tudo em apenas cinco dias. Matt escreveu as melodias e nós três trabalhamos nelas juntos.
Como será o repertório dos shows no Brasil? Muitos hits? Queremos tocar as músicas novas, claro, acho que 70% do repertório será baseado nele. Mas os fãs querem ouvir as canções que eles amam dos primeiros álbuns também, então vamos incluir algumas.