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O agronegócio alimenta o crescimento da moda

Compradores de regiões do Paraná, interior de São Paulo, Mato Grosso e Goiás inflam as vendas das semanas de moda, com exigência de qualidade e mirando em grifes top

Por Roni Filgueiras, do Rio de Janeiro
10 nov 2012, 14h40

“A segunda geração de fazendeiros, que ficou bilionária com o agronegócio, tem cultura de moda, sabe quais são as grandes grifes. O que se consome aqui é o que foi lançado quase simultaneamente na Europa”, avalia Valdir Macagnam Júnior

À primeira vista, pode ser difícil enxergar algum glamour nas lavouras de soja, milho e café, no gado nelore ou no agronegócio como um todo. Mas esses segmentos da economia nunca foram tão in, como já descobriram estilistas, fabricantes e quem transita além das passarelas nas semanas de moda no Brasil. “O volume de vendas nos municípios do agronegócio, nos últimos quatro anos, aumentou em torno de 40%, cresceram mais do que todas as outras regiões do país”, calcula Eloysa Simão, diretora geral do Fashion Business, plataforma de negócio que está em sua 21ª edição. “O Mato Grosso teve um crescimento em três anos espantoso no consumo também em decoração”, lembra Eloysa.

Bom para o consumidor dessas regiões. Mas melhor ainda para quem cria e vende as coleções. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás são os maiores produtores de grãos do país. Só em Mato Grosso estão 24 municípios dos 100 maiores PIBs do setor agropecuário nacional, que somam 26,4 bilhões de reais/ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O agronegócio estimula também a criação de postos de trabalho induzido, aqueles ligados ao consumo das famílias, como a moda.

“Há um aumento expressivo nas últimas temporadas dos compradores das regiões do agronegócio, como Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Goiás”, confirma Fernanda Reich, responsável pelo Projeto Comprador, que coordena a vinda de lojistas de outros estados para o Rio-à-Porter, salão de moda e design do Fashion Rio, que encerrou sua 22ª edição nesta sexta-feira. No Centro-Oeste, um fator determinante da venda de multimarcas de luxo, segundo Fernanda, são as feiras de gado, que aquecem o mercado. Nesses eventos, verdadeiras passarelas, as grifes são os sinais externos de opulência e poder.

“A segunda geração de fazendeiros, que ficou bilionária com o agronegócio, tem cultura de moda, sabe quais são as grandes grifes. O que se consome aqui é o que foi lançado quase simultaneamente na Europa”, avalia Valdir Macagnam Júnior, dono das multimarcas Gio e Contágio, além das franquias Triton, Zoomp, M Officer, Forum. Ele e os dois irmãos vieram com os pais de Santa Catarina e herdaram o negócio fundado pela mãe, em 1979.

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Formado em Ciência da Computação pela Uerj, 47 anos, casado e pai de dois filhos, Valdir assistiu a uma rápida evolução do perfil de seu cliente. “Moda é estilo de vida. Hoje quem está com 50 anos quer aparentar ter 30, e os 30 anos viraram os 20”, diz ele, que para agradar aos cerca de 10 mil clientes, em sua maioria entre 20 e 50 anos, investe em grifes como Lacoste, Bob Store, Calvin Klein, M Officer, VR, Armani Jeans, Diesel, G Star, marca holandesa de jeans, e Hugo Boss. O esforço no garimpo compensa: cada cliente deixa nas multimarcas uma média anual de até 100 mil reais.

Geraldo Jose Z. do Prado, diretor da Casa Prado
Geraldo Jose Z. do Prado, diretor da Casa Prado (VEJA)

“Com o alto poder econômico da região, o interesse por moda aumentou”, corrobora o empresário Geraldo José Prado, à frente da Casa Prado, fundada em Cuiabá, em 1955. Com a irmã Priscila, o administrador de empresas com pós-graduação em Marketing mima o exigente público local com Ermenegildo Zegna, Polo, Ralph Lauren, Lacoste, Aramis, Dudalina e a marca própria, a CP Premium, que representa 20% do faturamento.

A decisão de compra hoje, segundo Prado, é dos homens. “Há 10 anos quem comprava a roupa era a mulher. Os homens estão mais vaidosos. Também eles chegam pedindo o que viram na novela”, descreve o empresário de 30 anos, que considera bolsas Hermes e Louis Vuitton um acessório básico do look das mulheres de fazendeiros.

