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Marina Abramovic afirma ter sido usada por Jay Z

A artista fez uma parceria com o rapper no vídeo 'Picasso Baby', em 2013, experiência que ela garante que não vai se repetir e que considerou como ‘cruel’, pois o cantor teria sido o único beneficiado

Por Da Redação
21 Maio 2015, 08h58

Foi um dos encontros mais controversos entre a cultura pop e a arte. O rapper Jay Z adaptou a performance de Marina Abramovic The Artist Is Present (A Artista Está Presente), aquela em que a artista sérvia permanecia sentada, imóvel, diante dos visitantes que chegavam para interagir com ela, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), para o clipe Picasso Baby, em 2013. Demorou, mas Marina, que acaba de realizar uma retrospectiva da carreira no Brasil, hoje diz que se arrepende de ter topado a proposta do músico. Em entrevista à revista de arte Spike Magazine realizada no Sesc Pompeia, onde esteve em cartaz, mas publicada agora, ela disse ter sido usada pelo rapper, que teria sido o único beneficiado com o clipe, já que o cantor apenas se utilizou da obra dela e não cumpriu com o combinado de, em contrapartida, ajudá-la a criar o Instituto Marina Abramovic, para o qual busca fundos.

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“Ele adaptou meu trabalho somente sob uma condição: de que ajudaria o meu instituto. Ele não fez isso”, afirmou Marina à revista de arte. “No dia anterior, ele veio ao meu escritório e eu lhe dei uma apresentação de power point sobre o meu método. Eu disse: ‘Ok, você pode me ajudar, porque eu realmente preciso de ajuda para construir o meu instituto. Em seguida, ele apenas me usou. Isso não foi justo. É muito diferente de como foi com a Lady Gaga, por exemplo, que tem feito um grande trabalho por mim. Só por ter 45 milhões de seguidores, ela trouxe todos esses jovens para perto de mim.”

Confira cenas da gravação do clipe, retirado do YouTube:

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O clipe, é preciso dizer, é controverso desde o começo. O dia em que o vídeo foi lançado foi chamado por alguns ícones da arte de “o dia em que a performance morreu”, enquanto outros relembraram casos na história de artistas contemporâneos que trabalham com músicos, incluindo a versão de Ai Weiwei para o hit Gangnam Style, de Psy, e a obra de Richard Hamilton em colaboração com os Beatles, segundo o jornal britânico The Guardian.

No clipe, Jay Z imita a performance de Marina no MoMa, sentando-se frente a frente com outras celebridades, como Jim Jarmusch e Adam Driver. “No final, ele foi o único beneficiado. Eu nunca vou fazer isso de novo, isso eu posso dizer. Eu fui realmente ingênua. Foi realmente novo para mim, e eu não tinha ideia de que isso iria acontecer. É tão cruel”, disse a artista.

Segundo a sérvia, o resultado da parceria mudou a sua forma de pensar projetos do tipo. “Minha vida não tem sido fácil. Há muito poucos artistas da minha geração que são realmente considerados como eu. Eu sou uma sobrevivente. É muito difícil me manter lá em cima o tempo todo. Eu poderia apenas fazer uma exposição no MoMA e ir para casa. Eu não preciso me aborrecer com The Artist Is Present. Eu também não preciso estar aqui em São Paulo por dois meses fazendo oficinas, fazendo oito palestras, trabalhando com essa comunidade. Eu faço isso porque eu acredito no meu trabalho. Eu me sinto responsável pela performance e pelos seus resultados.”

*Atualização, às 10h38: O Instituto Marina Abramovic divulgou um comunicado à imprensa isentando Jay Z das acusações feitas pela artista sérvia. Jeanne Greenberg Rohatyn, porta-voz da instituição, disse ter o recibo de uma “generosa doação” de Jay Z. O texto também isenta Marina, aliás, dizendo que ela não tomou conhecimento da doação, à época. Não falta muito, porém, para a artista ser acusada de mais um showzinho para ganhar popularidade.

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O começo da carreira

“Quando comecei a fazer performance, nos anos 1970, eu era como a primeira mulher a pisar na Lua. Os professores de faculdade cuspiam em mim. Meus pais se perguntavam, nas reuniões do Partido Comunista, que tipo de educação eu havia recebido, e pensavam em me internar em um hospital psiquiátrico. Por trinta anos, o que eu fiz não era arte.”

Como me tornei celebridade

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“A celebridade chegou após aquela exposição no MoMa, em 2010, em que fiquei oito horas por dia sentada em uma cadeira”, disse a artista, sobre a mostra em que, por dois meses, permaneceu sentada à disposição de quem quisesse fazer contato visual com ela, na cadeira em frente à sua. Alguns choravam. “Eu achava que precisava passar por aquela emoção e dor.”

“O curador não acreditou na proposta. ‘E se ninguém quiser se sentar?’, questionou. E as pessoas formaram fila diante do museu, algumas chegaram a dormir na porta do MoMa para conseguir entrar. Os seguranças do museu, nos dias de folga, voltavam como visitantes. Isso mostra o poder de transformação da performance.”

“Por dois meses, me desconectei do mundo e me dediquei ao museu. Quando saí dali, eu era uma celebridade.”
 

A relação com Lady Gaga

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“Mas aproveito as vantagens de ser celebridades. Uma delas é a de poder dar à performance o status de arte. Outra é a de atrair mais gente para as artes por ser conhecida. Eu fui muito criticada quando Lady Gaga me procurou para fazer o método Cleaning the House, que é de purificação do corpo. Ela sim é uma celebridade, com 45 milhões de seguidores (na verdade, já são mais de 67 milhões) no Facebook. Mas a busca dela me pareceu sincera e eu a acolhi.”

https://youtube.com/watch?v=EVY4Whayw0s

As vantagens de ser celebridade

“Lady Gaga tem 45 milhões de seguidores  (na verdade, já são mais de 67 milhões) no Facebook, seguidores que a copiam em tudo o que faz, que usam uma roupa que ela usa, que tomam droga se ela toma. E, quando veem que ela está fazendo o método Marina Abramovic e não está usando drogas, entram em contato com uma realidade da qual nunca haviam ouvido falar e passam a seguir também o meu instituto.”

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A relação com a moda

“Eu divido o mundo todo em duas categorias: pessoas originais e pessoas que seguem as outras. E gosto das originais. A minha relação com a Givenchy se deve ao Riccardo Tisci, que é um gênio original.”

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