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Mostra ‘Queermuseu’ terá classificação indicativa de 14 anos no Rio

Recomendação do Ministério Público foi solicitada por associação do pastor Silas Malafaia

Por Estadão Conteúdo 10 ago 2018, 20h20

Encurtada no Santander Cultural, em Porto Alegre, e vetada do Museu de Arte do Rio no ano passado, por conter obras demonizadas por movimentos conservadores, a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira será aberta no próximo dia 18, nas Cavalariças do Parque Lage, no Rio de Janeiro, com uma recomendação para que menores de 14 anos só compareçam acompanhado dos responsáveis.

A orientação foi enviada aos organizadores da mostra nesta sexta-feira, pelo Ministério Público do Estado do Rio, por sua vez, instado pela Associação Vitória em Cristo, do pastor Silas Malafaia.

À entrada, estará um aviso que diz: “Esta exposição contém obras de arte com nudez, conteúdo sexual e uso de simbologia religiosa que poderão ofender os valores morais de alguns. Recomendamos levar isso em consideração antes de entrar no espaço expositivo. O conteúdo desta exposição não é recomendado para menores de 14 anos desacompanhados de seus pais ou responsáveis. Proibido fotografar”.

Antes de a recomendação do MP chegar, nesta tarde, a ideia da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage era alertar apenas que o conteúdo “não é sugerido para menores desacompanhados de seus pais ou responsáveis”, sem estipular a idade. Não haverá restrição à presença de crianças pequenas.

Realizada graças a uma vaquinha virtual, calcada na defesa da liberdade de expressão artística, a Queermuseu tem 223 obras de 85 artistas, entre nomes canônicos, como Volpi, Portinari, Guignard e Lygia Clark, artistas consolidados no cenário internacional, como Leonilson e Adriana Varejão, e artistas que se intitulam LGBTQ e/ou problematizam questões de gênero e diversidade sexual. Estão programados debates sobre temas afins, e uma ação educativa pela EAV foi desenhada para trazer reflexões que diminuam o preconceito contra a população LGBTQ.

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“Classificação não é censura. Existe para proteger o pequeno cidadão em desenvolvimento, e para coibir pais levianos, promíscuos e insanos. A criança não sabe discernir”, defendeu Malafaia em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. “A teoria queer foi formulada por ativistas gays e feministas para destruir os valores judaico-cristãos. Não há pureza nessa arte, é arte ideológica. Botar placa na porta não adianta”. Malafaia disse ter visto o conteúdo das obras na internet após a mostra ser encerrada antes do previsto no Santander Cultural, em setembro de 2017.

À época, movimentos conservadores divulgaram que a mostra continha “zoofilia”, “pedofilia” e “vilipêndio de imagens religiosas”. Mas o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul considerou que não havia qualquer apologia ou incentivo a essas práticas e comparou a situação à censura artística na Alemanha nazista. O MPF determinou que o Santander Cultural se redimisse programando nova exposição com temática da diversidade. No Museu de Arte do Rio, o veto foi do prefeito Marcelo Crivella (PRB), que é da Igreja Universal do Reino de Deus.

No Brasil, ainda não existe classificação indicativa para exposições de arte, apenas para obras audiovisuais (produtos para TV, cinema, vídeo, jogos). Após o episódio, o Ministério da Cultura sugeriu a inclusão de mostras na lista.

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“A gente não gostaria de classificar, mas vai acatar. O importante é a mostra abrir”, afirmou o diretor da EAV, Fabio Szwarcwald. “Tudo o que foi falado esse tempo todo foi tirando o foco da exposição. Este protagonismo na cena contra a censura é um momento muito importante para a EAV”.

A EAV é um equipamento do governo do Estado, e se mobilizou para receber a exposição com o veto de Crivella, em outubro de 2017. O secretário de Cultura do Rio, Leandro Monteiro, afirmou que não está preocupado com manifestações contrárias à mostra. “É muito interessante para o Rio ter uma exposição que desperta tanto interesse. Não trabalhamos com qualquer tipo de censura.”

A despeito da recomendação do MP, o curador da Queermuseu, Gaudêncio Fidélis, considera a abertura da mostra uma “vitória para a sociedade brasileira”. “As pessoas finalmente terão acesso a uma exposição da qual ouviram falar por terceiros, numa campanha difamatória de lideranças fascistas e fundamentalistas que lhes roubou essa oportunidade. Não houve qualquer reclamação de quem viu de fato a mostra, só de quem não viu”, diz.

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