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São Paulo – A muitos quilômetros do Centro-Oeste, em Sorocaba, a 95 quilômetros da capital paulista, Stefanny Corrêa inaugurou a Studio S, em outubro, de olho na sede de luxo das cidades vizinhas, como Porto Feliz, Pilar do Sul, Araçoiaba da Serra e Piedade, cujas economias se baseiam principalmente no agronegócio. Com a experiência de lojista, um diploma de Negócios de Moda e outro de Design no prestigiado Istituto Marangoni, em Milão, a jovem empresária de 21 anos investiu cerca de 190 mil reais nas instalações da loja, que tem ainda como diferencial um salão de beleza. “Três salões me convidaram para abrir uma loja em suas dependências. Mas resolvi fazer o contrário, abrir um salão dentro da minha loja”, lembra. Com todas as despesas pagas pela grife Korda, de São Paulo, para conhecer o salão Rio-à-Porter, ela já planeja o futuro de seu negócio. “Quero montar um ateliê e uma grife própria”.

Na hora de eleger que marcas estarão nas araras no inverno, as lojistas dessas regiões levam em conta informações de variadas fontes, de revistas especializadas e novelas de TV a outras lojistas e, apesar da crise de credibilidade que manchou o grupo, as blogueiras de moda. “O consumidor quer o status da marca, então, o mix de produtos dessas lojistas no Rio-à-Porter leva em consideração custo-benefício, quais as marcas em destaque na imprensa, grifes de renome e estilistas consagrados. O que uma loja escolheu, as outras também querem comprar. Mas é um mercado muito influenciado pelas blogueiras, que usam o blog para alavancar vendas na internet”, conta Fernanda Reich.

Julia Ribeiro
Julia Ribeiro (VEJA)

A empresária Julia Ribeiro é uma espécie de híbrido de lojista e herdeira de fazenda de café, gado e laranja, do Centro-Oeste, que usa as blogueiras como ferramenta para inflar os lucros. Dona há pouco mais de um ano da multimarca Atelier, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, ela atesta os bons ventos do consumo na região. “Meu negócio cresceu em 50% em volume de vendas”. Índice alcançado em boa parte graças às redes sociais. Ela descobriu por acaso o potencial do aplicativo Instagram, espécie de rede social em que os internautas publicam suas fotos favoritas. “Estava de cama em fevereiro, me recuperando de uma cirurgia, e postei umas fotos de peças da loja, foi o bastante para receber encomendas”. O que era um passatempo acabou em lucro. “Hoje, envio até dez caixas por dia com mercadorias da minha loja para clientes no Brasil inteiro”, diz a matogrossense de 29 anos.

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Ela admite que o preço de algumas marcas nacionais e internacionais são estratosféricos. “Acho a moda cara, sei quanto ganha um peão na fazenda da família”, diz a empresária, que tem no closet alguns ícones como Loboutin, Dolce & Gabbana e compra bolsas e sapatos em viagens que faz ao exterior duas vezes ao ano, quando aproveita para pesquisar tendências. “Uso McQueen, Prada, Lolita, mas sou enlouquecida mesmo pelo Valentino”. As exposições de gado são as vitrines desse luxo ostensivo. “As mulheres dos pecuaristas de Campo Grande, Londrina, Araçatuba, Uberaba querem parecer com as mineiras e paulistas. São peruas que gostam de vestir uma bota de avestruz, que custa 5.000 reais, uma calça de couro da Daslu de uns 3.000 reais, uma camisa de 700 reais e uma jaqueta de camurça por 4.000 reais, fora o solitário de 50.000 reais”, elenca. Com 90.000 fãs no Instagram, ela planeja abrir seu e-commerce o mais breve possível. “As clientes fazem de tudo para ter o look das blogueiras e isso aumentou o consumo na minha loja. Se percebo que uma peça não está vendendo bem, publico uma foto da roupa no Instagram. Por exemplo, postei uma foto da Lala (Rudge) vestindo uma saia da Lolita, uma marca bacana e marqueteira de São Paulo, e se formou uma fila na porta da loja para comprá-la”.

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