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Moda: segunda geração

Sem desprezar as influências que recebem desde a infância, filhos de estilistas consagrados encaram o desafio de trilhar o próprio caminho na moda

Por Aline Erthal, do Rio de Janeiro
26 Maio 2012, 10h42

Niemeyer, Azulay, Lourenço, Vieira. Os sobrenomes garantem pulseirinha vip para as melhores festas. Eles são bem vestidos, educados, cosmopolitas: falam de Paris, Milão ou Dubai como quem, no Leblon, pensa em dar um pulo em Ipanema. Nasceram em berço esplêndido, mas não correm do trabalho. Filhos de estilistas que tornaram-se lendas das passarelas, eles estão empenhados em moldar o novo DNA da moda. Têm conhecimento de sobra, mas no caminho também descobrem que trilhar o próprio caminho tem seu lado doloroso. Bel Niemeyer é filha da Lenny, que dispensa apresentações. ‘It girl’ esperta, cheia de bossa e de ideias, ela não para: trabalha na equipe de estilo da Ausländer – grife que desfila no line-up principal do Fashion Rio -, desenvolve uma linha de roupas para a FYI, nova marca da Animale, e faz planos para a sua grife própria, que já tem nome: La.Bel.

Também das praias vem Sharon, filha do fundador da Blue Man e criador do mítico biquíni jeans, David Azulay. Com a morte repentina do pai, aos 56 anos, os planos de cursar psicologia ficaram para depois. Dois anos de luto se passaram até que a menina, aos 19, mergulhou no universo biquíni-casting-conta-franquia-fornecedor para tocar o negócio da família. Neste Fashion Rio, desfila a segunda coleção sob a direção de Sharon.

Já Andrea é herdeira do couro. Mas um couro tão leve que é usável mesmo sob o calor inglório do verão carioca. A mãe, Patricia Vieira, há décadas encanta nas passarelas e fora delas trabalhando o material de forma a fazê-lo maleável como um algodão. Com fidelíssimas clientes na alta roda da sociedade carioca, a experiente estilista resolveu transformar os pitacos da filha em oportunidade: abriu a Pat Pat’s, braço jovem da grife – descoladíssimo, assim como Andrea.

Fora do Rio, quem brilha é Pedro Lourenço, de 22 anos. O garoto é prodígio: assinou a primeira coleção aos 12 anos de idade, fez a primeira apresentação em Paris aos 19 e participou das duas últimas edições do São Paulo Fashion Week. Até aqui, sua moda vinha sendo muito mais internacional do que a dos outros filhos de peixe – e muito mais cara também. Agora, o filho de Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho (consagrados habituées da semana de moda paulista) anuncia novidades: lança uma linha especial para as brasileiras.

Bel – “A Bel tem um estilo muito próprio, muito pessoal. Lanço meus palpites porque sou mãe, e mãe é assim. Mas ela dá muito mais conselhos para mim do que eu para ela”. Quando fala da filha, Lenny deixa o telefone tocar mais um pouco e ergue os olhos de sua mesa, que é um mar de papéis. Para Lenny, o melhor conselho de moda que ela já deu à filha é: ousar só em uma parte da roupa. “Se usar microshort, combine com blusinha mais comportada. Se for de saia longa, pode escolher blusa mais ousada. Senão, fica vulgar”. Segundo Bel, a maior lição que aprendeu com Lenny é: não misturar peças e estilos demais. “Vai acabar mal vestida. Vejo a forma natural de minha mãe se vestir, e como ela fica sempre chique sem esforço. O charme de se vestir está em ser você mesmo, sempre sabendo que menos é mais”.

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Quem vê Sharon de bicicleta a caminho da academia ou passeando com seu poodle de incríveis 20 anos é capaz de achar que a moça nunca pisou em uma praia. A pele branquíssima camufla o DNA praiano. A filha de David Azulay é apaixonada pelo mar, cresceu nas areias e tira delas o seu sustento. Embora more perto do Pepê, na Barra da Tijuca, tem cada vez menos tempo de se bronzear: “Com a rotina de trabalho que eu tenho, fica difícil levar uma vida de geração saúde”, resmunga. Sharon está à frente da Blue Man, escoltada pelo talentoso primo estilista Thomas Azulay, e há meses prepara o desfile deste Fashion Rio, que comemorará os 40 anos da grife.

Lenny Niemeyer e Bel
Lenny Niemeyer e Bel (VEJA)

Andrea Vieira – Andrea queria fazer odontologia. Não por um apreço especial pela profissão, mas para não enlouquecer nas festas em família. “Imagina um Natal com minha mãe e Andrea Dellal (ex-modelo e figurinha badalada no jet-set internacional), Andrea Marques (estilista), Charlotte Dellal (designer de sapatos) e Alice Dellal (top model)! Só moda, moda, moda!”, ri. Os planos de seguir a carreira não vingaram, mas os três períodos que cursou da faculdade acabaram levando Dedea a reconhecer que não tinha jeito: “Nos intervalos das aulas, ia para a fábrica da minha mãe e observava tudo, dava pitacos. Ela e eu gostamos tanto que não consegui mais fugir desse mundo”.

Acabou cursando moda no Instituto Europeo di Design, em Madri, e voltou determinada. Criou a Pat Pat’s com a ideia de atender às filhas das clientes da mãe, Patricia Vieira. O trabalho com couro é a assinatura de ambas, e nesta edição do Fashion Business as duas marcas expõem suas peças e fazem vendas para o atacado. Comparações entre os trabalhos de mãe e filha são constantes. Andrea, hoje com 27 anos, conhece a responsabilidade de buscar diferenças.

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A consequência é que a Pat Pat’s tem mais liberdade para ser divertida, enquanto a Patricia Vieira mantém-se mais coerente. É uma marca para a cliente se divertir, na definição de Dedea. “Muito do nosso estilo remete ao que a minha mãe era, na juventude. As roupas têm um deboche meio anos 80, 90, aquela coisa do jovem se libertando”.

Pedro Lourenço acaba de desfilar o inverno 2013 em Paris, onde já é reconhecido pelo primor com que cada peça é desenhada e executada, a seleção apurada de materiais, o corte preciso. Não vai participar desta edição do São Paulo Fashion Week, o que causou rumores de que ele estaria preterindo o cenário nacional para se concentrar ainda mais na moda mundial. Nada disso: enquanto seus pais, Reinaldo Lourenço e Gloria Coelho, apresentarem as coleções de primavera/verão nas passarelas paulistas, ambos no dia 15 de junho, o estilista estará às voltas com sua nova linha de roupas: a Capsule, voltada exclusivamente para o mercado interno.

Não que este seja o primeiro movimento do estilista em direção ao mercado interno. Além de ter desfilado duas coleções na semana de moda de São Paulo, ele já desenvolveu roupas para uma grande rede brasileira de lojas de departamentos. Conhecedor das realidades de dentro e fora do país, não poupa críticas às condições oferecidas para a produção da moda nacional.

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